domingo, outubro 31, 2021

Por que os livros paradidáticos hoje em dia são assim?

 

Os livros de Marcos Rey provocariam escândalo hoje em dia. 


Quando tinha 11 anos minha filha me disse: “Pai, eu acho que os livros paradidáticos são feitos para a gente aprender a não gostar de livros”. Meu filho, de 17, concordou.
Isso me espantou porque os dois são leitores vorazes. Meu filho mais de livros, principalmente sobre cinema e história. Minha filha de quadrinhos, em especial Turma da Mônica (os números prediletos, alguns, autografados, guardados caixas especiais.) e Mafalda. Somos assinantes de revistas como a Superinteressante, Mundo Estranho e Galileu, que são disputadas a tapa quando chegam em casa.
Então, se os dois gostam de ler, porque não gostam dos livros paradidáticos?
Perguntei se eles não tinham gostado de nenhum livro. Eles me destacaram dois: uma adaptação de Os miseráveis, de Victor Hugo, e “”Durma em paz, meu amor”, de Pedro Bandeira, sobre jovens que contam histórias de fantasma em uma noite de tempestade.
Contei a eles que na minha época, os livros paradidáticos eram um passo importante no gosto pela leitura. O primeiro que li foi Aventuras de Xisto, tão manuseado que chegou num ponto em que eu havia decorado todas as páginas. Depois vieram os deliciosos romances policiais de Marcos Rey, como O rapto do garoto de ouro. Eram histórias apaixonantes, que envolviam o leitor com muita aventura, suspense e até humor.
Minha filha me explicou que hoje a maioria dos livros não era assim e deu um exemplo de um livro sobre a família: um professor falava sobre o assunto, os alunos faziam seus trabalhos e depois cada um apresentava. Não havia conflito, trama, nada, apenas uma lição de moral sobre a importância da família.
Isso me fez refletir sobre algo que já desconfiava há muito: os livros juvenis hoje são feitos para não provocarem polêmica, não desagradar a ninguém. Um tema mais espinhoso pode ser a razão pela qual os professores deixam de adotar a obra com medo de serem denunciados pelos pais, virarem notícia no jornal. Assim, evita-se conflitos, os personagens são todos padronizados, bonzinhos na maioria, como se a trama só existisse para passar uma lição, seja sobre a importância da família ou sobre palavra que se deve aprender para ser uma pessoa educada.  
O resultado são obras tão assépticas quanto salas de cirurgia. Como dizia Isaac Assimov, se chatice matasse, ler esses livros seria uma sentença de morte.
Tanto esquerda quanto direita estão empenhadas numa cruzada para “defender as crianças”. E defender as crianças significa mantê-las longe de qualquer coisa que os pais considere inadequado. Exemplo muito bom disso foi o escândalo recente da graphic novel dos Vingadores, vendida na Bienal do Livro, que continha um quadrinho com um beijo entre dois personagens gays. Foi o suficiente para mobilizar vereadores, prefeito, fiscais, policiais e todo o aparato governamental. E o quadrinho nem mesmo estava sendo adotado em escolas. Era uma graphic novel, publicações caras, voltadas para o público adulto. Mas a fúria dos “defensores das crianças” foi maior que qualquer bom senso.
Existe, por exemplo, um grupo propondo o banimento dos livros de Monteiro Lobato das escolas (não se fala em censura, dizem que estão apenas protegendo as crianças). O mesmo aconteceu com a obra do quadrinista norte-americano Will Eisner, acusado de pedofilia e pornografia por conta de uma história em que uma menina levanta a saia para enganar o zelador de um prédio e de outra em que aparece a costa nua de uma mulher.
O escritor Lewis Carroll não é adotado em escolas públicas por conta da suspeita de que ele seria pedófilo.
Até mesmo o singelo Aventuras de Xisto, que fez a alegria de minha infância, dificilmente existiria hoje em dia. A história de fantasia se passa numa Idade Média imaginária repleta de magia. Já no primeiro capítulo o livro traz motivos de sobra para polêmica. Na escola, Xisto prega uma peça em seu professor rabugento, fazendo-o acreditar que está surdo. A figura do professor rabugento e a brincadeira certamente não passariam em branco hoje em dia. Mas as acusações mais sérias certamente viriam da caracterização dos protagonistas. Xisto, o herói, é loiro e bonito, um encanto. Já Bruzo, o filho da empregada, é moreno e gordo. E burro (“pena que tivesse um raciocínio um tanto confuso...”). Hoje provocaria manchetes de jornais, com pais e professores revoltados com a história por seu conteúdo racista e preconceituoso.
Enquanto nos deliciávamos com as aventuras de Xisto nenhum de nós jamais teve a leitura de se tratava de preconceito, mas hoje um livro desses certamente seria considerado má-influência.
Até Maurício de Sousa já sofreu, e muito, nesses tempos de politicamente correto. Uma tira em que o barbeiro usa ferramentas de pedreiro para cortar o cabelo do Cascão foi acusada de racismo por muitos, que preferiram ignorar o fato de que o Cascão é um personagem branco.
A série toda a Turma da Mônica foi acusada de ser um estímulo ao buyiling, numa referência às surras que a Mônica dá no Cebolinha e no Cascão. Segundo a acusação, as histórias em quadrinhos estimulavam as crianças a resolverem os conflitos na base da violência.
Nesses tempos de politicamente correto, a obra juvenil de Marcos Rey seria uma impossibilidade. Títulos como Gincana da morte, corrida infernal, o diabo no porta-malas, O rapto do garoto de ouro e Doze horas de terror jamais seriam selecionados pelos professores justamente pela presença de palavras como “terror”, “morte”, “infernal”, “diabo” e “rapto”.
A obra mais famosa de Marcos Rey, O mistério do cinco estrelas, começa com um assassinato. Em Bem-vindos ao Rio um grupo de meninos de rua seqüestra um garoto e uma garota de classe média. Alguém consegue imaginar um livro desses sendo lido nas escolas hoje em dia?  Os defensores da moral e dos bons costumes estariam fazendo passeatas e correntes no zap zap denunciando o caso.
Aliás a própria existência de um Marcos Rey juvenil seria uma impossibilidade. Que editor hoje convidaria para escrever para crianças um cara que passou a década de 1970 vivendo de escrever pornochanchadas? Seria um escândalo nacional, motivo de matérias na grande imprensa e de protestos acalorados de pais e professores.
Felizmente, na minha infância, vivíamos outros tempos, e Marcos Rey não só pôde publicar seus livros como encantou toda uma geração, que se apaixonou pela leitura viajando em suas histórias policiais. 
Da mesma forma, gerações e gerações se apaixonaram pela leitura com Monteiro Lobato, Aventuras de Xisto e muitas outras obras. Mas isso foi numa época em que os livros eram apresentados às crianças para que elas mesmas tirassem suas conclusões e interpretações. Hoje, o politicamente correto tanto da direita quanto da esquerda quer proteger as crianças de tudo e de todos. O resultado estamos vendo aí: uma geração que não gosta de livros. Mas isso não parece ser motivo de preocupação.

