quarta-feira, maio 29, 2024

Conan – Sombras de ferro ao luar

 



O trio de criadores Roy Thomas, John Buscema e Alfredo Alcala é provavelmente a mais célebre do personagem Conan. Entre as muitas histórias magníficas que fizeram, Sombras de ferro ao luar com certeza entraria em qualquer lista das melhores.

Publicada em Savage Sword of Conan 4, de fevereiro de 1975, a história começa com Shah Amurath perseguindo uma escrava, Olívia, pelos pântanos. A garota fugiu de seu cativeiro, mas foi alcançada pelo amo. Indomável, ela arranha do rosto do seu perseguidor, o que faz com ele decida matá-la, não sem antes estuprá-la.

É quando aparece pela primeira vez o cimério, numa splash page impressionante. A garota, em primeiro plano, tem a boca aberta num grito abafado, os olhos desesperados. O capitão agarra os braços frágeis da moça enquanto olha por cima do ombro e vê Conan surgindo no meio dos juncos ocupando quase metade da página. Não há aqui nada do elegante guerreiro de Barry Windson Smith. O que vemos é um selvagem grosseiro, o rosto tomado pelo ódio. A composição é impressionante.

A primeira aparição do templo é uma imagem impressionante. Mérito de Alfredo Alcala.


Ficamos sabendo que Conan fazia parte de um grupo de salteadores chamados Kozak, que havia sido dizimado pelas tropas de Shah Amurath. Só Conan sobrevivera, escondendo-se no pântano. E a fúria vingativa deste é mortal. Ele mata o comandante e para não ser pego pelos guardas, foge num barco – e a garota pede para ir com ele. Eles vão parar numa ilha aparentemente desabitada, mas coisas estranhas acontecem. Uma pedra imensa é lançada contra eles. Uma pedra tão pesada que até Conan tem dificuldade de levantar.

Buscando refúgio, eles entram na floresta e encontram um templo com estátuas que parecem vivas. A primeira vez que vemos esse templo a imagem é impressionante. Alcala capricha ao máximo, introduzindo centenas de detalhes para dar ao local uma impressão de abandono, mistério e terror. O mais impressionante ainda é saber que ele conseguia fazer várias dessas páginas por dia.

A sequência do sonho de Olívia é uma amostra da qualidade literária de Thomas. 


Claro que a situação vai gerar muita ação, violência e um ser gigantesco e ancestral, como é padrão nas histórias do cimério. Mas isso é feito com maestria absoluta tanto em termos de desenho quanto de roteiro. Enquanto Roy Thomas parece preguiçoso em outras histórias da mesma época, aqui ele parece inspirado. A sequência em que Olívia dorme e sonha com a explicação a respeito do templo é um exemplo de como o texto desse roteirista pode alcançar verdadeiros picos de qualidade literária: “Olívia sonha... e o mal rasteja em seus sonhos... seus sonhos são migalhas exóticas e pitorescas... fragmentos de sinais desconhecidos, estilhaçados... e ela flutua entre eles como uma felina ágil corre por jardins floridos... até que, de repente, eles se cristalizam numa imagem de horror e loucura!”.

Embora essa história seja uma adaptação de um conto de Robert E. Howard, esse texto não consta na obra original, o que mostra como Roy Thomas era capaz não só de adaptar bem Howard, mas de ainda acrescentar algo ao material original.

Uma curiosidade sobre essa história é que Olívia não tem nada cobrindo os seios durante toda ela. Mas os cabelos longos repousam cautelosamente sobre eles em todos os quadros.  

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