Uma vez eu e Bené Nascimento (Joe Bennett) conversávamos sobre cinema e ele defendia que, num bom filme de aventura, era impossível aprofundar os personagens. Para provar o contrário, eu citei o filme As Montanhas da Lua, de Bob Rafelson.
O filme conta a história de Richard Burton e sua busca da fonte do Nilo, uma das descobertas científicas mais importantes do século XIX. O filme é uma grande aventura, mas o ponto alto é a relação de Burton com John Speke, que oscila entre a amizade e a inimizade, passando por uma possível relação homossexual, apenas insinuada.
Bob Rafelson foi um dos diretores que abriram caminho para a geração anos 70, que revolucionou Hollywood e a escolha do tema e do protagonista certamente não foi por acaso. Hippie, Rafelson devia se sentir entre os executivos da indústria como o revolucionário Burton na sociedade vitoriana.
Diplomata, explorador, espião, escritor e tradutor Burton foi responsável, por exemplo, por uma polêmica tradução das Mil e uma noites (com notas de rodapé sobre sexo) outro da Kama Sutra, que escandalizou a sociedade da época.
Ou seja: é um personagem que por si só vale um filme. Feito por um grande diretor como Rafelson, torna-se obrigatório.
A propósito, sobre aquela discussão, o Bené acabou concordando comigo: É possível sim fazer um grande filme de aventura e aprofundar os personagens.
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