quinta-feira, maio 02, 2024

Feitiço do tempo

 

 

Assisti, finalmente, Feitiço do tempo (roteiro de Danny Rubin e Harold Ramis, direção de Harold Ramis). Na verdade, o interesse maior foi na interessante narrativa em elipse, que era sempre citada por alunos quando eu falava de narrativas não-lineares. Trata-se de um jornalista arrogante e egocêntrico, que, ao fazer uma matéria numa cidadezinha sobre uma marmota capaz de prever o fim do inverno, fica preso em um lapso temporal de um dia que sempre volta. Assim, os mesmos fatos vão se repetindo várias vezes e o protagonista passa várias vezes pelos mesmos fatos. Já tinha visto outros exemplo, como um episódio de O Arquivo X. Eu mesmo já escrevi um texto nessa estrutura, num e-book dos Exploradores do Desconhecido. O interesante é que o mesmo dia não se repete 3 ou 4 vezes, mas centenas, talvez milhares de vezes, o que traz algumas oportunidades interessantes para o roteiro, como, por exemplo, repetir uma cena várias vezes (o receptor acaba sacando que cada repetição é um dia diferente).
Apesar da preocupação maior ser com a questão narrativa, foi impossível não reparar em algo que muitos textos espíritas falam: Feitiço do Tempo é uma ótima metáfora do processo reencarnatório, segundo a visão espírita. 
A cada vez que o protagonista volta, é como se ele estivesse em outra encarnação e tivesse outra chance de consertar os erros do passado e evoluir espiritualmente.
Arrogante e egocêntrico, Phil usa a volta eterna inicialmente para questões duvidosas do ponto de vista ético, como, por exemplo, descobrir algo sobre uma mulher para depois seduzi-la, ou cometer crimes sabendo que sua ação não teria consequências (como, por exemplo, quando ele rouba dinheiro do carro forte).
Com o tempo, esse tipo de coisa perde a graça e ele passa a se suicidar. Faz isso dezenas de vezes, tentando escapar do dia que sempre retorna. Em vão. Sua vida só começa a fazer sentido quando ele melhora espiritualmente e começa a ajudar as pessoas à sua volta. A máxima de Chico Xavier (Não há salvação fora da caridade) fica bem exemplificada no filme.
Em suma, um ótimo filme: pelo estrutura do roteiro, pela mensagem, pelo humor e pela ótima atuação de Bill Murray.

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