Os livros de Marcos Rey provocariam escândalo hoje em dia. |
Os livros de Marcos Rey provocariam escândalo hoje em dia. |
Entre facas e segredos, filme de Rian Johnson disponível na Amazon Vídeo, é uma homenagem e sátira às tramas policiais de Agatha Christie.
Na trama, um escritor policial é encontrado morto no dia seguinte ao seu aniversário de 85 anos. Aparentemente cometeu suicídio, mas um detetive particular, contratado por um cliente não identificado, desconfia que ele pode ter sido assassinado. Conforme vai entrevistando as várias pessoas que estiveram presente à festa de aniversário, o detetive percebe que muitas teriam motivos para matar o escritor. É o filho cuja diretoria da editora será tirada de suas mãos, é a nora que desviava dinheiro da faculdade da filha e perderá a boquinha, é o genro que tem um caso extraconjugal descoberto pelo sogro...
No centro de toda essa trama, a enfermeira que cuidava do escritor e que vomita toda vez que conta uma mentira.
Difícil contar detalhes sem estragar as muitas reviravoltas do roteiro. Mesmo mostrando em flash back todos os acontecimentos Rian Johnson sempre guarda um segredo – o que o expectador vê pode ter acontecido, mas ter outro significado. Assim, o diretor faz um jogo com o receptor, surpreendendo-o a todo instante.
Meu livro O roteiro nas histórias em quadrinhos está sendo disponibilizado de graça no site da editora Marca de Fantasia. A obra foi um dos primeiros textos publicados no Brasil sobre a atividade de escrita para quadrinhos e desde então se tornou bibliografia básica sobre o assunto. Para baixar, clique aqui.
No início da década de 1970 a revista do selvagem Conan
estava iniciando sua escalada para se tornar uma das mais vendidas do mercado
de quadrinhos norte-americanos e Roy Thomas, o roteirista, tinha um problema: ele queria uma personagem
feminina, que não estivesse na cronologia do herói e que ele pudesse usar à
vontade. Das personagens criadas por Robert E. Howard, Valeria era loira e
Belit era morena. Thomas precisava de uma ruiva. Foi quando leu um texto num
livro de ensaios sobre o gênero espada e magia que mencionava o conto A sombra
do abutre, que apresentava uma personagem ruiva que seria uma boa companheira
para Conan.
O roteirista foi atrás do conto original e descobriu que a
história se passava no final da Idade Média, durante o cerco de Viena por parte
dos turcos. A personagem era Red Sonya de Rogatino e dividia a história com um
guerreiro alemão.
Thomas colocou a personagem na era hiboriana e trocou seu
nome para Sonja. Surgia assim, numa história desenhada por Barry Windson Smith,
uma das personagens mais queridas dos quadrinhos. Mas Roy Thomas não gostava da
cota de malha e da calça collant que a personagem usara na história. Assim,
quando chegou em suas mãos uma pin-up de Esteban Maroto da heroina com um
biquíni de ferro, ele sabia que aquele seria o visual definitivo da heroína.
Maroto criou o visual da personagem. |
Em 2018, Roy Thomas foi convidado a participar de uma
convenção de quadrinhos em Barcelona e surgiu a ideia de aproveitar o evento
para o lançamento de um álbum de Sonja desenhado por ninguém menos que Esteban
Maroto (com a colaboração de Santi Casas). O resultado foi o álbum A balada da
deusa ruiva, publicado no Brasil em 2021 pela Pipoca e Nanquim.
A história mostra uma menestrel cantando uma balada para o
rei Thallos, que conquistara um império. Thallos tem poder e riquezas
inimagináveis, mas é atormentado pelo fantasma da morte e procura a fonte da
juventude na qual Sonja se banhou.
