Em 2010 a DC Comics completou 75
anos. Para comemorar, a Panini lançou no Brasil uma coleção em quatro volumes,
cada um reunindo histórias de um período: Era de Ouro, Era de Prata, Era de
Bronze, Era Moderna.
Há uma polêmica sobre como teria
começado a Era de Prata, mas a maioria dos autores concorda que foi com o
ressurgimento dos super-heróis devido ao sucesso da nova versão do Flash, em
Showcase 4, de 1956. A partir daí a DC voltou a investir em heróis de malha e
as revistas começaram a pipocar nas bancas, até culminar na reunião dos heróis
na Liga da Justiça.
O volume pretende dar uma visão
geral do período e, como não poderia deixar de ser, inicia com o ressurgimento
do Flash, com roteiro de Robert Kanigher, desenhos de Carmine Infantino e
arte-final de Joe Kubert. Dá para perceber porque se tornou um clássico que
salvou os heróis do esquecimento: o roteiro é bem amarrado, com uma sacada
genial e irônica (um velocista enfrentando
o Tartaruga, o homem mais lento da terra) e os desenhos são lindos, a começar
pela splash page inicial com o Flash avançado pela página como se estivesse
escapando dos quadrinhos. E, comparado com a versão do personagem da Era de
Ouro, essa é muito mais consistente.
A história a seguir, do Superboy,
é outro clássico típico da era de ouro. Escrita por Otto Binder e desenhada por
Al Plastino, a HQ apresenta a Legião dos Super-heróis. Ainda na coleira do
Comics Code, os quadrinhos não poderiam ter nada que parecesse ofensivo aos pais.
Então esqueça violência ou conflitos familiares. Os roteiristas tinham se
adequar a plots ingênuos e fazer com que eles parecessem interessantes. É o que
fazem os autores dessa história. Na HQ, o Superboy tenta ser admitido na
Legião, mas falha em todos os testes, pois sempre aparece algo mais urgente
para ser resolvido. O plot twist final é ingênuo, mas eficaz dentro da lógica
da época.
A origem do Aquaman (com roteiro
de Robert Bernstein e desenhos de Ramona Fradon) deixa um ar de incômodo nos
leitores mais costumazes. É parecida demais com a origem de Namor. Ambos são
filhos de mulheres atlântidas com humanos, só para dar um exemplo. Mas como na
época o Príncipe dos Mares não era publicado e a Marvel dependia da DC para a
distribuição de suas revistas, isso acabou não dando origem a um óbvio processo
judicial por plágio.
Segue-se a famosa história em que
o Flash da era de prata encontra o da era de ouro. Famosa por que deu origem ao
conceito de que existem vários universos DC em dimensões diferentes, e a
história em que a Liga da Justiça encontra a Sociedade da Justiça, aproveitando
esse mote.
Depois uma história dos parceiros
mirins dos heróis em que Robin, Kid Flash e Aquakid precisam solucionar o
mistério do desaparecimento dos jovens de uma cidade do interior dos EUA. É
irritante o quanto a HQ consegue ser unidimensional em seu conflito. Adultos
não conseguem entender os jovens na cidade e os jovens não conseguem entender
os adultos. Entre os heróis, os heróis adultos não conseguem entender suas
versões mirins e estes, por sua vez, não conseguem entender os heróis. Mas no
final, a solução é simplista. Diante de toda a complexidade de relacionamento
que teríamos nos Novos Titãs na fase de Marv Wolfman e George Peres, histórias
como essa parecem terrivelmente simplistas.
O volume traz ainda “A montanha
do julgamento”, de Jack Kirby – e, independente da qualidade desse material,
fico na dúvida se poderia entrar em um volume sobre a era de prata.
Algumas faltas são nítidas na edição.
Não há, por exemplo, nenhuma história do Super-homem desenhada por Curt Swan, o
desenhista mais emblemático da Era de Prata na DC. Além disso, não há nenhuma
HQ do Gavião Negro de Joe Kubert, um dos melhores quadrinhos do período na DC.
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