Fundo do baú - Os primeiros desenhos animados da Marvel

 

Em 1966 o seriado do Batman estreado por Adam West era um fenômeno nos EUA. Foi quando tiveram a ideia de levar para as telas os heróis Marvel que estavam revolucionando os gibis americanos.
O roteirista Stan Lee associou-se aos produtores Steve Krantz e Bob Lawrence e venderam a ideia para a Paramount.
Tudo foi feito a toque de caixa com um orçamento baixíssimo para aproveitar a onda de super-heróis.
Para se ter uma ideia, um único estúdio fez 5 séries de 13 episódios cada em um único ano. Um verdadeiro recorde.
A receita era simples: pegavam os desenhos das histórias em quadrinhos e animavam no máximo um olho, uma boca ou uma mão. Os personagens não andavam ou corriam, deslizavam pela tela.
A  técnica de animação era tão tosca que as série são conhecidas hoje no Brasil como os desenhos desanimados da Marvel.
Para estrear o desenho foram escolhidos o Capitão América (em aventuras que incluíam os Vingadores), Thor, Hulk, Homem de Ferro e Namor.
Era possível ver na tela os incríveis roteiros de Stan Lee e o traço de Jack Kirby, Don Heck e Gene Colan, todos grandes desenhistas de quadrinhos.
Esses desenhos tinham aberturas com músicas cheias de gírias que se tornaram clássicos da bizarrice.
Confira as músicas do Homem de Ferro e do Hulk, provavelmente as duas mais bizarras e mais divertidas: 

Tony Stark, tira a onda
Que é cientista espacial
Mas também é Homem de Ferro
Elétrico, atômico, genial
Dura armadura, Homem de Ferro
E lenha pura, Homem de Ferro


Pobre Bruce Banner, por lindo cano entrou
Exposto à raios gama, no feio Hulk virou
Esse monstro é incompreendido
Grosso, massa, luta por ser querido
Na fossa vive o Hulk! Hulk! Hulk!

Quem poderia imaginar o feio Hulk lutando pra ser querido? 

Entre facas e segredos

 


Entre facas e segredos, filme de Rian Johnson disponível na Amazon Vídeo, é uma homenagem e sátira às tramas policiais de Agatha Christie.

