quarta-feira, novembro 27, 2024

Vermes da terra

 

Nas décadas de 1980 e 1990 a revista A espada selvagem de Conan era uma das melhores publicações em banca. Com um protagonista que se aproximava muito mais de um anti-herói, a revista foi um sopro de qualidade e conquistou leitores mais adultos, dos mais literatos aos que se preocupavam apenas com ação. E, entre tudo que foi publicado na revista, um dos maiores destaque foi um conto em duas partes, protagonizado por Bran Mak Morn, um personagem pouco conhecido de Robert E. Howard. Trata-se da saga Vermes da terra, publicada nos números 27 e 28 da revista.
A história já mereceria atenção só pela arte fenomenal de Tim Conrad (em parceria com Barry Windsor-Smith na primeira parte). Sujo e sombrio, o traço de Conrad deu à história um aspecto tenebroso que ia muito além do gênero espada e magia e se aproximava muito mais do terror. Algo, aliás, que já estava presente no conto original de Howard.
Howard escreveu um conto em homenagem ao amigo H. P. Lovecraft (com o qual ele se correspondia) e recheou o texto de referência à mitologia lovecraftiana: Dagon e R’lyeh, por exemplo, são citados literalmente.
Na história, o rei dos pictos, disfarçado, vê o governador romano da Bretanha matar na cruz um picto cujo crime foi reagir à agressão de um vendendor romano que tentou roubá-lo. Bran Mak Morn envia seu amigo e auxiliar Grom para instigar as tribos contra Roma, mas parte em outra direção. Seu plano é vingar-se pessoalmente contra o governador Titus Sulla. Para isso ele vasculha os pântanos da Bretanha em busca de uma porta que o levará aos vermes da terra, seres monstruosos que viviam ali e foram expulsos para as profundesas pelos primeiros pictos. Ele pretende roubar uma pedra negra idolatrada por eles e, assim forçar os vermes a lhe entregarem Titus. Mas Gonar, o sacerdote de seu povo, lhe advertiu: há armas fúteis demais, mesmo contra os romanos!”, uma advertência totalmente ignorada.
Começa aí uma jornada ao inferno.
O texto de Roy Thomas chega a um nível altíssimo de tensão ao descrever os locais por onde passa e o desenho de Conrad as destaca ainda mais.

Em alguns pontos o resultado chega a ser superior ao conto original, a exemplo de quando Bran encontra a bruxa de Dagon-moor, que lhe indicará onde encontrar a esfera negra. Em troca ela pede os beijos do rei. Aqui ela é vista como absolutamente asqueirosa, sua pele repleta de manchas e pústulas, o que demostra o preço que Bran está disposto a pagar por sua vingança.
Thomas, um mestre do roteiro para quadrinhos, pula o diálogo posterior entre os dois, em que a bruxa conta como chegar à pedra, e o usa como legenda para as cenas em que o rei se embrenha nas profundesas da terra.
O texto de ambientação dão o clima de terror: “Fixando os olhos no interior do buraco, tudo que ele vê, porém, é a instransponível escuridão de um poço negro. Assim,  numa mescla de repulsa e temor que lhe retesam todos os músculos, Bran adentra o buraco sentindo-se engolido pela negritude quase tangível”.
Em tempo: existe uma versão nacional do conto Vermes da Terra, publicado na Amazon e traduzido por Alex Magnos. Vale a pena conferir. Ah, e para quem quiser ler a HQ original, neste link dá para baixar vários números da Espada Selvagem de Conan, incluindo o 27 e o 28, as edições que publicaram a saga Vermes da Terra. 

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