O trio de criadores Roy Thomas, John Buscema e Alfredo Alcala é provavelmente a mais célebre do personagem Conan. Entre as muitas histórias magníficas que fizeram, Sombras de ferro ao luar com certeza entraria em qualquer lista das melhores.
Publicada em Savage Sword of Conan 4, de fevereiro de 1975,
a história começa com Shah Amurath perseguindo uma escrava, Olívia, pelos
pântanos. A garota fugiu de seu cativeiro, mas foi alcançada pelo amo.
Indomável, ela arranha do rosto do seu perseguidor, o que faz com ele decida
mata-la, não sem antes estupra-la.
É quando aparece pela primeira vez o cimério, numa splash page
impressionante. A garota, em primeiro plano, tem a boca aberta num grito
abafado, os olhos desesperados. O capitão agarra os braços frágeis da moça
enquanto olha por cima do ombro e vê Conan surgindo no meio dos juncos ocupando
quase metade da página. Não há aqui nada do elegante guerreiro de Barry Windson
Smith. O que vemos é um selvagem grosseiro, o rosto tomado pelo ódio. A
composição é impressionante.
A primeira aparição do templo é uma imagem impressionante. Mérito de Alfredo Alcala. |
Ficamos sabendo que Conan fazia parte de um grupo de
salteadores chamados Kozak, que havia sido dizimado pelas tropas de Shah
Amurath. Só Conan sobrevivera, escondendo-se no pântano. E a fúria vingativa
deste é mortal. Ele mata o comandante e para não ser pego pelos guardas, foge
num barco – e a garota pede para ir com ele. Eles vão parar numa ilha
aparentemente desabitada, mas coisas estranhas acontecem. Uma pedra imensa é
lançada contra eles. Uma pedra tão pesada que até Conan tem dificuldade de
levantar.
Buscando refúgio, eles entram na floresta e encontram um
templo com estátuas que parecem vivas. A primeira vez que vemos esse templo a
imagem é impressionante. Alcala capricha ao máximo, introduzindo centenas de
detalhes para dar ao local uma impressão de abandono, mistério e terror. O mais
impressionante ainda é saber que ele conseguia fazer várias dessas páginas por
dia.
A sequência do sonho de Olívia é uma amostra da qualidade literária de Thomas. |
Claro que a situação vai gerar muita ação, violência e um
ser gigantesco e ancestral, como é padrão nas histórias do cimério. Mas isso é
feito com maestria absoluta tanto em termos de desenho quanto de roteiro.
Enquanto Roy Thomas parece preguiçoso em outras histórias da mesma época, aqui
ele parece inspirado. A sequência em que Olívia dorme e sonha com a explicação
a respeito do templo é um exemplo de como o texto desse roteirista pode
alcançar verdadeiros picos de qualidade literária: “Olívia sonha... e o mal rasteja
em seus sonhos... seus sonhos são migalhas exóticas e pitorescas... fragmentos
de sinais desconhecidos, estilhaçados... e ela flutua entre eles como uma
felina ágil corre por jardins floridos... até que, de repente, eles se
cristalizam numa imagem de horror e loucura!”.
Embora essa história seja uma adaptação de um conto de
Robert E. Howard, esse texto não consta na obra original, o que mostra como Roy
Thomas era capaz não só de adaptar bem Howard, mas de ainda acrescentar algo ao
material original.
Uma curiosidade sobre essa história é que Olívia não tem
nada cobrindo os seios durante toda ela. Mas os cabelos longos repousam
cautelosamente sobre eles em todos os quadros.
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