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Edgar teve que se esforçar para
entrar sem levantar ainda mais a porta. Já tinha mais de quarenta anos e o peso
da idade já começava a cobrar seu preço. Alan já estava lá dentro, esperando
por ele.
- Vamos. – cochichou o rapaz,
ajudando o professor a se levantar.
Olharam à volta. A luz da
claraboia praticamente não entrava ali e, num primeiro momento, sentiram-se
cegos. Ficaram lá, parados, esperando que suas retinas se acostumassem à parca
luminosidade antes de continuarem.
Era uma loja média, com várias
gôndolas repletas de cabides com roupas. Quem quer que fosse, poderia estar
escondido atrás de cada um deles.
Os dois homens avançaram
separados, vasculhando os corredores por entre as gôndolas. Iam passo a passo,
cuidadosos, tentando vislumbrar algo por entre as trevas. Já estavam quase no
fim quando ouviram algo lá atrás.
- É alguém correndo! – sussurrou
Alan.
Uma das gôndolas ainda balançava e
tilintava. Edgar compreendeu: alguém se escondera no meio das roupas e se
aproveitara que estavam longe para procurar um refúgio melhor.
Os dois correram na direção do
som, mas não viram nada.
- Ali. – disse Edgar, apontando
para os provadores.
Era uma boa hipótese. Os
provadores ficavam perto da gôndola na qual a pessoa se escondera.
O cômodo estava ainda mais escuro
que a loja. Edgar fez um gesto e entraram, ao mesmo tempo em que abriam a
primeira cortina. Não havia nada ali. Seguiram para a segunda cortina. Nada.
Começavam a abrir a terceira cortina quando ouviram um grito e algo passou por
eles.
Alan deu um salto rápido e segurou
alguém pela cintura. Por um instante, Edgar achou que fosse uma atitude
imprudente. Se fosse um daqueles zumbis... mas, quando foram para a área mais
clara, compreendeu: era uma garota, de pouco mais de 17, talvez 18 anos. Alan a
segurava e a arrastava para a luz, enquanto ela gritava:
- Me larguem! Me larguem!
Edgar correu na frente e abriu a
porta corrediça, de modo que logo estavam no corredor, sob a iluminação da
claraboia.
- Calma. – disse. Não vamos lhe
fazer mal.
Só então pôde observá-la. Tinha
cabelos lisos e negros, cortados à altura do ombro, grandes olhos pretos e
vivos. Sua figura oscilava entre a beleza e a fragilidade.
Alan a soltou e ela se encolheu
junto à parede.
- Por favor, não me machuquem!
-
Já lhe disse. Não vamos lhe fazer mal.
Alan olhava para a moça,
fascinado.
Edgar aproximou-se dela,
cauteloso, a mão aberta estendida.
- Calma. Não vamos machucar você.
Imagino que tenha passado por maus bocados. Estamos aqui para ajudá-la.
A garota pareceu mais confortável
ao ouvir essas palavras. Edgar aproximou-se e tocou em seu ombro.
- Qual é o seu nome?
- D... Daniela. Mas pode me chamar
de Dani.
Edgar fez que sim com a cabeça:
- Muito bem, Dani. Um de nós está
ferido. É uma menina. Precisamos voltar para a farmácia e ver como ela está.
Você nos acompanha?
A garota concordou.
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