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A menina foi deixada sobre o sofá,
com Zulmira cuidando dela e os três homens seguiram Edgar até os fundos, onde
ele guardava suas ferramentas.
- Não tenho muita coisa, mas é
melhor isso do que sairmos por aí desarmados.
O ambiente era escuro e pequeno,
de modo que os três homens tinham que se espremer ali dentro. Ainda assim,
vasculharam a caixa de plástico e cada um saiu dali com algo: Jonas pegou um facão
pequeno, Edgar um martelo e Alan um pé de cabra. Levaram também outro martelo,
menor e mais manuseável, para Zulmira.
Jonas caminhava e olhava, tenso,
para o facão. Entre todos ali era o único que de fato tinha matado uma daquelas
coisas e, embora soubesse que era uma questão de sobrevivência, a consciência
lhe pesava.
- E se eles tiverem cura? – falou,
baixo.
- Hum? – perguntou Edgar.
- Nada. Só estava pensando alto.
O grupo jantou cedo o que sobrara
do almoço e se recolheu ao quarto de Edgar. Era o único local da casa que tinha
isolamento acústico e Jonas temia que o uivo da Górgona voltasse a soar.
Zu estava cansada. Tinha passado a
noite anterior vigiando a casa pelas grades, apreensiva com os zumbis. Ela se
deitou na cama e a menina Sofia e a Pimpinela se deitaram com ela. Logo estavam
dormindo. Zu roncava baixo e a menina estremecia, em pesadelos.
Os homens se sentaram no chão.
Sentiam-se cansados, mas não sabiam se conseguiriam dormir.
- Já pensou sobre o som? – indagou
Jonas.
- Você fala do uivo da górgona?
- Eu vi o que transformou as
pessoas. Eu fico pensando: que era aquilo?
- Também pensei nisso. Uma invasão
extraterrestre?
- Ou talvez algo sobrenatural,
para ter esse resultado sobre as pessoas... eu... ei, estão sentindo isso?
Jonas colocara a mão na parede.
Edgar e Alan fizeram o mesmo. Estava tremendo.
- O uivo da górgona voltou. –
deduziu Edgar.
Talvez tenham falado alto demais,
ou talvez tenha sido o tremor, o fato é que Zu acordou e olhou para os homens,
desorientada. Jonas lançou um olhar para ela e depois o direcionou na direção
da parede e ela compreendeu.
- Estamos seguros? – perguntou.
- O isolamento acústico nos
protege.
Mas era parcialmente verdade. No
fundo, podia sentir uma batida, uma espécie de tum-tum, talvez reflexo do
tremor na parede.
- Mas as coisas lá fora? Como isso
vai afetá-las? – indagou Zu.
Ficaram em silêncio nervoso. Edgar
e Jonas mantinham as mãos na parede. Depois do que pareceu um longo tempo as
tiraram:
- Parou.
Mal acabou de dizer isso, Edgar
percebeu que outra coisa estava acontecendo. Era outro tipo de som, vindo muito
fraco, do lado de fora.
- Agora é outra coisa. – disse.
Precisamos ver o que é.
Zulmira tentou impedi-los, mas era
tarde demais. Os homens já tinham saído do quarto quando ela teve ânimo para
dizer que era perigoso. Enfim, acompanhou-os, torcendo para que o uivo não
voltasse ou que, caso voltasse, houvesse tempo de retornar ao quarto.
Ao chegar à sala se deparou com
uma cena dantesca.
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