quinta-feira, dezembro 08, 2022

1899 - seriado questiona o que é real

 


Os alemães Jantje Friese e Baran bo Odar foram responsáveis por Dark, uma das mais famosas e enigmáticas série da Netflix. Assim, é natural que uma nova série da dupla chamasse muita atenção e gerasse muitas teorias. É o que tem acontecendo com 1899.

Na história, um grupo embarca numa viagem rumo à América. Cada um deles parece esconder algo a respeito de sua vida passada e até de sua identidade. A situação, entretanto, muda completamente quando o capitão recebe as coordenadas que podem ser de um navio desaparecido há quatro meses. A descoberta do navio faz com que o fantástico irrompa nesse micro-mundo, com pessoas que deveriam estar mortas aparecendo, por exemplo.

A questão da identidade, que permeia todos os personagens importantes – e cujos histórias são reveladas através de flash backs revela a maior influência de 1899: a série Lost. Mas, mais do que isso, é um índice, algo que indica o tema trabalhado no seriado. Todos ali parecem ter adotado uma identidade simulacro: a prostituta japonesa que não é japonesa e não é prostituta, o oficial francês que, na verdade adotou a identidade de outra pessoa, o padre que não é padre.

Se Dark lidava com nossa noção do tempo, 1899 lida com nossa noção de realidade. Não por acaso, a alegoria da caverna, de Platão, é constantemente citada durante os episódios. Nessa história criada pelo filósofo grego, pessoas vivem presas numa caverna e acreditam que as verdadeiras formas do mundo são as sombras que vêem na parede.

Platão levantou a questão, depois abordada por muitos outros filósofos, de que talvez o que vemos não seja a realidade. Assim, como confiar nossos sentidos? E é exatamente essa a sensação percebida pelos personagens de 1899. Tudo que eles vivem parecem tão fora da realidade que num determinado ponto é difícil distinguir o que é real e o que não é, levantando outra questão: talvez nada seja real.

Como se vê, 1899 aborda tantas questionamentos filosóficos e científicos quanto Dark. A grande questão é o que a série faz com esses questionamentos. O final da temporada traz uma solução narrativamente pouco inspirada, que fica muito aquém dos problemas apresentados sobre a realidade. Resta saber se a segunda temporada seguirá esse caminho fácil ou continuará surpreendendo.  

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