Na trama, um escritor policial é encontrado morto no dia seguinte ao seu aniversário de 85 anos. Aparentemente cometeu suicídio, mas um detetive particular, contratado por um cliente não identificado, desconfia que ele pode ter sido assassinado. Conforme vai entrevistando as várias pessoas que estiveram presente à festa de aniversário, o detetive percebe que muitas teriam motivos para matar o escritor. É o filho cuja diretoria da editora será tirada de suas mãos, é a nora que desviava dinheiro da faculdade da filha e perderá a boquinha, é o genro que tem um caso extraconjugal descoberto pelo sogro...

No centro de toda essa trama, a enfermeira que cuidava do escritor e que vomita toda vez que conta uma mentira.

Difícil contar detalhes sem estragar as muitas reviravoltas do roteiro. Mesmo mostrando em flash back todos os acontecimentos Rian Johnson sempre guarda um segredo – o que o expectador vê pode ter acontecido, mas ter outro significado. Assim, o diretor faz um jogo com o receptor, surpreendendo-o a todo instante.

Essa trama poderia ser facilmente uma adaptação de um livro de Agatha Christie não fosse o toque de humor e o exagero proposital em algumas atuações e na própria direção. O detetive particular interpretado por Daniel Craig é prolixo, excessivamente auto-confiante, mas muitas vezes parece estar perdido na trama – e a solução sobre o caso surge de insight no último momento. Acrescente a isso uma edição rápida, ângulos e movimentos de câmera pouco convencionais e temos um filme policial realmente diferente.

Livro O roteiro nas histórias em quadrinhos de graça no site da editora

 


 

Meu livro O roteiro nas histórias em quadrinhos está sendo disponibilizado de graça no site da editora Marca de Fantasia. A obra foi um dos primeiros textos publicados no Brasil sobre a atividade de escrita para quadrinhos e desde então se tornou bibliografia básica sobre o assunto. Para baixar, clique aqui

Interfaces midiáticas na Amazônia

 

Em 2014, a Unifap lançou um edital de publicações e dois professores do curso de comunicação apresentaram uma proposta de uma antologia de artigos sobre a questão da comunicação na Amazônia.
 O livro acabaria sendo publicado em 2015 com o título de Interfaces midiáticas na Amazônia. Eu colaborei com o artigo “O pânico gasolina: como uma noticia falsa gerou uma crise de combustível em Macapá”.
O texto versava sobre um caso real, semelhante ao famoso pânico Guerra dos Mundos, de 1938, em que uma transmissão radiofônica dirigida por Orson Welles provocou pânico nos EUA.
No caso em específico, um radialista noticiou que a cidade de Macapá voltaria a ter falta de gasolina (já havia ocorrido de fato uma crise alguns dias antes). As pessoas, desesperadas, correram para os postos e, quem via os postos cheios, entrava também na fila num efeito dominó que acabou provocando de fato uma crise de abastecimento, já que os postos não estavam preparados para essa demanda exagerada.
No artigo eu não só conto essa história em detalhes, como analiso a situação do ponto de vista da teoria hipodérmica, um das primeiras teorias da comunicação.

Red Sonja – a balada da deusa ruiva

 


No início da década de 1970 a revista do selvagem Conan estava iniciando sua escalada para se tornar uma das mais vendidas do mercado de quadrinhos norte-americanos e Roy Thomas, o roteirista,  tinha um problema: ele queria uma personagem feminina, que não estivesse na cronologia do herói e que ele pudesse usar à vontade. Das personagens criadas por Robert E. Howard, Valeria era loira e Belit era morena. Thomas precisava de uma ruiva. Foi quando leu um texto num livro de ensaios sobre o gênero espada e magia que mencionava o conto A sombra do abutre, que apresentava uma personagem ruiva que seria uma boa companheira para Conan.

O roteirista foi atrás do conto original e descobriu que a história se passava no final da Idade Média, durante o cerco de Viena por parte dos turcos. A personagem era Red Sonya de Rogatino e dividia a história com um guerreiro alemão.

Thomas colocou a personagem na era hiboriana e trocou seu nome para Sonja. Surgia assim, numa história desenhada por Barry Windson Smith, uma das personagens mais queridas dos quadrinhos. Mas Roy Thomas não gostava da cota de malha e da calça collant que a personagem usara na história. Assim, quando chegou em suas mãos uma pin-up de Esteban Maroto da heroina com um biquíni de ferro, ele sabia que aquele seria o visual definitivo da heroína.

Maroto criou o visual da personagem. 


Em 2018, Roy Thomas foi convidado a participar de uma convenção de quadrinhos em Barcelona e surgiu a ideia de aproveitar o evento para o lançamento de um álbum de Sonja desenhado por ninguém menos que Esteban Maroto (com a colaboração de Santi Casas). O resultado foi o álbum A balada da deusa ruiva, publicado no Brasil em 2021 pela Pipoca e Nanquim.

