sábado, junho 01, 2024

Bojeffries: a saga, de Alan Moore

 


Alan Moore não é só um dos melhores – senão o melhor – roteiristas vivos, como é também um dos mais ecléticos. Ele fez horror (Monstro do Pântano), super-heróis (Superman, 1963), ficção-científica (A balada de Halo Jones). Bojeffries: a saga, lançado recentemente pela Devir oferece mais uma face do mago inglês: o humor.

A trama se desenvolve em torno da família Bojeffries, “uma mistura de Família Adams com Monstro com elementos lovecraftianos”, como definie Alexandre Callari na introdução do volume.

É uma família totalmente disfuncional, composta por um lobisomem, um vampiro, um vovô monstro lovecrafiatiano, um bebê capaz de gerar energia termonuclear suficiente para iluminar toda a Inglaterra e dois adolescentes: Reth  e Ginda . Ginda é capaz de transformar um bombom de chocolate num diamante e comê-lo e por isso acredita que os homens ficam intimidados ao conhecer alguém poderosa.

Bojeffries: a saga é Alan Moore transportando o humor típico de grupos como o Monty Phyton para os quadrinhos numa história com toques de terror e fortes críticas sociais.

A primeira história é centrada num cobrador de impostos. 


A primeira história, por exemplo, é sobre o cobrador de alugueis sociais que passa suas horas de folga lendo relatórios de alugueis atrasados. Ele descobre que a família Bojeffries não paga aluguel desde o século XIX e resolve cobrar os alugueis atrasados. É uma estratégia para apresentar os personagens, a ambientação e, ao mesmo tempo, fazer uma ácida crítica à burocracia inglesa. Junte a isso várias gags que se repetirão ao longo do álbum, como a mania do tio Raoul de comer cachorros.

Mas os melhores capítulos são aqueles focados nos personagens, como “A noite de folga do tio Raoul”, em que o personagem participa de uma festa da empresa e se transforma em lobisomem no meio da comemoração (um episódio com forte crítica social). Ou “festus: madrugada dos mortos”, em que o tio vampiro acorda pouco antes do nascer do sol e precisa comprar sangue de soja antes que o sol surja. Mas em seu caminho há todo tipo de obstáculos, como pãezinhos de sexta-feira santa, pessoas carregando clavas de madeira e entregadores de jornais que decidem puxar conversa. É um capítulo de puro humor visual.

Tio Raoul trabalha numa fábrica. 


Mas, em termos de humor, o melhor conto talvez seja “Sexo com Ginda Bojeffries”. O capítulo já começa com uma tremenda inversão de papéis, quando Ginda passa por uma obra e começa a assediar os pedreiros. “Isso é tão degradante! Quer dizer, sou um ser humano... tenho sentimentos e ambições, tenho diploma de pedreiro. Mas para ela eu não passo de um par de nádegas durinhas dentro de um jeans apertado”, reclama um pedreiro enquanto a garota grita: “Qual é, lorinho?! Mostra essa sua ferramenta do amor!”.

Os exemplos mostram o tipo de humor usado por Moore na obra: irônico, inteligente, inquietante e sutil.

Essas histórias começaram a ser publicadas em 1983 na revista Warrior. Depois a saga passou por várias outras publicações até serem finalmente reunidas em álbum.  

É uma leitura divertida e obrigatória para os fãs de Moore e de humor ácido, mas tem um problema: fica a impressão de que havia muito mais a ser explorado na família.

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