Santi Casas desenha parte da história. |
Essa moldura, desenhada com muita competência por Santi
Casas, serve de introdução para a origem de Conan, desenhada por Maroto. Embora
seu desenho seja mais comportado do que na época que colaborava com a Warren,
Maroto dá um show de narrativa com destaque para o trecho em que Sonja, após
ser estuprada e quase morrer nas mãos de bandoleiros, é revivida por uma deusa
– enquanto toda a HQ é preto e branco, a deusa é mostrada em vermelho – cor que
Sonja passa a exibir nos cabelos após ser revivida e empreender sua vingança.
Algo a se destacar é que a origem mostrada nesse álbum é muito mais crua e
violenta que aquela que os leitores da Marvel conheceram lá nos anos 70.
O álbum da Pipoca e Nanquim já seria
obrigatória para os fãs de Robert E. Howard só por conta da HQ, mas traz uma
incrível supresa: A sombra do abutre, o conto original na qual aparece a
personagem Red Sonya. Antes do resgate feito por Roy Thomas, o texto era tão
obscuro que só tinha publicado uma vez, na revista Magic Carpet. E o texto é surpreendentemente
bom, uma tremenda aventura com as descrições detalhadas e poderosas de Robert
E. Howard.
O álbum faz um uso criativo da cor vermelha. |
A primeira vez que a heroína aparece,
Howard a descreve da seguinte forma: “Ela era alta, esplendidamente bem
torneada, mas ágil. Por baixo do elmo de aço, tranças rebeldes ondulavam como
ouro vermelho ao sol, caindo sobre os ombros compactos. Botas altas de couro
cordovês chegavam até o meio das coxas, estas cobertas por calças largas. Ela vestia
uma camisa da mais fina cota de malha turca enfiada dentro das calças. Sua cintura
delgada estava envolva por um cinturão de seda verda, no qual portava duas
pistolas cruzadas, uma adaga, e do qual pendia um longo sabre húngaro. Um manto
escarlate cobria desleixadamente todo o conjunto”.
A Sonya da literatura é,
portanto, muito diferente visualmente da personagem dos quadrinhos, mas a
personalidadeé muito parecida: irascível, corajosa a ponto de se mostrar temerária...
e uma boca suja sem igual (característica que nos quadrinhos foi atenuada).
A história mostra a personagem
ajudando o grandalhão Gottfried von Kalmbach, que, tirando o porte físico, não
se parece em nada com Conan, a começar pelo longo bigode.
Os dois defendem Viena contra os
turcos e mais especificamente contra o guerreiro Mkhal Oglu, que, para apavorar
os inimigos usa, presa à armadura, uma asa com penas de abutre, daí o título do
conto: A sombra do abutre.
Revolucionários saúdam a deusa da razão (Danton é o último da esquerda) |
Homenagem a Voltaire |
Pêndulo de Foucault |
Túmulo de Voltaire |
Túmulo de Rousseau. |
A Legião Alien era uma das séries preferidas pelos leitores da saudosa revista Epic Marvel. A ideia de uma legião de soldados das mais variadas raças realizando missões impossíveis no espaço dividia espaço com ótima caracterizações de personagens, roteiro bem amarrado e desenhos e diagramação inovadores. Todas essas qualidades podem ser observadas na história Um dia para morrer, publicada no número 15 da coleção Graphic Novel, da Abril.
A história começa com um instrutor contando a recrutas sobre a glórias da Legião e seu mais famoso representante, o Capitão Vektor, que, encurralado por milhares de inimigos, enfrentou-os bravamente com apenas quatro homens. Dele restou apenas o braço mecânico, mantido como relíquia no museu da Legião.
Em seguida, a narrativa pula para o Capitão Sarigar, que recebe a missão de assassinar o líder dos tecnóides (um grupo de pessoas que abdica de seus corpos de carne para se tornarem androides), intalar o caos na capital tecnóide e colocar no lugar um governo favorável à Galarquia.
E o grupo que executará essa missão não poderia ser mais disfuncional: um só pensa em lucros, o outro está amargurado por ter sido abandonado pela noiva, o outro entra numa crise de consciência por ter de organizar um assassinato a sangue frio. Cada um deles muito bem representado tanto visualmente, com seus corpos alienígenas, quando psicologicamente.
