O início de Nosso amigo extraordinário, filme
de Marc Turtletaub, dá o tom da narrativa e toca nos principais temas da obra.
Nós acompanhamos a rotina solitária do idoso Milton (interpretado por Ben
Kingsley), que divide seu cotidiano entre a televisão, as poucas visitas da
filha e as idas à câmara municipal, onde sempre faz as mesmas sugestões (mudar
o lema da cidade e instalar uma faixa de pedestre em uma determinada rua), sem
nunca ser atendido.
Essa rotina monótona é quebrada quando um
disco voador cai em seu quintal e dele sai um ser extraterrestre. E aqui,
aparece o principal tema da obra: a invisibilidade dos idosos. Quando Milton
tenta avisar outras pessoas do que aconteceu, poucos ouvem, ninguém acredita
nele e muitos passam a ver esse relato como uma demonstração de demência.
Incompreendido, Milton acaba achando
compreensão de onde menos se poderia esperar: do extraterrestre.
Antes de continuar, vale destacar a
caracterização do extraterrestre, quase tosca em um período como o nosso de
grandes efeitos especiais. Trata-se, essencialmente, de um menino, ou mais
provavelmente, uma menina, vestida com uma roupa, com nenhuma expressão facial
e que não fala uma única palavra durante todo o filme.
Turtletaub parece ter feito isso de
propósito, para nos lembrar que a força da ficção científica não está nos
efeitos especiais espetaculares e caríssimos, mas no bom roteiro. Aliás, os
piores momentos do filme são exatamente aqueles em que os efeitos especiais são
mostrados, pois parecem pouco verossímeis diante dessa trama intimista.
Mesmo sem falar uma única palavra, o ser do
outro espaço parece ouvir e entender Milton mais do que qualquer outro,
inclusive a filha do idoso. Mais à frente, duas idosas acabam descobrindo o segredo
de Milton e também entabulam amizade com o extraterrestre. As duas, aliás, já
haviam aparecido na primeira cena, da câmara municipal, ambas apresentando
propostas que jamais eram implementadas, o que demonstram que também não eram
ouvidas.
Nosso amigo extraordinário é um filme
sensível, que toca em um tema praticamente ignorado por Hollywood e o faz com
competência.
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