A história mostra uma menestrel cantando uma balada para o rei Thallos, que conquistara um império. Thallos tem poder e riquezas inimagináveis, mas é atormentado pelo fantasma da morte e procura a fonte da juventude na qual Sonja se banhou.

Santi Casas desenha parte da história. 


Essa moldura, desenhada com muita competência por Santi Casas, serve de introdução para a origem de Conan, desenhada por Maroto. Embora seu desenho seja mais comportado do que na época que colaborava com a Warren, Maroto dá um show de narrativa com destaque para o trecho em que Sonja, após ser estuprada e quase morrer nas mãos de bandoleiros, é revivida por uma deusa – enquanto toda a HQ é preto e branco, a deusa é mostrada em vermelho – cor que Sonja passa a exibir nos cabelos após ser revivida e empreender sua vingança. Algo a se destacar é que a origem mostrada nesse álbum é muito mais crua e violenta que aquela que os leitores da Marvel conheceram lá nos anos 70.

O álbum da Pipoca e Nanquim já seria obrigatória para os fãs de Robert E. Howard só por conta da HQ, mas traz uma incrível supresa: A sombra do abutre, o conto original na qual aparece a personagem Red Sonya. Antes do resgate feito por Roy Thomas, o texto era tão obscuro que só tinha publicado uma vez, na revista Magic Carpet. E o texto é surpreendentemente bom, uma tremenda aventura com as descrições detalhadas e poderosas de Robert E. Howard.

O álbum faz um uso criativo da cor vermelha. 


A primeira vez que a heroína aparece, Howard a descreve da seguinte forma: “Ela era alta, esplendidamente bem torneada, mas ágil. Por baixo do elmo de aço, tranças rebeldes ondulavam como ouro vermelho ao sol, caindo sobre os ombros compactos. Botas altas de couro cordovês chegavam até o meio das coxas, estas cobertas por calças largas. Ela vestia uma camisa da mais fina cota de malha turca enfiada dentro das calças. Sua cintura delgada estava envolva por um cinturão de seda verda, no qual portava duas pistolas cruzadas, uma adaga, e do qual pendia um longo sabre húngaro. Um manto escarlate cobria desleixadamente todo o conjunto”.

A Sonya da literatura é, portanto, muito diferente visualmente da personagem dos quadrinhos, mas a personalidadeé muito parecida: irascível, corajosa a ponto de se mostrar temerária... e uma boca suja sem igual (característica que nos quadrinhos foi atenuada).

A história mostra a personagem ajudando o grandalhão Gottfried von Kalmbach, que, tirando o porte físico, não se parece em nada com Conan, a começar pelo longo bigode.

Os dois defendem Viena contra os turcos e mais especificamente contra o guerreiro Mkhal Oglu, que, para apavorar os inimigos usa, presa à armadura, uma asa com penas de abutre, daí o título do conto: A sombra do abutre.

sábado, outubro 30, 2021

Panteão de Paris

 


O Panteão era originalmente uma igreja dedicada a Santa Genoveva. Quando eclodiu a Revolução Francesa, o prédio foi transformado em um ponto histórico, onde são enterrados os grandes nomes franceses. Voltaire e Rousseau estão enterrados lá, um de frente para o outro. Ali também está o túmulo do famoso escritor Victor Hugo.
A arquitetura neo-clássica, por si só já é digna de nota, mas o local tem muitos outros atrativos. O edifício é no formato de uma cruz grega e tem várias pinturas e estátuas, inclusive dois conjuntos frente a frente: um em homenagem a Rousseau, outro em homenagem a Voltaire.
Revolucionários saúdam a deusa da razão (Danton é o último da esquerda) 

Homenagem a Voltaire
A nave principal é curiosa: o altar foi substituído por um monumento em homenagem à revolução francesa (é possível ver, entre as estátuas, Danton, saudando Marianne, a deusa da razão e da liberdade). 
Pêndulo de Foucault

Um pouco antes temos o Pêndulo de Foucault, a experiência realizada por Jean Bernard Léon Foucault para demonstrar a rotação da terra.
O panteão é uma verdadeira viagem pela história e ciência francesas.
Túmulo de Voltaire
Túmulo de Rousseau.

