Dois homens
fundamentais para a história dos quadrinhos foram William Moulton Marston e
Fredric Wertham. O primeiro foi o criador da Mulher Maravilha e o responsável
pela introdução do feminismo nos quadrinhos. O segundo foi o psicólogo
responsável tanto pela perseguição aos quadrinhos como pela péssima imagem que
essa mídia ganhou por muito tempo (qual criança das décadas de 50, 60, 70 e 80
não foi em algum momento repreendida por ler gibis?).
É a história
desses dois homens que Jean-Marc Lainé e
Thierry Olivier contam no volume Fredric, William e a Amazona – perseguição e
censura aos quadrinhos recentemente lançado pela editora Pipoca e Nanquim.
Os autores usam
a técnica da biografia paralela, em que as vidas de duas pessoas são contadas
ao mesmo tempo, num narrativa que os compara.
A inspirada
capa, exemplifica muito bem isso – e representa o único momento na história em
que ambos se encontram: uma banca de revistas (que surge durante toda a
história), tendo Wertham e Marston de cada lado, ambos folheando comics books e
se observando pelo canto do olho, enquanto, acima da banca, vemos a bota da
Mulher Maravilha.
Wertham acreditava que os gibis influenciavam a juventude a cometer crimes.
É uma narrativa
curiosa, poucas vezes vista nos quadrinhos. Não é contada como uma história
linear, em que alguns fatos levam a outros que levam a outros que levam a outros.
Ao contrário, o que temos são cenas isoladas de um e de outro personagem. Cabe
ao leitor completar o que ocorre entre uma cena e outra (num exercício mais
extenso daquilo que o leitor de quadrinhos já faz).
Essas cenas
normalmente se cruzam em aspectos temáticos. Marston tenta inocentar um homem
usando seu detector de mentiras (que não é aceito no tribunal), enquanto
Wertham, ao trabalha como consultor psicológico, tenta entender as motivações
do psicopata Albert Fish – um caso que o torna ainda mais resoluto em sua
hipótese de que os crimes são cometidos não por uma índole genética, mas por
influência do ambiente, algo que indiretamente o levaria a sua cruzada contra
os quadrinhos. Momentos chaves da trajetória de um e de outro são mostrados,
como a roteirista que iria escrever histórias da Mulher Maravilha recebendo um
livro feminista ou a diretoria da DC tirando a personagem das mãos da família
Marston e a entregando a um roteirista que levaria a personagem totalmente
oposta do feminismo que a caracterizou.
O álbum conta os bastidores da criação da Mulher Maravilha.
Ao contrário do
que se poderia esperar, Wertham não é mostrado como vilão (sua atuação junto à
comunidade negra mostra que ele era bem intencionado), da mesma forma que
Marston não é mostrado como herói. São dois homens complexos cujas várias facetas
são visíveis no álbum. Wertham talvez tenha sido o mais complexo, pois, apesar
de sua boas intensões, o resultado de sua atuação teve resultados desastrosos.
No final, parece
que as 92 páginas do álbum foram pouco para dois personagens tão complexos.
Pouco também para a história contada.
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