Watchmen surgiu de um pedido que Dick
Giordano, editor da D.C., Comics fez a Alan Moore. A editora do Super-homem adquirira os direitos sobre
os heróis da extinta Charlton Comics e a idéia era fazer uma minissérie em 12
partes com eles. Mas a proposta apresentada pelo roteirista era tão
revolucionária que Giordano resolveu dissociá-la dos heróis da Charlton. Assim,
o Capitão Atómo tornou-se o Dr. Manhattan, o Pacificador tornou-se o Comediante
e o Besouro Azul contentou-se com o
título de Nite Owl.
O enfoque básico de Watchmen partia de uma idéia que Moore
já havia experimentado em Miracleman:
o que aconteceria se os super-heróis realmente existissem?
Moore havia pensado nessa possiblidade quando ainda era criança e lia as
paródias de Harvey Kurtzman na revista Mad, que mostrava, por exemplo, o
Super-homem fazendo compras num supermercado. Mas Kurtzman usava o recurso para
causar um efeito cômico e Moore pretendia, girando o parafuso, alcançar um
efeito dramático.
Assim, Moore faz a pergunta: como seria um mundo sobre o qual os
super-heróis realmente caminhassem? Como eles se relacionariam com os seres
humanos normais, quais seriam suas angústias, que consequências isso teria?
Para responder a essas perguntas, Moore lançou mão de um dos princípios
da teoria do caos: o efeito borboleta. Esse conceito foi elaborado a partir da
grande dependência das condições iniciais apresentadas pelos fractais. A
mudança de um único número pode transformar completamente o formato de um
desenho fractal. A mesma regra vale para
alguns eventos não lineares. Assim, o bater de asas de uma borboleta em Pequim
pode modificar o sistema de chuvas em Nova York.
Moore transpôs o conceito
para os quadrinhos. Se o bater de asas de uma borboleta pode ter consequências
tão imprevistas, imagine-se o surgimento de super-heróis... Para Moore, o mundo
jamais seria o mesmo.
Até então, os avanços
tecnológicos conseguidos pelos super-heróis não afetavam em absoluto o mundo em
que viviam. Um exemplo disso são as histórias do Quarteto Fantástico, no qual apareciam foguetes estelares e
computadores capazes de criar realidade virtual, mas isso não mudava em nada a
vida das pessoas comuns.
O mundo de Watchmen que, até a década de 60 era semelhante ao nosso,
transforma-se com o surgimento do primeiro herói com superpoderes de verdade, o
Dr. Manhathan, um ser tão poderoso que um cientista teria dito sobre ele: “Deus
existe, e é americano!”.
Assim, no mundo de Watchmen, carros elétricos são realidade, assim como
perus com quatro coxas. Os EUA ganharam a guerra do Vietnã e Nixon permaneceu
no poder, se reelegendo vezes seguidas. Tudo mudou, do micro ao macro.
Isso tudo é contado de forma realista, com heróis que morrem porque a
capa enganchou na porta giratória do banco ou vilões que fogem porque o herói
precisou parar a perseguição para ir ao banheiro.
Outra inovação foi a forma narrativa: Watchmen é repleto de flash-backs
que vão destrinchando os personagens, suas motivações e os acontecimentos que,
como um efeito borboleta, mudaram tudo. Moore inovou também ao colocar anexos
às HQs, que ajudam a contar a história: prontuários médicos, trechos de livros,
artigos científicos. Tudo isso forma um quebra-cabeça que precisa ser montado
pelo leitor.
Watchmen é tão complexo que foi alvo de diversos estudos acadêmicos, que
destrincham seus aspectos filosóficos, científicos, sociológicos. Ou seja: uma
obra com múltiplas leituras.
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