A hora do vampiro

 

Li A hora do vampiro, de Stephen King.
O livro é de 1975 e foi lançado na sequência de Carrie. Mostra um King em plena forma: na pequena cidade de Salem´s Lot, uma antiga mansão, na qual um homem se matou e matou a esposa, volta a ser ocupada. Desde o começo, o leitor advinha que os novos moradores são vampiros, mas na primeira metade da obra, o que mais interessa são os ótimos personagens (entre eles o protagonista, um escritor que volta para a cidade natal) e a ambientação. King cria uma cidade tão realista que, quando surge o terror,você fica pensando: Será que os heróis serão presos por homicídio após cravarem a estaca no coração do vampiro? Quem leu a história sobre vampiros escrita por Alan Moore para o Monstro do Pântano vai lembrar imediatamente dessa HQ ao ler A hora do vampiro. Moore nitidamente se inspirou em King ao estabalecer a ideia de uma cidade habitada por vampiros.
A hora do vampiro também é interessante por antecipar o King da escrita automática, solta, que veríamos em Saco de ossos, por exemplo.
A garotada que hoje curte Crepúsculo deveria ler King para saber o que realmente é trabalhar com vampiros.  
Como não poderia deixar de ser, A hora do vampiro virou filme e fez tanto sucesso que surgiram vários outros títulos semelhantes em português. Quando a Sampa resolveu fazer uma copilação de histórias minhas e do Bené, eles a chamaram de A hora do Crepúsculo.

Revista acadêmica publica artigo de Gian Danton sobre verossimilhança hiper-real

 

Meu artigo Verossimilhança hiper-real nos quadrinhos de Alan Moore foi publicado na revista Cajueiro. No artigo, eu analiso uma estratégia, usada por Alan Moore, para fazer com que seus quadrinhos pareçam reais a ponto de alguns leitores acreditarem que aquilo que é narrado aconteceu mesmo. Alguns exemplos: os anexos de Watchmen e a série 1963, que emula perfeitamente as revistas da Marvel na década de 1960.
A edição, totalmente dedicada aos quadrinhos, tem a colaboração de vários grandes nomes da pesquisa em quadrinhos no Brasil, como Gazy AndrausNatania A S Nogueira e Valéria Fernandes Da Silva.
Para acessar os artigos, clique no link:https://seer.ufs.br/index.php/Cajueiro/issue/view/1023 

Legião Alien – um dia para morrer

 


A Legião Alien era uma das séries preferidas pelos leitores da saudosa revista Epic Marvel. A ideia de uma legião de soldados das mais variadas raças realizando missões impossíveis no espaço dividia espaço com ótima caracterizações de personagens, roteiro bem amarrado e desenhos e diagramação inovadores.  Todas essas qualidades podem ser observadas na história Um dia para morrer, publicada no número 15 da coleção Graphic Novel, da Abril.

A história começa com um instrutor contando a recrutas sobre a glórias da Legião e seu mais famoso representante, o Capitão Vektor, que, encurralado por milhares de inimigos, enfrentou-os bravamente com apenas quatro homens. Dele restou apenas o braço mecânico, mantido como relíquia no museu da Legião.



Em seguida, a narrativa pula para o Capitão Sarigar, que recebe a missão de assassinar o líder dos tecnóides (um grupo de pessoas que abdica de seus corpos de carne para se tornarem androides), intalar o caos na capital tecnóide e colocar no lugar um governo favorável à Galarquia.

E o grupo que executará essa missão não poderia ser mais disfuncional: um só pensa em lucros, o outro está amargurado por ter sido abandonado pela noiva, o outro entra numa crise de consciência por ter de organizar um assassinato a sangue frio. Cada um deles muito bem representado tanto visualmente, com seus corpos alienígenas, quando psicologicamente.

E a trama é muito bem bolada, com um enredo que ecoa diretamente a famosa frase do filme O homem que matou o fascínora: “Quando a lenda é mais fascinante que a realidade, publique-se a lenda”.

A arte estranha de Arcimboldo

 

Arcimboldo é, provavelmente, um dos mais criativos pintores de toda a história da arte. Seus retratos eram feitos a partir da junção de imagens: flores, verduras, frutas, raízes e até animais. Foi protegido do rei Fernando I, monarca do reino da Boêmia, e de seus sucessores. Na época, a Boêmia, embora fosse um reino católico, era um local bastante tolerante, o que permitiu que o pintor pudesse realizar sua arte repleta de dualidade e simbologias. Embora tenha sido ignorado após a sua morte e quase esquecido por séculos, Arcimboldo foi resgatado pelos surrealistas, que o consideravam uma forte influência. 







Fundo do baú - TV Pirata



TV Pirata, a série de humor revolucionária da Rede Globo, surgiu de uma atração da concorrente Bandeirantes. No ano de 1987 a Band apresentou o programa de fim de ano Wandergleyson show, escrito pelos integrantes do jornal Planeta Diário e da revista Casseta Popular. As duas publicações vinham revolucionando o humor com seu texto totalmente anárquico e desprovido de amarras. O programa era protagonizado por Pedro Cardoso e Luiz Fernando Guimarães e apresentava esquetes fechados, algo incomum numa época de personagens recorrentes. Boni, o chefão da Globo, assistiu ao especial e contratou imediatamente a trupe de roteiristas.

