Um dos grandes segredos da Marvel era o incrível dinamismo que Jack Kirby imprimia às cenas de ação – tanto que todo mundo que ia desenhar para a Marvel primeiro tinha que fazer um “estágio” arte-finalizando as histórias de Kirby, para pegar o jeito.
Kirby não só exagerava nas poses dos personagens, na perspectiva, mas também enchia os quadros de onomatopeias retumbantes, linhas de ação e o recurso gráfico inventado por ele, os Kirby Kracle (pontos kirby), que consistiam em borrões e pequenos pontinhos em volta de um personagem muito poderoso.
Jeffrey J. Kripal, autor do livro Mutants and Mystics: Science Fiction, Superhero Comics, and the Paranormal escreveu sobre os Kirby Kracle: “Para Kirby, o corpo humano é uma manifestação de energias definitivamente inexplicáveis - um super-corpo. O que Mesmer chamou de magnetismo animal se torna em Jack Kirby uma marca registrada energética sinalizada por "linhas de explosão" e um campo de energia único de pontos negros e borrões que passou a ser carinhosamente conhecido como "Kirby Krackle" [...]. O resultado final foi uma visão do ser humano como um corpo de energia congelada que, como uma bomba atômica, poderia ser liberada com efeitos deslumbrantes, para o bem ou para o mal”.
É literalmente isso que acontece na história “Quando ataca o surfista Prateado”, publicada em Fantastic Four 55.
Na trama, o Quarteto voltou de Wakanda e o Coisa resolve visitar Alícia, a artesão cega pela qual é apaixonado. Inseguro, ele teme que ela possa ter arranjado outro amor na sua ausência. Mas ocorre uma coincidência: quando chega lá, ela está sendo visitada pelo Surfista Prateado.
O herói pedregoso simplesmente parte para cima dele, chegando a derrubar até mesmo um pequeno prédio no surfista. Reticente no início, o herói prateado perde a paciência e aumenta sua energia a ponto de se tornar pura energia. “Ele está se transformando numa bomba atômica ambulante... e tudo por minha causa! Eu tava tão ocupado dando chilique que esqueci do maior perigo de todos... ele não é humano!! Não sabe o que está fazendo! Provavelmente pode explodir esse pedaço de terra inteiro sem nem tentar!”, reflete um Coisa apavorado com a possibilidade da explosão matar sua querida.
É claro que tudo isso é demonstrado através dos famosos pontos Kirby. E o que deveria ser só uma escaramuça entre fortões acaba virando uma aula de narrativa visual.
Sem comentários:
Enviar um comentário