Uma resenha, ao contrário do que imagina a maioria das pessoas,
não é um resumo de uma obra. A resenha exige uma leitura atenta e conhecimento
sobre o assunto a ser resenhado.
Historicamente, a resenha surgiu da necessidade de escolha entre
diversos livros que estavam sendo publicados. Como escolher entre tantas obras?
O resenhista era a pessoa que lia, fazia o comentário e dava ao leitor
informações que permitiriam saber se interessava ou não ler a obra original.
Essa função ainda é cumprida atualmente pelos cadernos de cultura dos jornais,
que apresentam resenhas sobre livros, filmes e até CDs. Um interessante site de
resenhas é o Digestivo Cultural (www.digestivocultural.com.br)
Normalmente, também revistas científicas apresentam resenhas.
Nesse caso, o resenhista deve ser um pouco mais cuidadoso, pois ele estará
falando para pessoas especialistas em determinada área de conhecimento.
Muitos autores têm classificado a resenha, mas a que parece
mais adequada é a divisão entre resenha literária e resenha científica. A
literária se destina ao público leigo e tem menos elementos obrigatórios. O
objetivo é apenas apresentar informações sobre uma determinada obra, dando ao
leitor condições de escolher se quer ou não comprá-la.
A resenha científica deve, além disso, apresentar a
importância científica da obra, o paradigma do autor, entre outras informações.
Abaixo, alguns elementos necessários a uma resenha:
Referência bibliográfica completa
O resenhista deve colocar, no início da resenha, todos os elementos
bibliográficos, de acordo com as regras da ABNT. No caso de uma resenha
literária, bastam o título do livro, o nome do autor e a editora.
Credenciais do autor
Informações sobre o autor,
em especial sua formação universitária, títulos e livros publicados.
Resumo da obra
(digesto)
Aqui se resume as idéias principais do autor. É
aconselhável que dê uma visão geral da obra, e haja um aprofundamento de um
capítulo ou mais.
Conclusões da
autoria
Qual é a tese do autor? O que
ele quer provar com seu livro? A que conclusões ele chega?
Metodologia
Qual foi a metodologia
utilizada pelo autor? O texto é apenas um ensaio, ou é resultado de uma
pesquisa de campo? Sua pesquisa é qualitativa ou quantitativa?
Quadro de referências do autor (paradigma)
Qual é o paradigma no qual
o autor sustenta suas idéias? Cada área de conhecimento tem seus paradigmas
específicos. Nas ciências sociais, por exemplo, há o paradigma marxista, o
positivista/funcionalista, o estruturalista...
Crítica do
resenhista
Esse é o momento em que o resenhista faz sua
análise da obra. Qual a sua importância? Que contribuição ela traz para o seu
campo de estudo. Como é a linguagem do autor? Simples, clara, complexa,
rebuscada? O livro aprofunda os assunto estudados?
Indicações do
resenhista
A quem se destina a obra?
Quem poderia se interessar por ela? O leitor precisa ter algum tipo de
conhecimento prévio para compreender o livro? É um dos itens mais importantes
da resenha.
Nem sempre é possível fazer uma resenha com todos esses
elementos e já li ótimas resenhas que não de fato não tinham um ou mais
elementos apresentados acima.
Também é importante dizer que esses elementos foram divididos
por questões didáticas, mas a maioria dos autores faz um texto corrido no qual
aparecem as informações necessárias de uma resenha.
A
resenha científica deve evitar expressões pessoais.
EXEMPLO DE RESENHA
BERLINSKI, David. O advento do algoritmo: a idéia que governa o mundo. São Paulo:
Globo, 2002.
Gottfried von Leibniz foi um dos
maiores gênios do século XVII. Ele se movia com facilidade pela matemática,
filosofia e direito. Além disso, ele se envolveu em projetos de prensa
hidráulica, horticultura e construção de moinhos de vento. Mas Leibniz
acalentava um projeto especial: criar uma enciclopédia que contivesse todos os
conceitos humanos. Ele acreditava que, por mais que pudesse haver muitos
conceitos complexos, a quantidade de conceitos simples deveria ser pequena. E,
se existe um número finito de conceitos simples, deve haver no pensamento um
princípio de organização, que orquestre o modo como são combinados. No final, o
filósofo concluiu que existem apenas dois conceitos simples: Deus e o Nada. A partir desses dois, todos os
outros poderiam ser construídos.