Para dirigir foi chamado Guel Arraes, que já vinha mostrando grande inventividade na série Armação Ilimitada. O elenco era composto por atores e atrizes na sua maioria novatos na comédia televisiva, como Luiz Fernando Guimarães, Marco Nanini, Ney Latorraca, Guilherme Karan, Cláudia Raia e Débora Bloch.

Com forte inspiração no grupo inglês Monthy Piton, a TV Pirata quebrava com todos os paradigmas do humor televisivo brasileiro (até então baseado na tradição radiofônica) e satirizava tudo, em especial as atrações da própria Rede Globo, como as novelas. A abertura, com um telejornal sendo invadido por um grupo de piratas que colocava sua fita no ar representava perfeitamente esse tipo de humor non-sense.

Era possível, por exemplo, os personagens estarem dirigindo um carro e saírem do mesmo em movimento, mostrando os bastidores da gravação em cromaqui e do veículo cenográfico. Em dos esquetes, soldados na guerra do Vietnã pedem uma pizza enquanto estão sob fogo cruzado.

Alguns quadros beiravam o absurdo, como o Piada em debate, em que “especialistas” discutiam aspectos sociológicos de anedotas. Até mesmo programas como Globo Rural eram satirizados (virou Campo Rural).

Embora o foco da atração não fossem os personagens fixos, pelo menos um ganhou a simpatia do público e se tornou uma verdadeira sensação nacional: o velho Barbosa, interpretado por Ney Latorraca e seu famoso bordão “Barboooosa”, que as pessoas adoravam imitar. O personagem surgiu em Fogo no rabo, sátira da novela Roda de Fogo.

Outro que se tornou famoso foi o Zeca Bordoada, apresentador da TV Macho, versão satírica do TV Mulher.

TV Pirata renovou o humor televisivo e abriu caminho para outros programas, como o Casseta e Planeta Urgente.

sexta-feira, outubro 29, 2021

O mundo hiper-real

 

A obra de Ron Muek reflete sobre a hiper-realidade

Olhe à sua volta. As propagandas que você vê, os filmes a que você assiste, a comida que você come. Tudo isso parece real, não? Mas não é. Nós deixamos de viver na realidade. Hoje vivemos em um mundo hiper-real.
A hiper-realidade é uma ficção, um simulacro, que é percebido como real. Baudrillard explica usando o exemplo de alguém que simula uma doença. Alguém que finge estar doente está apenas mentindo, mas quem simula chega ao ponto de sentir os sintomas, é como se a doença tivesse se fato se instalado na pessoa, embora ela seja apenas uma criação mental (exemplo disso é a chamada gravidez psicológica).
Na hiper-realidade, portanto, torna-se cada vez mais difícil distinguir a realidade da ficção, o natural do criado pelo homem. Um momento fundamental dessa mistura aconteceu durante os ataques terroristas de 11 de setembro. Aquilo parecia tanto com um filme que na França as transmissões eram acompanhadas do aviso: “Isto não é ficção”.
Essa confusão entre ficção e realidade tem um precedente famoso no Brasil: desde que as novelas estrearam entre nós se tornou comum que os telespectadores confundissem o ator com o personagem. Atores que interpretavam vilões muitas vezes eram insultados e até agredidos na rua.

Mas não é preciso ir muito longe ou mesmo ligar a TV. Abra a geladeira. É possível que você encontre lá cenouras. Podem parecer reais, mas não são. As cenouras reais são feias, murchas, pálidas. Aquelas cenouras bonitas, amarelas, grandes que você provavelmente tem em sua geladeira são uma ficção, uma invenção humana. São cenouras hiper-reais.
Aliás, aí vai mais uma característica da hiper-realidade: ela é muito mais fascinante que a realidade. Há uma anedota sobre isso. Uma mulher elogia a beleza de uma menina, ao que a mãe responde: “Se você acha ela bonita, precisava ver a foto dela!”.
Ainda na geladeira podemos ver isso nas embalagens de produtos congelados. As fotos das embalagens são lindas, irresistíveis, deliciosas. Você abre, é algo completamente diferente. O sanduíche vistoso da embalagem é uma coisa murcha e pequena. A lasanha saborosa, crocante, lustrosa da capa é uma massa gosmenta. As imagens hiper-reais da embalagem são muito mais interessantes que a comida em si.
No cinema então a diferença é gritante. Entramos na sala escura e vemos mundos extraterrestres extraordinários e acreditamos neles mais do que acreditamos no mundo lá fora. Até mesmo em filmes urbanos, como 50 tons, a fotografia hiper-real faz com que tudo seja fascinante, romântico, perfeito como o mundo real jamais será.
As também as pessoas se tornam hiper-reais. Um vídeo viralizou na internet ao mostrar todo o processo pelo qual passam as modelos de propagandas: da luz à maquiagem, passando pela manipulação digital, que as torna mais magras, esguias, tira manchas, espinhas, tornando-a perfeita segundo o um padrão de beleza estabelecido. E essa mulher hiper-real se torna o modelo a ser seguido, um modelo inalcançável.

