Comprei o livro O sequestro do metrô , de John Godey
(editora Abril Cultural) por dois reais em um sebo. Poucas vezes dois reais
foram tão bem investidos.
O livro narra a história de um quarteto de ladrões que
sequestra um vagão de metrô e exige um milhão de dólares em sessenta minutos,
ou matarão os passageiros.
O autor, Morton Freedgood usou o pseudônimo de John Godey,
pois pretendia guardar seu nome verdadeiro para livros mais sérios. No entanto,
foi este livro que o tornou famoso e fez com que ele entrasse na história da
cultura pop quando o livro se transformou em filme apenas um ano depois de ter
sido lançado, em 1973.
A primeira qualidade que salta aos olhos no texto é o foco
narrativo: cada capítulo é focado em um personagem, e alguns são focados em um
grupo de personagens, como jornalistas, assessores do prefeito, a multidão que
se forma em torno do sequestro. Com isso o autor consegue dar uma visão ampla
de um fato, mostrando-o sob os mais diversos pontos de vista.
Soma-se a isso os diálogos afinados, que muitas vezes
refletem as críticas sociais do autor à sociedade de sua época. As ligações
recebidas pelos jornais, com vários movimentos tentando assumir a autoria do
atentando ou de leitores sugerindo soluções para o empasse refletem bem isso.
Além disso, Freedgood, como se escrevesse uma reportagem,
fez uma extensa pesquisa sobre cada detalhe do metrô de Nova York e sobre as
forças policiais, seus modos de ação: tudo é descrito nos mínimos detalhes.
A forma narrativa escolhida pelo autor faz com que o livro
não tenha um protagonista. É como se o próprio metrô fosse o personagem
principal, ao redor do qual tudo gira.
Uma curiosidade é que no filme de 1974 os bandidos se chamam
por cores, uma estratégia adotada posteriormente por Tarantino no filme Cães de
aluguel. A partir daí, usar palavras para os bandidos se chamarem a si próprios
tornou-se um padrão na cultura popular, como podemos ver em La casa de papel,
em que os assaltantes da casa da moeda usam nomes de cidades como codinome.
O sucesso do filme fez com que as autoridades do metrô de
Nova York temessem que alguém tivesse a mesma ideia. Uma das consequências
disso é que foram banidas as saídas de trens de Pelham no horário de 1h e 23 minutos
(exatamente o trem escolhido pela quadrilha pelo golpe).
O filme ainda foi inspiração para uma canção de Carter USM e
outra de Beastie Boys.
Em 2009, o filme ganhou um ótimo remake dirigido por Tony Scott com
Denzel Washington e John Travolta no elenco intitulado O sequestro do metrô 123
(disponível na Netflix).
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