De vez em quando, no auge da produção de quadrinhos da dupla Gian-Bené, alguém nos procurava para fazer matérias de jornais. Era sempre uma roubada. A maioria dos jornalistas não sabia nada sobre HQs além da Turma da Mônica, mas uma das jornalistas que nos entrevistou, na casa do Bené na cidade nova, ganhou todos os recordes.
A moça não conhecia nada de nosso trabalho e sua primeira pergunta foi:
- Então vocês fazem bonequinhos?
- Não, nós não fazemos bonequinhos.
- Não estou entendendo nada. Na pauta diz que vocês fazem quadrinhos!
Por mais que tentássemos explicar, ela não conseguia entender que existiam quadrinhos que não era para crianças. E ela ficava voltando para a primeira pergunta:
- Então vocês fazem bonequinhos?
Se o texto não era dos melhores, a fotografia também não ajudava. Bené, usava uma camiseta extremamente apertada, especialmente se considerarmos que sempre foi musculoso e eu, magrelo, usava uma camisa super-folgada. Dava a impressão de que tínhamos trocado de roupa um com o outro na hora da foto, ou que o defunto era menor, ou maior, de acordo com o caso. Ao menos aparecíamos sorrindo e folheando nossos quadrinhos.
Em outra matéria fomos entrevistados na própria sede do jornal. Na época, o conceito de foto para caderno de cultura era fotografar os entrevistados com o olhar mais assustado possível – exatamente como se fazia nas matérias policiais. Éramos a perfeita ilustração de dois malacos fugitivos finalmente aprisionados pela polícia.
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