Aliás, a mulher perfeita, hiper-real não está apenas nos anúncios. Ela existe em carne em osso. Ou melhor, em silicone. São as real dolls, novas bonecas sexuais produzidas ao gosto do freguês, que escolhe a cabeça, o tronco, os seios, as pernas até montar sua mulher ideal.
Os fabricantes perceberam, no entanto, que muitos homens não se excitavam com mulheres “reais”, mas com suas versões em anime ou mangá. Isso abriu um novo mercado: o de bonecas sexuais baseadas em personagens de animes. Ou seja: o simulacro do simulacro.
Na mão inversa desse fenômeno, surge um outro: mulheres que fazem de tudo para se parecerem com bonecas, como no caso da Barbie humana, que realizou diversas cirurgias para ficar o mais parecida possível com a famosa boneca. Em redes sociais como o Facebook é possível encontrar grupos de garotas que dão dicas de maquiagens, roupas e outras para quem pretende incorporar uma boneca.
Em tempos de internet, até a identidade se torna hiper-real, sendo definida pelo que as pessoas postam nas redes sociais. E geralmente essas publicações são escolhidas e pensadas pela imagem que irão passar. A maioria das pessoas escolhe as melhores fotos, os melhores momentos. No Facebook todo mundo é feliz e todos vivem em eternas férias. Essa situação foi aproveitada por uma designer holandesa que se fechou em sua casa durante um mês e, manipulando fotos, simulou uma viagem ao redor do mundo. Todos de seu círculo de amizade acreditaram.
Esse é o mundo em que vivemos: um mundo hiper-real em que modelo se sobrepõe ao original, em que imagens perdem seus referentes, em que é cada vez mais difícil distinguir ficção de realidade. 

Fundo do baú - Smurfs

 


Os Smurfs são uma criação do quadrinista francês Peyo. A ideia surgiu durante um jantar com o amigo e também quadrinista André Franquin. Peyo que já tinha bebido um pouco de vinho, queria pedir sal, mas o que acabou saindo foi Schtroump. O amigo respondeu: "Bem, aqui está seu schtroumpf e quando acabar de schtroumpfar, schtroumpfe de volta".

Peyo gostou da brincadeira e resolveu aproveitar na série sobre a Idade Média que fazia na época. Assim, ele introduziu um grupo de duendes azuis chamados Schtroumpfs que falavam de um modo estranho. Esses personagens que deveriam aparecer em uma única história fizeram tanto sucesso que tomaram conta da série.

Quando um produtor comprou os direitos dos para os EUA, o nome foi trocado por algo mais fácil de ser pronunciado: os Smurfs. Em 1981 os personagens já faziam tanto sucesso mundo afora que foi criado um desenho animado, uma produção da Hanna-Barbera, que se transformou numa febre. Foram 256 episódios, fora os especiais. Mais recentemente, os personagens também ganharam filmes com animação em 3D. 

Umpa-pá: a gênese de Asterix

 

Umpa-pa é uma espécie de primo de Asterix. Criado por Goscinny e Uderzo, os mesmos de Asterix, ele surgiu um ano antes do gaulês, em 1958. O personagem é um índio norte-americano no período inicial da colonização britânica. Uderzo ainda estava acertando o traço e Goscinny ainda não tinha se tornado o mestre do humor e do trocadilho, embora ele já estivesse treinando (a tribo do protagonista se chama Cumekivai) e a trama acaba variando entre o humor e a aventura. Umpa-pá foi uma espécie de treino para os dois artistas, antes de sua grande criação. Mesmo assim, é um quadrinho divertido de se ler.

Dia nacional do livro: A minha lista dos melhores

 Hoje é o Dia Nacional do livro. 

Para comemorar, a lista dos 100 livros que considero essenciais. 
Fiquei tentado a colocar quadrinhos, mas preferi fazer uma lista só de HQs, que sairá em breve.


