O primeiro parágrafo de
príncipe Caspian, quarto volume da série crônicas de Nárnia, dá o tom da
história: “Era uma vez quatro crianças – Pedro, Suzana, Edmundo e Lúcia – que se
meteram numa aventura extraordinária, já contada no livro O leão, a feiticeira
e o guarda-roupa. Abriram a porta de um guarda-roupa encantado, viram-se num
mundo totalmente diferente do nosso, e nesse mundo, um país chamado Nárnia,
tornaram-se reis e rainhas. Durante a permanência deles em Nárnia acharam que
tinham reinado anos e anos; mas, ao regressarem pela porta do guarda-roupa à
Inglaterra, parecia que a aventura não tinha levado tempo algum”.
Na trama, as crianças são
transportadas de volta a Nárnia centenas de anos após a primeira viagem.
O castelo onde viviam agora
está em ruínas e as criaturas mágicas são perseguidas pelos novos governantes
locais: humanos vindos de outro país. Caspian é descendente direto do primeiro
rei dessa nova linhagem, mas é fascinado pela antiga Nárnia e suas histórias.
Quando seu tio tem um filho, ele é obrigado a fugir e se internar na floresta
para não ser morto. Acaba sendo ajudado por dois anões e um texugo, que
enxergam nele a possibilidade de um retorno aos velhos tempos.
Mas o rei está disposto a
destruir o exército de seres encantados e a única saída é tocar a trompa dada
de presente a Susana no primeiro livro - o que traz as crianças de volta à Nárnia.
O livro é escrito num estilo
deliciosamente infantil, mas por traz da aparência ingênua há discussões
filosóficas profundas. A trama, por exemplo, reflete duas visões de mundo. De
um lado, a visão estreita, utilitária e autoritário do mundo e do outro uma
visão guiada pela imaginação e pela curiosidade.
Os mais velhos estão
associados ao primeiro tipo e as crianças aos segundo. Enquanto a maioria dos
adultos, em especial aqueles que haviam ocupado cargos de poder, não aceita um
novo mundo, crianças e jovens na maioria aderem alegremente a Aslan. Há trechos
que refletem diretamente a fala de jesus sobre ser como crianças para entrar no
reino do céu - indício direto da visão de mundo verdadeiramente cristã de C S
Lewis. Essa visão juvenil também está associada a proteção da natureza:
enquanto os mais velhos derrubam as árvores, secam as fontes, os mais jovens,
exemplificados por Caspian, estão em íntima ligação com a floresta.
Ser cristão, para Lewis,
está associado a manter a visão juvenil de maravilhamento com o novo e com a
natureza. Essa percepção permeia toda a obra.
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