quinta-feira, julho 24, 2025

Apocalipse nos trópicos

 


Em Apocalipse nos trópicos, a diretora Petra Costa traça a trajetória do projeto de de poder de líderes evangélicos como Silas Malafaia e como esse projeto sequestrou grande parte das igrejas.

Construindo sua narrativa a partir de obras de arte religiosa, como Bosch e Giotto, ela apresenta a forma como grande parte das igrejas evangélicas desistiu de cuidar apenas do plano espiritual para tomar todas as esferas da vida, da política à economia, passando pelo entretenimento num plano de teocracia.

O filme orquestra a realidade atual com o contexto histórico, como a mudança de visão a respeito do apocalipse, antes visto como um evento em que Jesus voltaria depois de mil anos de paz para uma visão em que Jesus voltaria em uma guerra religiosa, em que os “pecadores” seriam punidos, de forma que, quando piores estivessem as coisas, mais próxima estaria a vinda de Cristo.

O contexto histórico da virada evangélica no Brasil é destacado na década de 1970, quando o governo norte-americano deixa de considerar a igreja católica brasileira como um aliado confiável e passa estimular o protestantismo no Brasil.

Há entrevistas, como da senhora em uma favela que diz gostar das propostas de Lula, mas vai votar em Bolsonaro porque Lula é do candomblé.

De tudo, o que mais me surpreendeu foi o acesso direto da diretora a Silas Malafaia, que não só aceitou conversar com ela, como ainda permite a gravação em situações cotidianas, como em uma rua da cidade. É nesse contexto que vemos a cena mais emblemática e simbólica a respeito do líder religioso. Malafaia é cortado por um motoqueiro enquanto dirige e manda o segurança, em outro carro, ameaçar o rapaz.  Que tipo de influência alguém assim tem sobre as outras pessoas?

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