Em 1984 Len Wein contratou o desconhecido escritor britânico Alan Moore para assumir o personagem Monstro do Pântano, que ele havia criado na década de 1970. O título estava ladeira abaixo e provavelmente seria cancelado, portanto o risco era pequeno para a DC Comics.
Alan Moore iniciou no título em Swamp Thing 20,
terminando um arco de outro roteirista. A primeira história com a sua versão do
personagem seria publicada no número 21. Intitulada “Lição de anatomia” e com
desenhos de Stephen Bissette e John Totleben, a história revolucionou os
quadrinhos de terror e mudou para sempre o mercado de quadrinhos.
O leitor percebia que estava diante de algo
diferente desde a primeira página. Nela Jason Woodrue, o Homem florônico, está
na janela de seu apartamento pensando nos acontecimentos que o levaram a
conhecer o Monstro do Pântano. Ele pensa no velho que o contratou para dissecar
a criatura e descobrir como a fórmula biorestauradora conseguiu transformar um
homem normal no poderoso Monstro do Pântano: “Ele vai bater no vidro. Se não
agora, daqui a pouco. De qualquer forma, vai bater, e... será que vai haver
sangue? Torço para que haja. Muito sangue. Um volume formidável de sangue”. E o
desenho mostra o velho de fato batendo no vidro do laboratório) que se confunde
com o vidro do apartamento, com a água da chuva escorrendo como se fosse sangue.
O título vinha logo abaixo, ocupando um terço da página e era uma referência
direta ao cartaz do filme Anatomia de um crime, de Otto Preminger, com o texto
vindo sobre partes de um corpo.
Nas histórias anteriores, o Monstro do Pântano
havia sido morto a tiros pela Corporação Sunderland e seu corpo mantindo
congelado. O “velho” Sunderland quer que Woodrue disseque o cadáver para
descobrir seus segredos.
Mas parece tudo parece inverossímil: embora o
monstro tenha coração, pulmão e até cérebro, nada disso parece ter função real.
Além disso, a fórmula biorestauradora havia sido produzida para plantas e não
deveria ser capaz de afetar tecido humano. “Era mais do que se poderia esperar
que uma mente humana desvendasse”, diz o Homem-florônico “Em seis semanas achei
a resposta”.
A resposta estava diretamente relacionada com
as planárias, vermes que tinham a característica de ser renegerar quando
cortadas. Cientistas ensinaram uma planária a percorrer um labirinto e depois a
cortaram em pedaços e deram para outras comerem... e as canibais aprenderam a
percorrer o labirinto (a experiência é real).
Moore constrói a trama com maestria, dando um
toque de suspense à história e, ao mesmo tempo, construindo a base do que viria
a fazer com o personagem, inclusive modificando sua aparência para algo mais
vegetal. Stephen Bissette e John Totleben foram primorosos no desenho, com a
diagramação nada convencional, com quadrinhos distorcidos, imagens que vazam
pela página um traço sujo, repleto de hachuras, perfeitos para uma história de
terror.
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