quinta-feira, junho 27, 2019

Watchmen



Watchmen surgiu de um pedido que Dick Giordano, editor da D.C., Comics fez a Alan Moore. A editora do Super-homem adquirira os direitos sobre os heróis da extinta Charlton Comics e a idéia era fazer uma minissérie em 12 partes com eles. Mas a proposta apresentada pelo roteirista era tão revolucionária que Giordano resolveu dissociá-la dos heróis da Charlton. Assim, o Capitão Atómo tornou-se o Dr. Manhattan, o Pacificador tornou-se o Comediante e o Besouro Azul contentou-se com o título de Nite Owl.
 O enfoque básico de Watchmen partia de uma idéia que Moore já havia experimentado em Miracleman: o que aconteceria se os super-heróis realmente existissem?
Moore havia pensado nessa possiblidade quando ainda era criança e lia as paródias de Harvey Kurtzman na revista Mad, que mostrava, por exemplo, o Super-homem fazendo compras num supermercado. Mas Kurtzman usava o recurso para causar um efeito cômico e Moore pretendia, girando o parafuso, alcançar um efeito dramático.
Assim, Moore faz a pergunta: como seria um mundo sobre o qual os super-heróis realmente caminhassem? Como eles se relacionariam com os seres humanos normais, quais seriam suas angústias, que consequências isso teria?
Para responder a essas perguntas, Moore lançou mão de um dos princípios da teoria do caos: o efeito borboleta. Esse conceito foi elaborado a partir da grande dependência das condições iniciais apresentadas pelos fractais. A mudança de um único número pode transformar completamente o formato de um desenho fractal.  A mesma regra vale para alguns eventos não lineares. Assim, o bater de asas de uma borboleta em Pequim pode modificar o sistema de chuvas em Nova York.
                Moore transpôs o conceito para os quadrinhos. Se o bater de asas de uma borboleta pode ter consequências tão imprevistas, imagine-se o surgimento de super-heróis... Para Moore, o mundo jamais seria o mesmo.
                Até então, os avanços tecnológicos conseguidos pelos super-heróis não afetavam em absoluto o mundo em que viviam. Um exemplo disso são as histórias do Quarteto Fantástico, no qual apareciam foguetes estelares e computadores capazes de criar realidade virtual, mas isso não mudava em nada a vida das pessoas comuns.
 O mundo de Watchmen que, até a década de 60 era semelhante ao nosso, transforma-se com o surgimento do primeiro herói com superpoderes de verdade, o Dr. Manhathan, um ser tão poderoso que um cientista teria dito sobre ele: “Deus existe, e é americano!”.
Assim, no mundo de Watchmen, carros elétricos são realidade, assim como perus com quatro coxas. Os EUA ganharam a guerra do Vietnã e Nixon permaneceu no poder, se reelegendo vezes seguidas. Tudo mudou, do micro ao macro.
Isso tudo é contado de forma realista, com heróis que morrem porque a capa enganchou na porta giratória do banco ou vilões que fogem porque o herói precisou parar a perseguição para ir ao banheiro.
Outra inovação foi a forma narrativa: Watchmen é repleto de flash-backs que vão destrinchando os personagens, suas motivações e os acontecimentos que, como um efeito borboleta, mudaram tudo. Moore inovou também ao colocar anexos às HQs, que ajudam a contar a história: prontuários médicos, trechos de livros, artigos científicos. Tudo isso forma um quebra-cabeça que precisa ser montado pelo leitor.
Watchmen é tão complexo que foi alvo de diversos estudos acadêmicos, que destrincham seus aspectos filosóficos, científicos, sociológicos. Ou seja: uma obra com múltiplas leituras.

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