Marquinhos ligou para a mãe no sábado.
- Tudo bem, meu filho?
Sim,
tudo bem. Marquinhos tivera uma semana cansativa, mas já estava
relaxando. Sim, estava tomando as vitaminas e se agasalhando e comendo
na hora certa (a mãe sabia que era tudo mentira, mas ouvir isso era
sempre um consolo). Por fim, Marquinhos avisou que precisava desligar.
Tinha tomado um calmante e estava com sono. Além disso, os créditos do
celular já estavam no fim.
Parecia tudo normal, mas mesmo assim a mãe não conseguia dormir. Alguma coisa estava errada, mas o quê?
No dia seguinte, acordou cedo e ligou para o filho. O telefone tocou, tocou, e nada.
- Ai meu Deus! O que está acontecendo? Calma, calma Zumira. É cedo ainda, ele não deve ter acordado. Ligo mais tarde.
Mais tarde o telefone caiu na caixa postal.
- Isso não está certo. Ele não costuma dormir tanto assim... e se aconteceu alguma coisa?
Ligou
de novo. De novo na caixa postal e dessa vez a imaginação voou mais
longe. Pensou no filho caído na cama, passando mal, sem ninguém ali, ao
lado dele. Marquinhos dissera que estava tomando um calmante? E se ele
tivesse tomado uma dose muito alta? E se tivesse dormido demais, ou
pior, se o remédio tivesse tido efeito colateral? Não, não era nada
disso, ele ligaria para ela... mas então a mãe lembrou-se do que ele
dissera: os créditos estavam acabando. Talvez ele estivesse passando mal
e não pudesse ligar por causa dos créditos.
- Ai, meu Deus, matei o meu filho!
O
pior é que não tinha o telefone de nenhum amigo de Carlinhos. Não podia
ligar para o trabalho dele. Era domingo. Decidida, entrou no carro e
pegou a estrada.
- Preciso chegar enquanto ainda dá tempo!
Dirigiu
nervosa, angustiada pelas mais pessimistas previsões. Calculou se daria
tempo de chegar antes de seu querido Marquinhos ter morrido de fome e
sede, incapaz de levantar da cama. Duas horas depois estacionou na
frente do prédio. Nem fechou o carro. Não havia tempo para essas
minúncias.
Já entrou gritando com o porteiro:
- Abra a porta do apartamento do meu filho. Ele está passando mal!
Foram o porteiro e o síndico, com uma chave mestra.
Ainda demoraram um pouquinho, pois o porteiro não sabia usar a chave. A mãe incentivava:
- Abre logo. Um minuto a mais pode ser tarde demais.
Deram com o Marquinhos sentado na poltrona, assistindo futebol, tomando cerveja e comendo salgadinhos.
Ele
estava bem. Na verdade, estava ótimo, depois de uma magnífica noite de
sono. O celular não atendia porque a bateria acabara e Marquinhos nem
percebera. O síndico e o porteiro saíram rogando pragas.
A mãe, para não perder a viagem, ralhou:
- Onde já se viu? Em plena tarde de domingo você bebendo cerveja e comendo besteira! Se não fosse a sua mãe cuidar de você...
Sem comentários:
Enviar um comentário