Em 1982, Frank Miller e Chris Claremont eram duas das grande
estrelas da Marvel. Miller por seu trabalho no Demolidor e Claremont pelos
X-men, que começavam a despontar como a série mais lucrativa da editora. Eles
viajavam juntos para a San Diego Comicon quando começaram a pensar num trabalho
em conjunto. Havia um personagem nos mutantes que interessava Miller por sua
conexão com o Japão, Wolverine.
Assim nasceu Eu, Wolverine, uma minissérie em quatro partes
publicada no Brasil inicialmente pela Abril em 1987.
A HQ começa com uma maravilhosa sequência de ação do
protagonista contra um urso enlouquecido por um ferimento com flecha
envenenada. Ali, naquela sequência inicial, já aparece a frase que iria
caracterizar o personagem: “Eu sou o melhor no que faço, mas o que faço não é
nada agradável”.
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A história começa com o herói enfrentando um urso. |
Texto e desenho encaixam perfeitamente, demonstrando a
sintonia dos dois criadores. Wolverine entra na caverna do urso e ele aparece,
ameaçador. O texto nos explica que o urso, enlouquecido, matou três mulheres,
sete homens e cinco crianças: “O bicho é um gigantecos urso cinzento. Ele tá
enlouquecido. Não existe criatura mais terrível na terra... a não ser eu. Sua
garras brilham à meia luz. As minhas também”.
Depois dessa sequência inicial, segue-se outra, em que as
cartas enviadas para Mariko Yashida, o amor de Wolverine, foram devolvidas. Ele
resolve ir até o Japão verificar o que está acontecendo, o que providencia a
descupa para que Miller possa ambientar a história onde queria (vale lembrar que
pouco depois ele faria Ronin).
No país do sol nascente, ele descobre que a amada se casou
obrigada depois que o pai dela apareceu e forçou o casamento. Ela sofre abusos
físicos e psicológicos do marido, mas se recusa a pedir divórcio para não
manchar a honra da família.
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Miller usa muito bem as elipses, deixando que o leitor complete ação. |
Wolverine é drogado e obrigado a enfrentar Lorde Shingen,
pai de Mariko. A situação cumpre a função de fazer com que a moça deixe de
amá-lo, pois ele seria indigno dela, um animal, mais do quem um homem (o texto
de Claremont, um especialista em aprofundamento de personagens, explora muito
bem isso).
Jogado na rua, o herói é atacado por assaltantes e salvo por
uma mulher misteriosa, que se tornará seu grande interesse romântico na
história, disputando com Mariko.
Yukio é uma típica mulher fatal, mas dentro de um contexto
oriental a la Miller. Uma especialista em diversas lutas, usa pequenas adagas
como arma. Mas, como numa boa história noir, nada é o que parece.
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Algumas sequências parecem saídas de Ronin, o trabalho seguinte de Miller |
Claremont usa e abusa dos textos e continuamente apresenta
Wolverine e seus poderes, como se o personagem fosse um desconhecido dos
leitores àquela época e como se os leitores da série já não o conhecessem. Mas
compensa isso com uma boa caracterização dos personagens e seus dramas
internos.
Já Miller nitidamente está feliz da vida mostrando samurais,
guerreiros, ninjas (ele resgata até o grupo Tentáculo, das histórias do
Demolidor) e dá um show nas cenas de ação usando e abusando (agora num bom
sentido) das elipses e deixando que o leitor complete a ação. Sem falar na diagramação inovadora, com painéis horizontais e verticais.
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