domingo, setembro 29, 2019

Coleção DC 75 anos – a era de prata


Em 2010 a DC Comics completou 75 anos. Para comemorar, a Panini lançou no Brasil uma coleção em quatro volumes, cada um reunindo histórias de um período: Era de Ouro, Era de Prata, Era de Bronze, Era Moderna.
Há uma polêmica sobre como teria começado a Era de Prata, mas a maioria dos autores concorda que foi com o ressurgimento dos super-heróis devido ao sucesso da nova versão do Flash, em Showcase 4, de 1956. A partir daí a DC voltou a investir em heróis de malha e as revistas começaram a pipocar nas bancas, até culminar na reunião dos heróis na Liga da Justiça.
O volume pretende dar uma visão geral do período e, como não poderia deixar de ser, inicia com o ressurgimento do Flash, com roteiro de Robert Kanigher, desenhos de Carmine Infantino e arte-final de Joe Kubert. Dá para perceber porque se tornou um clássico que salvou os heróis do esquecimento: o roteiro é bem amarrado, com uma sacada genial  e irônica (um velocista enfrentando o Tartaruga, o homem mais lento da terra) e os desenhos são lindos, a começar pela splash page inicial com o Flash avançado pela página como se estivesse escapando dos quadrinhos. E, comparado com a versão do personagem da Era de Ouro, essa é muito mais consistente.
A história a seguir, do Superboy, é outro clássico típico da era de ouro. Escrita por Otto Binder e desenhada por Al Plastino, a HQ apresenta a Legião dos Super-heróis. Ainda na coleira do Comics Code, os quadrinhos não poderiam ter nada que parecesse ofensivo aos pais. Então esqueça violência ou conflitos familiares. Os roteiristas tinham se adequar a plots ingênuos e fazer com que eles parecessem interessantes. É o que fazem os autores dessa história. Na HQ, o Superboy tenta ser admitido na Legião, mas falha em todos os testes, pois sempre aparece algo mais urgente para ser resolvido. O plot twist final é ingênuo, mas eficaz dentro da lógica da época.
A origem do Aquaman (com roteiro de Robert Bernstein e desenhos de Ramona Fradon) deixa um ar de incômodo nos leitores mais costumazes. É parecida demais com a origem de Namor. Ambos são filhos de mulheres atlântidas com humanos, só para dar um exemplo. Mas como na época o Príncipe dos Mares não era publicado e a Marvel dependia da DC para a distribuição de suas revistas, isso acabou não dando origem a um óbvio processo judicial por plágio.
Segue-se a famosa história em que o Flash da era de prata encontra o da era de ouro. Famosa por que deu origem ao conceito de que existem vários universos DC em dimensões diferentes, e a história em que a Liga da Justiça encontra a Sociedade da Justiça, aproveitando esse mote.
Depois uma história dos parceiros mirins dos heróis em que Robin, Kid Flash e Aquakid precisam solucionar o mistério do desaparecimento dos jovens de uma cidade do interior dos EUA. É irritante o quanto a HQ consegue ser unidimensional em seu conflito. Adultos não conseguem entender os jovens na cidade e os jovens não conseguem entender os adultos. Entre os heróis, os heróis adultos não conseguem entender suas versões mirins e estes, por sua vez, não conseguem entender os heróis. Mas no final, a solução é simplista. Diante de toda a complexidade de relacionamento que teríamos nos Novos Titãs na fase de Marv Wolfman e George Peres, histórias como essa parecem terrivelmente simplistas.
O volume traz ainda “A montanha do julgamento”, de Jack Kirby – e, independente da qualidade desse material, fico na dúvida se poderia entrar em um volume sobre a era de prata.
Algumas faltas são nítidas na edição. Não há, por exemplo, nenhuma história do Super-homem desenhada por Curt Swan, o desenhista mais emblemático da Era de Prata na DC. Além disso, não há nenhuma HQ do Gavião Negro de Joe Kubert, um dos melhores quadrinhos do período na DC.

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