terça-feira, junho 18, 2024

Os quadrinhos na sala de aula


No início dos anos 50, o pesquisador canadense Marshall McLuhan publicou um livro intitulado The mecanical bride (A noiva mecânica). O subtítulo dizia muito sobre o conteúdo: o folclore do homem industrial.

Para McLuhan, o mundo estava mudando e essa mudança era provocada pelos meios de comunicação de massa. A televisão, o rádio, o jornal e as revistas em quadrinhos estavam engendrando um novo homem, com um novo folclore. E a nova arte viria dessas novas mídias.
Não é necessária uma investigação muito demorada para perceber que quase tudo que é considerado hoje como arte de elite foi folclore popular na Idade Média. O teatro moderno surgiu dos autos medievais, a literatura surgiu dos romances de cavalaria, a valsa teve sua origem em danças populares, a poesia veio dos menestréis.

Little Nemo foi a primeira história em quadrinhos a figurar em um museu. 


A elite constantemente, se apropria da cultura da massa para criar sua própria cultura (assim como as camadas populares também utilizam remodelam a cultura de elite em formas populares, como aconteceu com a quadrilha junina).
Da mesma forma, a cultura de massa, que nasceu para consumo do populacho e crianças, hoje ganha status de arte. Exemplos disso são as histórias em quadrinhos que figuram em museus.
Mas o que nos interessa nesse artigo é outra conclusão que pode-se retirar do pensamento de McLuhan: se os meios de comunicação de massa estão produzindo um novo homem, é inútil tentar ensinar nossas crianças utilizando os recursos do passado. A escola que ainda utiliza os velhos métodos e velhos recursos educacionais constantemente provoca apenas o desinteresse dos alunos. Tudo muda, menos a escola.

Sócrates criticou a invenção da escrita. 


Fenômeno semelhante ocorreu na Grécia antiga. Até o surgimento da escrita os gregos, em especial os atenienses, eram obrigados a decorar os quilométricos versos da Ilíada e Odisséia. Com a invenção da escrita, os alunos se desinteressaram por decorar as obras de Homero e foram chamados de preguiçosos por causa disso (Sócrates foi um dos que criticou a invenção da escrita, argumentando que ela provocaria “preguiça mental” nos gregos).
Mas alguém poderia culpá-los por não querer decorar algo que já estava registrado nos livros, que poderiam ser consultados a qualquer momento?
É igualmente ineficiente querer que os alunos da atualidade utilizem apenas livros, quando eles anseiam por imagem e movimento.
Aí entram as HQs. Elas são o meio de comunicação de massa mais barato e prático de se introduzir nas escolas. Para produzir um gibi as crianças só precisam de papel e lápis (se a escola tiver uma máquina xerox, essa pode ser utilizada para reproduzir o material produzido). E a leitura dos gibis não desestimula o interesse pelos livros. Muito pelo contrário. Constantemente as HQs são uma ponte para a literatura. Ray Bradbury, um dos mais importantes escritores norte-americanos, costuma dizer que é filho de Flash Gordon. A lista dos que são fãs de quadrinhos inclui ainda: Umberto Eco, Jô Soares, Stephen King e Frederico Fellini.

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