Walter Benjamin teve uma vida trágica e marcada pela inquietação intelectual. Foi influenciado pelo marxismo e pelo misticismo judaico. Como a chegada do nazismo ao poder, Benjamin refugiou-se em Paris. Após a derrota da França na guerra contra a Alemanha, o filósofo decidiu fugir pela fronteira espanhola. Ao saber que a fronteira estava fechada, ele voltou para o hotel e se suicidou tomando uma grande quantidade de morfina. A fronteira abriu no dia seguinte.
Entre os seus textos mais importantes está A obra de arte na época de sua reprodutibilidade técnica, no qual ele explica como o cinema e a fotografia estavam destruindo a "aura" da obra de arte.
Benjamin explica que durante milênios, toda obra de arte tinha duas características: a autenticidade e a aura.
A autencidade está ligada ao fato de que cada obra de arte é única. Um quadro, por exemplo tem características que não podem ser reproduzidas. Por mais que ele seja impresso, perde-se a textura do suporte, o relevo da tinta, assim como toda a história por trás daquela obra específica, inclusive com referência às pessoas que o possuíram. Mesmo no caso de uma fraude muito bem realizada, a cópia nunca será igual ao original. Da mesma forma, cada escultura grega é única e mesmo alterações pelas quais ela passou (no caso das peças quebradas) aumentam seu valor de unicidade. Segundo Benjamin, "O que faz com que uma coisa seja autêntica é tudo aquilo que ela contém de originalmente transmissível".
A aura, por sua vez, está ligada à origem religiosa da arte.
Quando o homem começou a produzir as primeiras pinturas rupestres, elas não tinham o objetivo de ornamentar as cavernas, mas de realizar uma espécie de magia. Acreditava-se que o que era reproduzido na pintura se tornaria realidade. Assim, o desenho de uma caçada feliz faria com que a tribo tivesse sucesso na caçada. As obras de arte nascem a serviço de um ritual, inicialmente mágico, depois religioso. Sua exposição aos homens era incidental: na verdade, a pintura destinava-se sobretudo ao mundo espiritual.
Esse caráter místico faz com que muitas vezes a obra de arte seja guardada em segredo. Os templos gregos eram construídos para abrigar as estátuas dos deuses, mas o ritual se passava do lado de fora. Na igreja católica, as figuras das virgens permanecem guardadas a maior parte do ano e só são visualizadas em momentos muito especiais, como ocorre com o Círio de Nazaré, em Belém. Conforme a arte foi se desvinculando do uso ritual, aumentaram as possibilidades das obras serem expostas. O quadro, por exemplo, tem muito mais possibilidades de ser transportado e exposto do que um mosaico.
Mas, se por um lado a arte se desvinculava da sua função religiosa, continuava tendo uma espécie de mística. A arte continuava sendo algo de uma minoria privilegiada, geralmente as pessoas de maior poder aquisitivo. Tornou-se, inclusive, um símbolo de status.
O surgimento da fotografia abalou os alicerces da arte, empurrando para segundo plano o seu valor de culto. Além de representar a realidade, a fotografia era passível de reprodução e quebrava totalmente com a ideia de autenticidade. Qual das cópias de uma foto é a original?
De acordo com Benjamin, a fotografia, ao retirar da arte o critério de autenticidade, fez com que toda a função da arte fosse subvertida: "Em lugar de repousar sobre o ritual, ela se funda agora sobre uma outra forma de práxis: a política". Se a fotografia provocou uma revolução na arte, o cinema provocou um estrago ainda maior. Até mesmo a atuação dos atores deixou de ter aura ou unicidade.
Se no teatro, cada atuação é única e o ator interpreta para o público, no cinema, os atores interpretam para a câmera e sua atuação é fragmentada. Um personagem se aproxima de uma porta, a abre e sai. A cena seguinte, pode ser gravada semanas depois dessa. No cinema, a atuação dos atores só se concretiza na mesa de montagem.
Esse sistema quebra com a aura da atuação, que só sobrevive, no cinema comercial, através do star system, no culto à estrela (um tema muito bem analisado por Edgar Morin no livro As estrelas). Para Benjamin, se não for tratado como produto, o cinema permite não só uma crítica revolucionária das antigas concepções de arte, como favorece uma crítica revolucionária das relações sociais. Isso ocorre porque o cinema tira o expectador da condição de simples contemplação e o leva à condição táctil. Ou seja, no cinema o público quer não só assistir, mas interagir, e essa interação leva à revolução tanto na arte quanto na sociedade. Walter Benjamim certamente devia estar pensando no cinema revolucionário russo, que usava pessoas do povo como atores quando escreveu suas reflexões.A idéias de Benjamin fizeram pouco sucesso na época, e só foram resgatadas graças ao amigo Adorno, que, no entanto, achava suas reflexões ingênuas. Passado quase um século de seus primeiros escritos, o pensamento desse autor continua cada vez mais atual, especial pela compreensão impar sobre a arte e sobre a forma como o surgimento dos meios de comunicação de massa mudou nossa percepção a respeito dessa.
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