sábado, maio 25, 2024

O Minotauro, de Monteiro Lobato

 

Em 1939, Monteiro Lobato resolveu levar o pessoal do Sítio do Pica-pau Amarelo para a Grécia antiga. A desculpa era procurar a Tia Nastácia, que havia desaparecido no livro anterior (Pica Pau Amarelo), tendo sido levada por um monstro (depois descobre-se que se tratava do Minotauro).

Como na maioria dos livros infantis de Lobato, o limite era apenas a imaginação dos personagens. Bastava querer e eles iam parar onde e quando quisessem (Lobato inventa inclusive um segundo pirlimpimpim,que permite viajar no tempo e não só no espaço).

Uma das características que fazem dos livros de Lobato tão agradáveis de ler é a forma natural com que ele coloca informações dos mais variados tipos em meio à trama. Assim, o livro já inicia com Dona Benta comentando diversas informações sobre a Grécia antiga. Ou, nos dizeres de Lobato, “Dona Benta ia derramando pingos de História na cabeça das crianças”.

Assim descobrimos, por exemplo que “Aurora era a deusa grega da manhã, que abria o dia com seu carro puxado por corcéis de asas, com uma estrela na testa e um archote aceso na mão”.

Os pica-paus vão parar na Grécia em seu auge, sob o governo de Péricles e conhecem várias figuras históricas, como o próprio Péricles, o escultor Fídias, o teatrólogo Sófoles e o filósofo Sócrates. É uma verdadeira aula de história, artes e filosofia. Fiquei imaginando como seria um livro de história da filosofia escrito pelo criador da Emília.

Em uma trama paralela, Pedrinho, Visconde e Emília retornam ainda mais no tempo e chegam a fazer uma visita ao Olimpo antes de salvar a Tia Nastácia das garras do Minotauro. O monstro acabara se viciando nos bolinhos da cozinheira.

Um aspecto que hoje pode incomodar no livro é seu eurocentrismo. A influência da Grécia no mundo, e em especial no Brasil é exaltada no livro, como se pode ver no trecho: “Pequenina foi a Grécia em tamanho – e tornou-se o maior povo da Antiguidade pelo brilho da inteligência e pelas realizações artísticas. Tão grande foi o seu valor que até hoje o mundo anda impregnado de Grécia”. É preciso ressaltar, no entanto, que àquela época, poucos pensadores se debruçavam sobre a cultura ou filosofia que não fosse de origem greco-romana. O pensamento oriental, por exemplo, só se tornou conhecido entre nós a partir da década de 1970.

Outro aspecto a destacar é a personalidade complexa e muitas vezes contraditória de Lobato, inclusive em termos de opinião. Se no início do livro ele critica a arte moderna na comparação com a arte grega, lá para a frente ele diz: “A arte é uma estilização, isto é, uma falsificação da natureza, em certo sentido. Você bem sabe que não é nas fotografias que encontramos o belo – é nos desenhos que modificam o real segundo o gosto do desenhista”. A citação, aliás, deixa claro que àquela época a fotografia não era considera uma arte, como hoje. 

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