O
surgimento do marketing, como se conhece hoje, é resultado de uma longa
evolução, que está diretamente ligada à evolução das próprias empresas.
Na primeira fase, a centralização ocorria
na produção. Essa fase corresponde ao início da revolução industrial, quando a
demanda era maior que a oferta. Ou seja, havia mais pessoas querendo comprar do
que produtos disponíveis. Isso fazia com que todos os esforços fossem
direcionados à melhoria do processo de produção. Um exemplo muito bom disso foi
Henry Ford. Ele percebeu que muitas pessoas não tinham carro simplesmente
porque a produção não era suficiente. Os carros eram feitos artesanalmente, um
a um, e demoravam muito para ficar prontos, além de serem caríssimos.
Ford, então, implementou um processo
de montagem em que cada operário fazia apenas uma parte do serviço. As peças
eram feitas em série, exatamente da mesma maneira, para permitir um melhor
encaixe e a aceleração da produção. Começaram a sair das fábricas milhares de
Ford T, todos iguaizinhos, inclusive na cor: preta.
O resultado foi um aumento incrível
não só na produção, mas também no consumo de carros. Porém, logo começou a
haver um excedente. A situação tinha se
invertido: agora havia mais oferta do que demanda e era necessário achar novos
compradores. Era a segunda fase, da centralização nas vendas. Nessa fase, o
vendedor começa a ter papel fundamental no marketing.
O vendedor vendia um produto que a
pessoa não conhecia e nem sabia que precisava. Então, a ênfase ficava no
produto. O vendedor falava muito sobre o produto e focava pouco nos benefícios
que o consumidor teria com a compra. O vendedor era a estrela.
Nessa época, havia pouca
concorrência. Geralmente uma empresa dominava o mercado e quem quisesse comprar
não tinha muita opção. Exemplo disso era o Ford T.
Quem não tivesse dinheiro para um caríssimo carro artesanal tinha de se
contentar com o carro preto feito pela Ford. Isso não só nos EUA, mas no mundo
todo, pois Ford ampliara sua rede de vendas por vários países.
Então surgiu um homem chamado Alfred
Sloam, da General Motors, que decidiu concorrer com Ford. Foi o marco da nova
fase.
Sloam percebeu que os carros de Ford
tinham uma falha grave: eram todos iguais. Ele logo intuiu que o consumidor
queria ter um carro diferente, com sua cor preferida, e começou a utilizar
outras cores nos carros da GM. Além disso, nem todo mundo queria o mesmo carro.
Alguns tinham dinheiro para pagar por um carro mais caro, outros não. Sloam
criou quatro tipos diferentes de carro, um para cada faixa de renda. O mais
caro era o Cadillac, e quem tinha um Cadillac não satisfazia apenas sua
necessidade de locomoção, satisfazia também a necessidade de status.
Foi um sucesso absoluto, e a GM
desbancou a Ford em vendas.
Os carros da Ford eram bons e baratos, mas não eram
produzidos visando às necessidades e aos desejos do consumidor.
Nessa fase tornou-se muito
importante também diferenciar o produto dos concorrentes. Veja o Bombril, por
exemplo. Durante muito tempo ele foi a única palha de aço do mercado, mas, de
repente, começaram a aparecer concorrentes. Na época, as palhas de aço eram
vendidas em rolos, sem embalagem, então a primeira coisa que os donos da
Bombril fizeram para diferenciar o produto foi colocar uma etiqueta. Essa
etiqueta logo evoluiu para uma embalagem amarela e vermelha que todo mundo
conhece de longe.
Outro exemplo é a Coca-Cola. Com o
surgimento de vários outros concorrentes muito semelhantes, a Coca adotou a
famosa garrafa com curvas, que a diferenciava dos concorrentes até mesmo no
escuro.
Nessa fase do marketing, a estrela é
o consumidor. O enfoque todo passou a estar nele e nos benefícios conseguidos
com o produto. Se antes um vendedor dizia: “Veja como é lindo este vestido”,
agora os vendedores diziam: “Veja como esse vestido fica lindo em você.” Pode parecer
pouco, mas essa mudança de foco foi uma revolução radical, que fez com que
algumas empresas dominassem o mercado e sobrevivessem num mundo de negócios
cada vez mais competitivo.
No entanto, as empresas logo
descobriram que não bastava deixar o cliente satisfeito individualmente. Era
necessário que a sociedade também estivesse satisfeita.
O marketing societal surgiu da
evolução do pensamento do consumidor, que começou a cobrar das empresas
responsabilidade social.
Quem nunca recebeu um email com
dizeres do tipo: “Não compre dessas empresas. Elas poluem o meio ambiente”?
Muitas vezes uma empresa satisfazia
o cliente isoladamente, mas a falta de compromisso social fazia com que suas
vendas baixassem.
As iniciativas de marketing societal
são as mais diversas possíveis: do supermercado que oferece um dia de lazer
para a comunidade à empresa de perfume que financia projetos de proteção ao
meio ambiente.
Empresas
como O Boticário e a Natura têm se destacado justamente por sua atuação social
e com isso acabam ganhando a simpatia do público. Em um mercado repleto de
opções de cosméticos e perfumes, essa diferenciação tem um significado
importante: competitividade. Além disso, elas ganham com a melhoria da imagem
da empresa. E em marketing imagem é tudo.
É importante destacar que essas fases do marketing não são
estanques e nítidas historicamente. Há países que ainda estão na primeira fase
do marketing, enquanto outros já estão na fase do marketing societal. Isso
depende muito das variáveis que compõem a sociedade e o mercado de cada país.
Não se espera encontrar no Zimbábue, por exemplo, uma grande procura por
produtos com embalagem reciclável. Num país em que a sobrevivência ainda é uma
conquista diária, detalhes como esse não fazem a menor diferença.
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