Os alemães Jantje Friese e Baran bo Odar foram
responsáveis por Dark, uma das mais famosas e enigmáticas série da Netflix. Assim,
é natural que uma nova série da dupla chamasse muita atenção e gerasse muitas
teorias. É o que tem acontecendo com 1899.
Na história, um grupo embarca numa viagem rumo à América.
Cada um deles parece esconder algo a respeito de sua vida passada e até de sua
identidade. A situação, entretanto, muda completamente quando o capitão recebe
as coordenadas que podem ser de um navio desaparecido há quatro meses. A descoberta
do navio faz com que o fantástico irrompa nesse micro-mundo, com pessoas que deveriam
estar mortas aparecendo, por exemplo.
A questão da identidade, que permeia todos os
personagens importantes – e cujos histórias são reveladas através de flash
backs revela a maior influência de 1899: a série Lost. Mas, mais do que isso, é
um índice, algo que indica o tema trabalhado no seriado. Todos ali parecem ter
adotado uma identidade simulacro: a prostituta japonesa que não é japonesa e não
é prostituta, o oficial francês que, na verdade adotou a identidade de outra
pessoa, o padre que não é padre.
Se Dark lidava com nossa noção do tempo, 1899 lida
com nossa noção de realidade. Não por acaso, a alegoria da caverna, de Platão, é
constantemente citada durante os episódios. Nessa história criada pelo filósofo
grego, pessoas vivem presas numa caverna e acreditam que as verdadeiras formas
do mundo são as sombras que vêem na parede.
Platão levantou a questão, depois abordada por
muitos outros filósofos, de que talvez o que vemos não seja a realidade. Assim,
como confiar nossos sentidos? E é exatamente essa a sensação percebida pelos
personagens de 1899. Tudo que eles vivem parecem tão fora da realidade que num
determinado ponto é difícil distinguir o que é real e o que não é, levantando
outra questão: talvez nada seja real.
Como se vê, 1899 aborda tantas questionamentos filosóficos
e científicos quanto Dark. A grande questão é o que a série faz com esses
questionamentos. O final da temporada traz uma solução narrativamente pouco
inspirada, que fica muito aquém dos problemas apresentados sobre a realidade. Resta
saber se a segunda temporada seguirá esse caminho fácil ou continuará
surpreendendo.
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