Os alunos superdotados
nem sempre são fáceis de se trabalhar. Para começar, é comum que, sobre alguns
assuntos, eles tenham mais informações que o professor. Se a prática pedagógica
é tradicional (em que o professor é visto como depositário de conhecimentos que
devem ser repassados aos alunos), pode haver problemas sérios, com o professor
vendo o aluno como um concorrente.
Além disso, a capacidade
de aprender antes dos outros pode tornar a aula um tédio. Quando o professor
diz A, o aluno já deduziu o B e o C, de modo que o restante da aula se torna
apenas tediosa repetição.
Pesquisadores da área
têm identificado que 20% do período de aula é desperdiçado por um aluno com QI
de 130. Ou seja, em uma aula de 50 minutos, 10 minutos é pura redundância. A
obrigatoriedade de permanecer na sala durante os 50 minutos torna o restante do
tempo um suplício para os superdotados. Além disso, os desafios propostos pela
escola costumam estar muito abaixo da capacidade desses alunos, que se torna
desestimulado. Sem estímulos cognitivos, tal alunos procurará realizar os
deveres escolares no menor tempo possível, desperdiçando o restante do tempo em
simples recreação inconseqüente. É o caso de alunos que terminam de fazer as
atividades antes do tempo e, a partir daí, começam a “fazer bagunça”,
atrapalhando os outros.
Curiosamente, é mais
fácil encontrar superdotados no “fundão” que na frente. Ao contrário do que
imagina a maioria dos professores, o aluno que se senta na frente, escreve tudo
que o mestre diz e tem um caderno bem organizado, dificilmente é superdotado.
Muitos superdotados nem mesmo fazem apontamentos em seus cadernos, pela simples
razão de que não precisam disso. Conheço casos de alunos que passaram pela
faculdade sem ter caderno.
O professor só conseguirá
o respeito do superdotado se este perceber que tem algo a aprender com ele. A
autoridade, para um superdotado, não é fruto da tradição, ou da força, mas do
conhecimento de cada um. Certa vez entrei em uma turma de primeiro ano do
ensino médio e visualizei um aluno com enorme livro do Stephen King (em inglês)
aberto sobre a carteira. Ele passou a aula inteira lendo o livro. Na sala dos professores, muitos dos meus
colegas me informaram que ele era o terror da escola, um aluno problemático e
indisciplinado. Na aula seguinte levei a ele um fanzine (publicação
alternativa) que eu havia feito no qual havia uma matéria sobre King. Na aula
seguinte lhe apresentei Edgar Alan Poe. Resultado: ele se tornou um dos meus
melhores alunos. Seus textos, que antes eram só medianos, revelaram-se de
grande qualidade literária. Antes ele não escrevia melhor porque simplesmente
achava que o exercício não exigia dele toda a sua capacidade.
Sem comentários:
Enviar um comentário