Silenciadas, filme espanhol dirigido por Pablo Agüero e lançado aqui pela Netflix parte de um fato histórico: a perseguição às “bruxas” pela inquisição na região dos países bascos.
No século XVII o juiz francês Pierre de Rosteguy de Lancre promoveu o massacre de centenas de mulheres. Ele vangloriava-se de ter queimado mais de 600 pessoas. A perseguição se estendeu até a Espanha e no final, entre os anos de 1609 e 1614, 6 mil pessoas foram queimadas na fogueira e outras 5 mil morreram na prisão.
No filme, um grupo de mulheres é presas depois de serem vistas dançando na floresta. O filme detalha a forma como aconteciam os processos contra as mulheres suspeitas de feitiçaria: não era permitido a elas sequer saber quem as havia denunciado. Na verdade, nem mesmo a acusação era conhecida (inicialmente elas acreditam que estão sendo presas por terem roubado uma cabra).
Era um jogo impossível de ser vencido: ao recusassem a confessar que eram bruxas as mulheres eram torturadas até a confissão, e se no fim isso não acontecesse, queimadas vivas da mesma forma. O processo para descobrir “provas físicas” demonstra bem isso. Pelo que acreditavam os inquisidores, o diabo havia colocado em mulheres uma marca na pele que se tornava insensível à dor. Esse processo de descoberta da marca era feito furando a pele da mulher. Se ela demonstrasse dor, partia-se para outro ponto (e os locais poderiam ir dos olhos ao órgão sexual). A única forma de parar a tortura era tentar demonstrar que não sentia dor em algum local – e o carrasco conseguia a prova da marca do diabo.
Só por demonstrar esse processo, o filme já valeria a pena – até pela ótima atuação das atrizes. A trama, no entanto, traz um elemento que faz toda a diferença: percebendo que os homens da aldeia vão voltar do mar, onde estão pescando, e podem salvá-las, a protagonista resolve ganhar tempo convencendo o inquisidor a fazer o ritual do Sabbath das bruxas.
É quando o filme engrena, ao demonstrar o quanto das acusações envolviam na verdade, fantasias sexuais dos inquisidores. Ana, a protagonista, vai criando sua versão do sabbath a partir das sugestões do inquisidor Rostegui. Enquanto ela fala, ele nitidamente parece estar chegando à beira do paroxismo sexual.
O ritual é outro ponto alto do filme, com as moças dançando e cantando uma canção folclórica enquanto o inquisidor mostra-se extasiado.
Uma curiosidade: pesquisando sobre o filme encontrei algumas pequenas resenhas de usuários do site Adoro Cinema. Uma delas reclamava que o filme não deixava claro se elas eram bruxas ou não! Provavelmente a pessoa tinha assistido Silenciadas achando que se tratava de um filme de terror sobre bruxas. Mal sabe ele que muitas vezes a maior fonte de terror é o próprio ser humano.
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