sábado, abril 26, 2025

Void Indigo

 

 

Void Indigo surgiu como uma proposta do escritor Steve Gerber de renovar o Gavião Negro. Como a DC não topou a proposta, ele modificou o projeto e procurou editoras indepentes. Após várias recusas, ele procurou a Marvel, que estava lançando a série Épic, nas quais os direitos dos personagens ficavam para criadores. Surpreendentemente a Casa das Ideias aceitou publicar o material na série Graphic Marvel. A proposta era que essa edição especial fosse uma espécie de piloto para uma série em seis capítulos. Infelizmente, a reação da crítica à violência da história foi tão negativa que o editor Archie Goodwin desistiu de levar a série adiante. Essa reação negativa é muito estranha, pois na mesma época estavam sendo lançados trabalhos muito adultos, com violência explícita, a exemplo do Cavaleiro das Trevas.

Feiticeiros fazem sacrifício para manter seu poder, mas não conseguem... 


Curiosamente, a Abril resolveu publicar a história piloto no número 10 da sua série Graphic Novel. Confesso que na época deixando passar, principalmente por conta da capa, que não parecia muito chamativa e contava muito pouco sobre o tipo de história que poderia se encontrar no miolo. A contracapa, aliás, é mais interessante. Quando, anos depois, comprei e li, fiquei surpreso tanto com a qualidade do texto e da trama quando com o desenho de Val Mayerik, que consegue trazer elementos da espada e magia ao mesmo tempo misturando esses elementos com um traço sujo e muitas vezes deformado, que se encaixa perfeitamente na proposta.

A história se passa no período que separava a submersão de Atlântida e a fundação de Jericó. Feiticeiros sobreviventes de Atlântida conquistam um império, impondo um reinado de terror. Mas tribos bárbaras, comandadas por Athagaar avançam sobre o império. Isso ocorre exatamente quandos os feiticeiros estão velhos e com poderes enfraquecidos. A forma de tentar retomar o poder e a juventude é através de sacrifícios precedidos de torturas. A história deixa claro que quanto mais sofrem as vítimas, maior o poder do encantamento. Mas mesmo matando milhares de jovens, o sofrimento deles não é suficiente para renovar os bruxos. “Mesmo ante a face da morte, esses jovens perderam a razão de lutar. Sua apatia enfraquece a vontade de viver. E quando a vida deixa de ter valor, a tortura nada significa”, explica um deles.

... O que os leva a sequestrar e torturar o chefe dos bárbaros. 


A solução encontra é sequestrar o bárbaro Athagaarr e sua amante e submetê-los ao sacrifício.

Essa é a parte em que o texto de Gerber chega ao seu auge e, apesar da qualidade, provavelmente é a razão pela qual a série foi alvo de tantas críticas. Um exemplo: “Seu sofrimento dura dias. Incansavelmente, e com precisão cirúrgica, os lordes negros submetem seu corpo a uma initerrupta série de punições. Ele é queimado com ferro em brasa, açoitado com chicotes farpados, cortado, furado, espancado e retalhado. O estimulante frio do norte, a espada de seu pai, os triunfos da adolescência. Sua iniciação na arte de guerrear... ele se refugia em todas as lembranças, até que cada delas se mistura com as outras e com o presente... tornando-se, sem exceção, dolorosas. A vitória é dolorosa. A tortura é dolorosa. O abraço de Ren é doloroso”.

A cena da totura é visceral e provavelmente a razão pela qual a publicação recebeu críticas negativas.


Embora o desenho não seja explícito, ele funciona muito bem para demonstrar toda a angústia do personagem.

A trama da série começa depois da morte do protagonista. A narrativa pula séculos e o vemos no futuro, como um ser alienígena que cai na terra, descobre seus passado e começa uma jornada de vingança. O último quadro, inclusive, é um gancho para isso.

É uma pena que a série não tenha dado certo.   

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