Na década de 70 Brasil
era uma ditadura. O conservadorismo tomava conta do pais e até mesmo a Playboy
era proibida de circular nas bancas (depois, quando foi liberada, não podia
mostrar nus). Nessa época a única forma de se ter acesso ao tema sexo era
através de revistinhas clandestinas, surgindas na década de 1950. Essas
publicações eram chamadas de “catecismos” por que eram feitas no tamanho certo
para serem colocadas dentro destes, já que a maioria dos garotos as comprava
quando saía da missa.
Os catecismos eram
assinados por Carlos Zéfiro. Não era um nome verdadeiro e ninguém sabia quem
desenhava as histórias responsáveis pela educação sexual de toda uma geração.
Também, pudera.
Desde sua produção até a
distribuição, os catecismos tinham todos os elementos de filmes de
espionagem. Eles eram vendidos nas bancas dentro de outras revistas e com muito
cuidado, porque podia dar cana. Certa vez um general de Brasília se indignou
com as revistinhas e mandou investigar. Chegou até Hélio Brandão, o responsável
pela edição das revistas. Hélio jamais revelou que Carlos Zéfiro era o pacato
funcionário do serviço de imigração do Ministério do Trabalho, Alcides
Caminha.
Zéfiro reinou como o rei
da sacanagem nas décadas de 1960 e 1970, em plena ditadura militar. Embora seu
desenho fosse primitivo e ele copiasse descaradamente das mais diversas fontes,
seus roteiros eram uma verdadeira investigação antropológica e sociológica sobre
a sexualidade do brasileiro. Tanto que suas histórias acabaram chamando atenção
de cientistas famosos, como o antropólogo Roberto da Matta, que chegou a
escrever textos analisando seus quadrinhos e já se declarou fã do quadrinista.
Renegado durante
décadas, Zéfiro só ganhou notoriedade muito recentemente ao ser homenageado na
capa do disco Barulhinho Bom, de Marisa Monte.
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