Em Apocalipse nos trópicos, a diretora Petra Costa traça a
trajetória do projeto de de poder de líderes evangélicos como Silas Malafaia e
como esse projeto sequestrou grande parte das igrejas.
Construindo sua narrativa a partir de obras de arte
religiosa, como Bosch e Giotto, ela apresenta a forma como grande parte das
igrejas evangélicas desistiu de cuidar apenas do plano espiritual para tomar
todas as esferas da vida, da política à economia, passando pelo entretenimento
num plano de teocracia.
O filme orquestra a realidade atual com o contexto
histórico, como a mudança de visão a respeito do apocalipse, antes visto como um
evento em que Jesus voltaria depois de mil anos de paz para uma visão em que Jesus
voltaria em uma guerra religiosa, em que os “pecadores” seriam punidos, de forma
que, quando piores estivessem as coisas, mais próxima estaria a vinda de
Cristo.
O contexto histórico da virada evangélica no Brasil é
destacado na década de 1970, quando o governo norte-americano deixa de
considerar a igreja católica brasileira como um aliado confiável e passa estimular
o protestantismo no Brasil.
Há entrevistas, como da senhora em uma favela que diz
gostar das propostas de Lula, mas vai votar em Bolsonaro porque Lula é do candomblé.
De tudo, o que mais me surpreendeu foi o acesso direto da
diretora a Silas Malafaia, que não só aceitou conversar com ela, como ainda
permite a gravação em situações cotidianas, como em uma rua da cidade. É nesse
contexto que vemos a cena mais emblemática e simbólica a respeito do líder
religioso. Malafaia é cortado por um motoqueiro enquanto dirige e manda o
segurança, em outro carro, ameaçar o rapaz. Que tipo de influência alguém assim tem sobre
as outras pessoas?
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