A idéia, que parece absurda e sem
nenhuma utilidade prática, é, na verdade, um dos mais úteis instrumentos da
atualidade. Sem ela os computadores não seriam possíveis. Os conceitos de Deus
e Nada de Leibniz são a base do 0 e 1, a linguagem binária usada pelos computadores
digitais. Toda informação que adentra um computador, por mais complexa que
seja, é transformada em uma série de 0 e 1, ou Deus e Nada.
Leibniz foi, portanto, o avô do
algoritmo, um sistema lógico que tornou possível os computadores. É a história
da criação do algoritmos que David Berlinsk, professor norte-americano de
lógica matemática, conta em O Advento do Algoritmo.
Berlinski é
doutor pela universidade de Princenton e contribui regularmente com a revista
Comentary. Seus ensaios sobre o darwinismo e o big bang ficaram famosos. É
autor de três romances e cinco obras de não-ficção, entre elas O Legado de
Newton, que será lançado em breve no Brasil pela editora Globo.
O autor faz um
ensaio histórico, demonstrando a evolução da lógica matemática que levaria à
criação do algoritmo.
O livro pode parecer um volume
hermético, de interesse único dos viciados em matemática, lógica e
computadores, mas não é. Berlinski tem uma linguagem simples e um jeito muito
agradável de falar de coisas complicadas. Além disso, ele é um tanto poético,
às vezes exageradamente poético. Ao falar da lógica aristotélica, ele se refere
à decadência do Império romano da seguinte forma: “A cultura brilhante e única
dos gregos antigos se exauriu quando o sol ainda brilhava. Os bárbaros
começaram a vagar pelas margens rotas e esfarrapadas do Império Romano”.
O volume tem momentos exclusivamente
literários, como aquele sobre um homem que vendia sonhos, colocado ali para nos
fazer ver que sonhar com a verdade pode ter um preço muito caro.
Um preço muito caro pagou o lógico
inglês Alan Turing, que se suicidou comendo uma maçã envenenada.
Turing
percebeu que muitas vezes seres humanos faziam trabalhos mecânicos, que podiam
perfeitamente ser feitos por um computador e imaginou uma máquina capaz de
realizá-los. Ele partiu da idéia de Leibniz, de que conceitos complexos podem
ser expressos através de conceitos simples. Ou seja, todas as coisas poderiam
ser expressas através de dois símbolos, 0 e 1. Ou melhor, um, pois o 0 é a
ausência de símbolo.
O computador de Turing teria uma fita
infinitamente longa dividida em quadrados. Teria também um mecanismo de leitura
que poderia realizar três operações: 1) ler os símbolos nos quadrados; 2)
mover-se pelos quadrados, de acordo com uma programação; 3) imprimir símbolos
nos quadrados.
Um exemplo simples e, ao mesmo tempo,
maravilhoso de utilização da máquina de Turing é a soma 1 + 1. O número 1 é
expresso através de dois símbolos, 11. O espaço em branco representa o sinal de
somatória. Assim, 1+1 seria expresso da seguinte maneira: 11 espaço11. A
seguir, basta dar uma programação à máquina.
A programação
é a seguinte:
A leitura se
move para a direita até encontrar um espaço vazio e, então, imprime 1.
Os
sinais, que eram 11 11, ficam 11111.
A seguir ela se move novamente para a
direita até encontra um espaço em branco, sinal de que agora ela deve se mover
para a esquerda e, ao invés de imprimir, deve apagar os dois primeiros da
esquerda e, então, parar. O símbolo resultante é 111, justamente o símbolo do número
dois.
Simples e extremamente eficiente.
O método proposto por Turing permite
que computadores possam processar qualquer informação usando apenas o Deus e o
Nada.
Só por nos mostrar que idéias aparentemente sem
nenhuma utilidade prática podem se tornar extremamente importantes (e, de certa
forma, governar o mundo), o livro de Berlinski já valeria a pena. Como se isso
não bastasse, a editora Globo fez um belo trabalho gráfico, com uma capa
belíssima e uma encadernação de primeira. Uma leitura obrigatória para os
interessados em lógica matemática ou em computadores.
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