1.     História do mundo para crianças, de Monteiro Lobato

2.     Urupês, de Monteiro Lobato

3.     1984, de George Orwell

4.     Farenheit 451, de Ray Bradbury

5.     Admirável mundo novo, de Adous Huxley

6.     Robison Crusué, de Daniel Defoe

7.     As viagens de Gulliver, de Jonathan Swift

8.     O nome da rosa, de Umberto Eco

9.     O último mamífero do Martinelli, de Marcos Rey
10.   As aventuras de Sherlock Holmes, de Arthur Conan Doyle

11.   Fundação, de Isaac Asimov
12.   Os pilares da terra, de Ken Follett
13.   Guerra dos mundos, de H. G. Welles
14.   Guerra dos tronos, de George Martin
15.   Eu robô, de Isaac Asimov

16.   Crônicas Marcianas, de Ray Bradbury
17.   O caso dos dez negrinhos, de Agatha christie
18.   O Aleph, Jorge Luis Borges 
19.   Um Estudo em Vermelho, Arthur Conan Doyle
20.   O Homem Ilustrado, Ray Bradbury

21.   Viagem ao centro da terra, de Julio Verne
22.   Histórias Extraordinárias, Edgar Allan Poe
23.   À espera de um milagre, de Stephen King
24.   Cemitério, de Stephen King
25.   Quatro estações, de Stephen King

26.   Um conto de duas cidades, de Charles Dickens
27.   Revolução dos bichos, de George Orwell
28.   Noites na Taverna, Álvares de Azevedo
29.   O Relato de Arthur Gordon Pym, Edgar Allan Poe
30.   A Ilha do Dia Anterior, Umberto Eco
31.   Eu Sou a Lenda, Richard Matheson
32.   Assassinato no Expresso do Oriente, Agatha Christie
33.   Elefantes não esquecem, de Agatha Christie
34.   O espião pacifista, de Donald Westlake
35.   Safra vermelha, de Dashiell Hammett
36.   O sequestro do metrô, de John Godey

37.   Carrie, de Stephen King
38.   O cair da noite, de Isaac Asimov
39.   A máquina do tempo, de H. G. Wells
40.   Conto de Natal, de Charles Dickens
41.   Operação cavalo de troia, de J.J. Benitez
42.   O hobbit, de J.R.R. Tolkien
43.   O chamado de Cthulhu, de H.P. Lovecraft

44.   As crônicas de Narnia, de C.S. Lewis
45.   O mistério do cinco estrelas, de Marcos Rey
46.   As aventuras de Xisto, de Lúcia Machado de Almeida
47.   O capote, de Nicolai Gógol
48.   O Nariz, de Nicolai Gógol
49.   Medo e delírio em Las Vegas, de Hunter Thompson
50.   Oliver Twist, de Charles Dickens
51.   O homem que queria ser rei, de Rudyard Kipling
52.   A reforma da natureza, de Monteiro Lobato
53.   A voz do fogo, de Alan Moore
54.   Fumaça e espelhos, de Neil Gaiman
55.   A caminho de Wigan, de George Orwell
56.   O cortiço, de Aluisio Azevedo

57.   História universal da infâmia, Jorge Luís Borges
58.   Cidades Mortas, de Monteiro Lobato
59.   Na pior em Paris e Londres, de George Orwell

60.   Tao te King, de Lao Tse
61.   Tudo é eventual, de Stephen King
62.   Bhagavad gita
63.   A ilha do Dr. Moureau, de H.G. Wells
64.   Perry Rhodan (série alemã de ficção-científica), vários autores
65.   O fim da eternidade, de Isaac Asimov
66.   O perfume, de Patrick Suskind
67.   A magia de Holy Wood, de Terry Pratchett
68.   O longo adeus, de Raymond Chandler
69.   Os crimes ABC, de Agatha Christie
70.   As dez torres de sangue, Carlos Orsi Martinho
71.   Magos, antologia organizada por Isaac Asimov
72.   Cinco semanas em um balão, de Julio Verne
73.   Da terra à lua, de Julio Verne
74.   O país das peles, de Julio Verne
75.   Blecaute, de Marcelo Rubens Paiva
76.   O cão da meia-noite, de Marcos Rey
77.   O falcão maltês, de Dashiell Hammett
78.   Histórias alegres, contos de Mark Twain
79.   Fantoches, de Marcos Rey
80.   Congo, de Michael Crichton
81.   Os frutos dourados do sol, de Ray Bradbury
82.   O crime do Padre Amaro, de Eça de Queiroz
83.   Ivanhoé, de Walter Scott
84.  Um estranho em uma terra estranha, de Robert Heinlein
85.  O lobo do mar, de Jack London
86.   O mundo de Sofia, de Jostein Gaarder
87.   O coração das trevas, de Joseph Conrad
88.   A incendiária, de Stephen King
89.   O cão de Baskervilles, de Conan Doyle
90.   Frankstein, de Mary Shelley
91.   O cemitério, de Stephen King
92.   O incrível homem que encolheu, de Richard Matheson
93.   Realidades adaptadas –de Philip K. Dick
94.   Horror em Dunwich, de HP Lovecraft
95.   Ubik, de Philip K. Dick
96.   Rashômon e outros contos, de Ryūnosuke Akutagawa
97.   Zona Morta, de Stephen King
98.   O rapto do garoto de ouro, de Marcos Rey
99.   Mundo sem fim, de Ken Follett
100. Dinheiro do céu, de Marcos Rey