segunda-feira, julho 08, 2024

O código Da Vinci e o sagrado feminino

 



O CÓDIGO DA VINCI é um livro de 2003, de Dan Brown. Publico abaixo uma resenha publicada por mim na época: 

Brown escreve bem, apesar de algumas escorregadas (algumas expressões destoam do restante e parecem chulas). Seu texto é claro, limpo, sem cacoetes literatescos. E ele sabe transmitir de maneira fácil assunto complexos.

O livro também se destaca pela ótima utilização do suspense. Três níveis de narrativa deixam o leitor grudado nas páginas como só os grandes mestres da literatura pop sabem fazer.

Quanto às teorias expostas no livro, o próprio autor as expressa com ressalvas, uma atitude sensata, embora claramente o livro tenha como inspiração da idéia do sagrado feminino, a noção de que a sociedade ocidental passou a valorizar apenas o aspecto masculino, esquecendo o feminino. Brown propõe a complementariedade masculino-feminino, yin-yang.

Para os que não sabem, o sagrado feminino, refere-se à religião da deusa, que venerava a terra e as mulheres por sua capacidade de gerar vida. Para os homens, o fato das mulheres darem à luz era um enigma que fazia com que a mulher tivesse caráter divino, afinal, apenas Deuses têm a capacidade de criar vida. As mulheres ficavam grávidas em uma grande festa na primavera, em honra à Mãe Terra, em que todo mundo transava com todo mundo (para quem não sabe, essa é a origem do carnaval). Um detalhe interessante é que praticamente todas as mulheres engravidavam ao mesmo tempo e tinham seus filhos antes do período de colheita, da qual participavam ativamente.

Em algum momento da evolução humana, os homens começaram a perceber uma relação entre o sexo e o nascimento das crianças. A partir daí, como forma de poder, os homens passaram a exigir exclusividade. As mulheres eram trancafiadas e os rituais antigos em honra à Mãe Terra, foram proibidos.

Nesse momento o regime político saiu do matriarcado para tornar-se patriarcal.

O livro acusa indiretamente a Igreja por essa supervalorização do masculino, mas a situação é bem mais complexa.

Por um lado a visão católica romana, sãopaulina, seja de fato conservadora e machista. Na Inquisição, a maior parte das pessoas que morreram era mulheres acusadas de venerarem a Mãe Terra (as chamadas feiticeiras).

No entanto, o culto ao sagrado feminino sobreviveu na  Igreja Católica no culto à Nossa Senhora.

Por outro lado, uma das pessoas apontadas como mestres do priorado de Sião e, portanto, protetores do segredo do graal, é Sir Isaac Newton, talvez o maior responsável pela disseminação do pensamento cartesiano, que divide a realidade em partes e certamente é importante para a dissociação entre os aspectos complementares da realidade.

Bem, mas talvez eu esteja divagando. O que quero dizer é que, apesar de algumas incoerências, o livro é uma leitura divertida. Vale a pena ser lido.

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