segunda-feira, agosto 05, 2024

A noite dos desesperados

 


Baseado no livro de Horace McCoy, a noite dos desesperados focaliza sua narrativa em um dos fenômenos mais bizarros da grande depressão: as maratonas de danças em que pessoas passavam dias e até meses dançando em troca de comida e de um prêmio que podia variar de mil a mil e quinhentos dólares. 

O filme é dirigido por Sidney Pollock e foi lançado em 1969 dentro do contexto da chamada Nova Hollywood, em que diretores jovens e idealistas revolucionaram o cinema norte americano, muitas vezes salvando estúdios da falência. 

Uma maratona de pessoas desesperadas é um tema perfeito para Pollock, pois lhe permite abordar diversos assuntos caros à Nova Hollywood, como a verdadeira face dos EUA, a sociedade do espetáculo e a forma como as pessoas se divertem com o sofrimento dos outros para esquecer seus próprios sofrimentos. 

O filme acompanha o casal Glória e Robert, ela uma atriz fracassada, ele uma pessoa que acaba entrando na maratona quase sem querer. 

Pollock faz diversas modificações na história do livro, principalmente retirando as partes mais violentas, provavelmente para adequar o filme à censura da época. Mas em compensação, aprofunda mais os personagens, inclusive os secundários e seus dramas. Mesmo para quem leu o livro, é só no filme que podemos sentir o sofrimento dos personagens após centenas de horas dançando e praticamente sem dormir. 

No livro os participantes têm 10 minutos de intervalo para tudo, inclusive comer e usar o banheiro. No filme as refeições são feitas em pleno palco, com eles dançando,uma ideia acertada, que característiza ainda mais a degradação dos personagens e o fato de que tudo relacionado a eles se tornar um espetáculo.

Mas o grande acerto de Pollock é durante os Derby, momento em que os dançarinos devem correr ao redor do palco e os últimos são eliminados. O diretor foca a câmera nos atores, de modo que não vemos mais nada. É como se estivesse ali no meio deles, sentindo todo o sofrimento e desespero. 

Destaque para as atuações de Jane Fonda e em especial Susannah York, cuja personagem mal aparece no livro, mas ganha muita profundidade no filme, como uma mocinha bonita que deseja ser estrela de cinema vai enlouquecendo ao longo da maratona.

Em uma época de reality shows, A noite dos desesperados parece cada vez mais atual.

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