No final da década de 1930, John Huston já era um roteirista de prestígio em Hollywood e resolveu que iria dirigir um filme. O todo poderoso da Warner, Jack Warner, deu carta branca, mas impôs uma condição: teria que ser um filme barato.
Huston escolheu fazer uma adaptação do livro O falcão Maltês,
do escritor noir Dashiell Hammet, o que era um mau sinal. A obra já tinha sido
adaptada duas vezes para o cinema e nenhuma das duas tinha sido um grande sucesso
nem de crítica nem de público.
Além disso, o ator George Raft, escolhido para interpretar
o personagem Sam Spade, recusou. Ele alegou que o contrato lhe garantia fazer
apenas filmes importantes e, portanto, ele não faria um filme B destinado a ser
um fracasso.
O orçamento de 375 mil dólares era tão baixo que Humphrey
Bogart, o ator escolhido para substituir George Ralf, teve que comprar os
próprios ternos. Huston tinha só seis semanas para terminar as filmagens e o
contrato tinha uma cláusula de demissão caso ele extrapolasse o orçamento.
Bogart convence como o detetive cínico e durão.
Mas há males que vêm para o bem. Bogart deu ao detetive Sam
Spade um tom de cinismo único que gerou boa parte do sucesso do filme, alguém
capaz de desmascarar uma mentira só com uma risada.
Na história, uma mulher, Brigid O'Shaughnessy, contrata um
escritório de detetives para descobrir sua irmã, que estaria desaparecida
depois de se envolver com um gangster. Mas, ao investigar o caso, o detetive Miles
Archer acaba sendo morto. O mafioso é morto na mesma noite, de modo que a
suspeita de seu assassinato recai sobre o sócio de Archer, Sam Spade, que,
segundo a polícia, teria cometido um ato de vingança. Spade precisa descobrir o
que está acontecendo para provar que é inocente e, ao mesmo tempo, levar para a
cadeia o assassino de seu amigo.
Como era comum nas histórias de Dashiell Hammett, a história
que começa de uma maneira acaba tomando rumos inesperados. Assim, Spade
descobre que tudo gira em torno de uma estatueta, o falcão maltês, que é disputada
por várias pessoas.
Lançado em 1941, O falcão maltês é considerado o primeiro
do gênero noir e gerou uma infinidade de obras parecidas. A trama de uma pessoa
acusada de um assassinato que deve descobrir o que está acontecendo para provar
sua inocência foi imitada à exaustão em novelas, filmes e seriados.
Mary Astor faz o papel de uma mulher mentirosa e manipuladora.
Surpreendentemente, é um filme barato. Os cenários são pouquíssimos,
com destaque para a casa e o escritório de Sam Spade. Não há uma única cena de
externa. Essa escolha poderia tornar o filme limitado se não fosse a atuação
gloriosa do elenco, que mimetiza o público, seja a femme fatale dúbia Mary
Astor que parece estar mentido o tempo todo, mas ao mesmo tempo parece uma
mulher em perigo que precisa seja protegida seja o gordo mafioso (Sydney
Greenstreet) que fala o tempo todo ou o histérico Joel Cairo (Peter Lorre),
ajudante do mafioso.
Mas o destaque vai mesmo para o Sam Spade de Humphrey
Bogart. Muito longe dos heróis hollywoodianos, ele tem uma ética própria, mas é
capaz de mentir, fingir se aliar a bandidos e ao mesmo tempo ser implacável em
sua busca de vingança. Como um adicional, temos o fato de que ele de fato
consegue nos convencer quando, por exemplo, puxa o sobretudo de um bandido para
se apoderar das duas armas dele. Sam Spade de bogart era um cara durão e cínico.
As estatuetas usadas no filme são disputadas por colecionadores.
O grande segredo dessa versão cinematográfica da história
não são arroubos estilísticos. O segredo do diretor John Huston é simplesmente
sua fidelidade à bora original e sua direção focada em privilegiar a atuação dos
atores.
O resultado foi um sucesso absoluto, arrecadando 1,8 milhão
de dólares.
Uma curiosidade é que foram gastos menos de 700 dólares
para fazer as estatuetas usadas no filme (duas de chumbo e seis de gesso). Hoje
em dia, cada uma delas vale três vezes o valor do orçamento do filme.
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