Ao assumir o título do Demolidor, a roteirista Ann Nocetti
resolveu aproveitar a oportunidade para criar histórias que discutissem
questões sociais, psicológicas e até mesmo sobre a existência dos super-heróis.
Natal sombrio, publicado em Daredevil 241 traz uma trama que debate todos esses
aspectos.
A história começa divertida: um Papai Noel pede dinheiro para
os sem-tento. “Deem seus trocados pro Papai Noel... e evitem que uma criança
pobre ganhe um carvão na meia”, diz ele.
É quando surge Demolidor, que simplesmente desfaz o papai
noel, mostrando que na verdade se trata das crianças do grupo chamado
gorduchos. “Deem esse dinheiro para caridade como prometeram às pessoas!”,
exige ele. As crianças repassam os trocados para uma freira que também está
pedindo dinheiro. A freira pensa: “Bom, isso cobre o aluguel da roupa de freira.
Daqui em diante é só lucro. Deus me abençoe”.
A história de Natal começa com tom humorístico.
Esse início, de tom humorístico, já guarda uma boa crítica a
respeito de como as pessoas podem usar um sentimento positivo, como a caridade
natalidade, em benefício próprio. E mais: traz também uma reflexão sobre como a
cidade pode ser uma selva em que o comum é cobra comendo cobra.
Mas a trama da história se desenrola mesmo quando um vilão
inofensivo, chamado Gaiato, resolve chamar a atenção do Demolidor se pendurando
numa corda entre dois prédios. Para garantir que o herói irá interferir, ele
liga um aparelho que pode fazer desabar paredes. Há uma curiosa inversão aqui,
que aproveita o subtexto católico do título: o vilão se veste de anjo, numa
contraposição ao Demolidor, que seria o demônio (o nome original do personagem
é DAREDEVIL – algo como demônio audaz).
O herói é um demônio, o vilão um anjo: uma história cheia de simbologias.
A história termina com uma reflexão do herói sobre o impacto
que a sua simples presença tem sobre as pessoas.
Sem dúvida, essa é uma história de Natal totalmente diferente
daquelas que estávamos acostumados nos quadrinhos.
Uma curiosidade: a história é desenhada por Todd McFarlane,
num dos seus primeiros trabalhos.
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