TV Pirata, a série de humor revolucionária da Rede Globo, surgiu de uma atração da concorrente Bandeirantes. No ano de 1987 a Band apresentou o programa de fim de ano Wandergleyson show, escrito pelos integrantes do jornal Planeta Diário e da revista Casseta Popular. As duas publicações vinham revolucionando o humor com seu texto totalmente anárquico e desprovido de amarras. O programa era protagonizado por Pedro Cardoso e Luiz Fernando Guimarães e apresentava esquetes fechados, algo incomum numa época de personagens recorrentes. Boni, o chefão da Globo, assistiu ao especial e contratou imediatamente a trupe de roteiristas.
Para dirigir
foi chamado Guel Arraes, que já vinha mostrando grande inventividade na série
Armação Ilimitada. O elenco era composto por atores e atrizes na sua maioria
novatos na comédia televisiva, como Luiz Fernando Guimarães, Marco Nanini, Ney
Latorraca, Guilherme Karan, Cláudia Raia e Débora Bloch.
Com forte
inspiração no grupo inglês Monthy Piton, a TV Pirata quebrava com todos os
paradigmas do humor televisivo brasileiro (até então baseado na tradição
radiofônica) e satirizava tudo, em especial as atrações da própria Rede Globo,
como as novelas. A abertura, com um telejornal sendo invadido por um grupo de
piratas que colocava sua fita no ar representava perfeitamente esse tipo de
humor non-sense.
Era possível,
por exemplo, os personagens estarem dirigindo um carro e saírem do mesmo em
movimento, mostrando os bastidores da gravação em cromaqui e do veículo cenográfico.
Em dos esquetes, soldados na guerra do Vietnã pedem uma pizza enquanto estão
sob fogo cruzado.
Alguns
quadros beiravam o absurdo, como o Piada em debate, em que “especialistas”
discutiam aspectos sociológicos de anedotas. Até mesmo programas como Globo
Rural eram satirizados (virou Campo Rural).
Embora o foco
da atração não fossem os personagens fixos, pelo menos um ganhou a simpatia do
público e se tornou uma verdadeira sensação nacional: o velho Barbosa,
interpretado por Ney Latorraca e seu famoso bordão “Barboooosa”, que as pessoas
adoravam imitar. O personagem surgiu em Fogo no rabo, sátira da novela Roda de
Fogo.
Outro que se
tornou famoso foi o Zeca Bordoada, apresentador da TV Macho, versão satírica do
TV Mulher.
TV Pirata
renovou o humor televisivo e abriu caminho para outros programas, como o
Casseta e Planeta Urgente.
A obra de Ron Muek reflete sobre a hiper-realidade |
Os Smurfs são uma criação do quadrinista francês Peyo. A ideia surgiu durante um jantar com o amigo e também quadrinista André Franquin. Peyo que já tinha bebido um pouco de vinho, queria pedir sal, mas o que acabou saindo foi Schtroump. O amigo respondeu: "Bem, aqui está seu schtroumpf e quando acabar de schtroumpfar, schtroumpfe de volta".
Peyo gostou da brincadeira e resolveu aproveitar na série sobre a Idade Média que fazia na época. Assim, ele introduziu um grupo de duendes azuis chamados Schtroumpfs que falavam de um modo estranho. Esses personagens que deveriam aparecer em uma única história fizeram tanto sucesso que tomaram conta da série.
Quando um produtor comprou os direitos dos para os EUA, o nome foi trocado por algo mais fácil de ser pronunciado: os Smurfs. Em 1981 os personagens já faziam tanto sucesso mundo afora que foi criado um desenho animado, uma produção da Hanna-Barbera, que se transformou numa febre. Foram 256 episódios, fora os especiais. Mais recentemente, os personagens também ganharam filmes com animação em 3D.
Hoje é o Dia Nacional do livro.