Lee Falk foi
o primeiro roteirista importante dos quadrinhos. Antes dele já existiam
outros como Dan Moore e Dashiel Hammett que, no entanto, não assinavam seus
trabalhos. Já Lee Falk era um pai coruja: Fazia questão não só de assinar suas
criações, como exigia controle total sobre elas. Uma das poucas vezes em que
ele perdeu esse controle foi quando o Fantasma passou a ser publicado no Brasil
com a cor vermelha substituindo o azul original — isso aconteceu porque a
história chegou ao Brasil sem referência de cor e o vermelho possibilitava
uma melhor reprodução para as obsoletas máquinas tupiniquins (aliás, essa mudança
de cor aconteceu em diversos países justamente pela falta de referência de
cores).
O primeiro personagem de Lee FaIk foi o mágico Mandrake, em 1934.
Desenhado por Phil Davis, Mandrake era um mágico racional, inspirado
fisicamente no próprio Falk. O personagem, sempre envolvido em aventuras
detetivescas, conquistou o público e é publicado até hoje. O grande sucesso de
Falk, entretanto, seria o personagem Fantasma, criado em 1936 e desenhado por
Ray Moore.
O que diferencia o Fantasma de outros personagens é o seu caráter de
mito. Sua história parece uma daquelas remotas lendas passadas de pai para
filho: no ano de 1525 o único sobrevivente de um ataque pirata faz um
jruamento: "Juro que dedicarei toda minha vida à tarefa de destruir
a pirataria, a ganância, a crueldade e a injustiça. E meus filhos e os filhos
de meus filhos me perpetuarão". Ele passa a usar, então, uma máscara e
roupa colante e a perseguir malfeitores. Como o
juramento valia também para seus descendentes, o povo da selva começou a
pensar que o herói era imortal. Esse aspecto da tira deu um significado maior à
história, tornando-a mitológica por excelência.
“O espírito que anda” teve o mérito de ser o primeiro
herói de quadrinhos a usar máscara e malha colada ao corpo. Nesse sentido,
todos os super-heróis devem a ele o seu visual. Na primeira história o
personagem usava também uma luva, que abandonou devido à inconveniência de
ter de tirá-la toda vez que quisesse deixar a marca do Fantasma em um
malfeitor.
O primeiro desenhista a ilustrar o
personagem foi Ray Moore. Seu traço sombrio ajudou a criar o clima de mistério
que envolve até hoje o herói mascarado.
Fantasma de
Ray Moore era atlético e sensual, com um forte toque “noir” realçado pelo sombreado
pesado. Nenhum outro artista conseguiu manter o nível de Moore, que desenhou o
personagem de 1936 a 1942.
A partir de 1942, seu assistente
Wilson McCoy pegou o personagem. A princípio, McCoy seguiu a linha de Moore,
tentando manter o nível de qualidade, mas com o tempo começou a caricaturar os
personagens dando a impressão de que as tiras eram feitas às pressas. Com a
morte de McCoy, em 61, o Fantasma passou a ser desenhado por Sy Barry, de
traço bastante impessoal. Isso deve ter ajudado para que ele tivesse uma
multidão de assistentes - que muitas vezes faziam tudo na história, tendo Sy
Barry só o trabalho de assinar, quando muito.
Em 1977 o Fantasma se casou. A
história, embora seja assinada por Sy Barry, foi desenhada pelo brasileiro
André LeBlanc, que no Brasil foi um dos principais ilustradores dos livros de
Monteiro Lobato, mas foi para os EUA, onde se tornou assistente de Will Eisner
no Spirit antes de se juntar à equipe que ilustrava o Espírito que anda.
Lee Falk sabia que os detalhes fariam
com que seu personagem ganhasse um aspecto de mito e não economizou neles, a
começar pelos apelidos que o povo da floresta dão ao personagem, tais O
Espírito-que-anda, o Homem que nunca morre, o Guardião das Trevas Orientais e
outros. Os ditados referentes ao personagem também ficaram famoso: “O Fantasma
é violento com os violentos”, “Dá medo ver o Fantasma enfurecido”, “O Fantasma
atira mais rápido que o olhar”. Os símbolos também ajudam a compor a aura do
personagem, como a caverna da caveira (local de sua moradia) e os anéis. O anel
da caveira, usado na mão direita, marca os malfeitores, enquanto na mão esquerda
fica um anel com a marca de proteção. Aqueles que têm essa marca serão sempre
protegidos pelo personagem. Outros destaques são os companheiros animais do
personagem, o lobo Capeto e cavalo branco Herói.
No Brasil o personagem fez muito sucesso nas década de 1940 e 1950,
contribuindo para que seu editor, Roberto Marinho, ficasse rico o suficiente
para montar uma emissora de TV, a Rede Globo. Atualmente, no Brasil, ele tem um
público pequeno, mas fiel. Entretanto, em outros países, como a Austrália e a
Escandinávia, ainda é o herói de quadrinhos de maior sucesso. Recentemente a
revista do personagem alcançou o número 1.500, um recorde mundial.
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