Em 1939, Monteiro Lobato resolveu levar o
pessoal do Sítio do Pica-pau Amarelo para a Grécia antiga. A desculpa era
procurar a Tia Nastácia, que havia desaparecido no livro anterior (Pica Pau
Amarelo), tendo sido levada por um monstro (depois descobre-se que se tratava
do Minotauro).
Como na maioria dos livros infantis de
Lobato, o limite era apenas a imaginação dos personagens. Bastava querer e eles
iam parar onde e quando quisessem (Lobato inventa inclusive um segundo pirlimpimpim,que
permite viajar no tempo e não só no espaço).
Uma das características que fazem dos livros
de Lobato tão agradáveis de ler é a forma natural com que ele coloca informações
dos mais variados tipos em meio à trama. Assim, o livro já inicia com Dona
Benta comentando diversas informações sobre a Grécia antiga. Ou, nos dizeres de
Lobato, “Dona Benta ia derramando pingos de História na cabeça das crianças”.
Assim descobrimos, por exemplo que “Aurora
era a deusa grega da manhã, que abria o dia com seu carro puxado por corcéis de
asas, com uma estrela na testa e um archote aceso na mão”.
Os pica-paus vão parar na Grécia em seu auge,
sob o governo de Péricles e conhecem várias figuras históricas, como o próprio
Péricles, o escultor Fídias, o teatrólogo Sófoles e o filósofo Sócrates. É uma
verdadeira aula de história, artes e filosofia. Fiquei imaginando como seria um
livro de história da filosofia escrito pelo criador da Emília.
Em uma trama paralela, Pedrinho, Visconde e
Emília retornam ainda mais no tempo e chegam a fazer uma visita ao Olimpo antes
de salvar a Tia Nastácia das garras do Minotauro. O monstro acabara se viciando
nos bolinhos da cozinheira.
Um aspecto que hoje pode incomodar no livro é
seu eurocentrismo. A influência da Grécia no mundo, e em especial no Brasil é
exaltada no livro, como se pode ver no trecho: “Pequenina foi a Grécia em
tamanho – e tornou-se o maior povo da Antiguidade pelo brilho da inteligência e
pelas realizações artísticas. Tão grande foi o seu valor que até hoje o mundo
anda impregnado de Grécia”. É preciso ressaltar, no entanto, que àquela época,
poucos pensadores se debruçavam sobre a cultura ou filosofia que não fosse de
origem greco-romana. O pensamento oriental, por exemplo, só se tornou conhecido
entre nós a partir da década de 1970.
Outro aspecto a destacar é a personalidade
complexa e muitas vezes contraditória de Lobato, inclusive em termos de
opinião. Se no início do livro ele critica a arte moderna na comparação com a
arte grega, lá para a frente ele diz: “A arte é uma estilização, isto é, uma
falsificação da natureza, em certo sentido. Você bem sabe que não é nas
fotografias que encontramos o belo – é nos desenhos que modificam o real
segundo o gosto do desenhista”. A citação, aliás, deixa claro que àquela época
a fotografia não era considera uma arte, como hoje.
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