Um dos aspectos que fizeram a série clássica de Jornada nas estrelas se tornar tão famosa foi o fato de, apesar de episódios com forte discussão filósofica e até política, no geral, havia um tom leve e bem humorado.
Provavelmente o episódio que melhor resume esse espírito é
Problemas aos pingos, da segunda temporada.
Na história, a entreprise recebe uma chamada de emergência de
uma estação espacial apenas para descobrir que não havia nenhuma emergência: na
verdade, os responsáveis pela estação só queriam alguém para cuidar da
segurança do quadrotriticale, um grão híbrido de trigo e
centeio. Kirk, indignado, coloca alguns homens para a segurança do grão e dá
folga para o restante da tripulação.
Os problemas começam com a presença de klingons
no local, o que leva a conflitos com os humanos.
Mas a verdadeira ameaça é totalmente inusitada:
os pingos, animais fofos e peludos, que ronronam na presença de humanos. Uhura
ganha um desses carismáticos animais e o leva para a Enterprise. Acontece que
os pingos se reproduzem numa velocidade espantosa. Metade do metabolismo deles
é dedicado à reprodução. Essa característica existe porque no seu ambiente
natural há muitos predadores, o que equilibra a população. Mas num ambiente sem
predadores, como a Enteprise, os pingos se reproduzem a ponto de tomar conta de
toda a nave e comer toda a comida
disponível.
David Gerrold, o roteirista, conta que a ideia
surgiu quando soube dos coelhos na Austrália. Quando foram levados para aquele
país, os coelhos não encontraram nenhum predador natural e se reproduziram de
forma assustadora, destruindo plantações. Mas ele não queria usar coelhos.
Precisava ser um animal que parecesse alienígena, mas, ao mesmo tempo, fossem
fáceis de produzir em grande escala. Ao ver um chaveiro com uma bola peluda,
Gerrold percebeu que aquela era a melhor solução. Deu tão certo que esse se
tornou um dos episódios mais célebres de todas as temporadas de Jornada nas
Estrelas. Os bichinhos peludos apareceram inclusive em episódios de outras
encarnações e até nos filmes.
Um dos destaques do roteiro era o tom levemente
humorístico. Algumas cenas são célebres, como quando Kirk abre uma comporta na
qual estava a semente e pingos começam a cair sobre ele. Destaque para a
atuação maravilhosa de William Shatner, que tinha um pendão natural para dar um tom bem humorado
para seu personagem.
Algo curioso é que, embora adorem humanos e
ronronem na presença deles, os pingos odeiam os klingons e dão gritos
assustados na presença destes, o que ajuda a desmascarar uma armação para
envenar os grãos.
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