quinta-feira, dezembro 05, 2024

Camelot 3000 – A senda dos cavaleiros

 

Ao construir o roteiro da primeira parte de Camelot 3000, Mike W. Barr estabeleceu um McGufim bem claro: os Cavaleiros da Távola Redonda, reencarnados, precisam ser recrutados e ter sua memória dos feitos passados restaurada.

No capítulo 3, Merlim, Lancelot, Arthur, Guinevere e Tom partem em busca desse objetivo. Para facilitar essa tarefa, cada um deles leva consigo um amuleto no formato de espada.

A edição trata da busca dos cavaleiros que não haviam sido despertados. 


Assim, Kay, irmão adotivo de Arthur, é um trapaceiro sendo perseguido por agiotas, mas é salvo por Arthur. Temos aqui, inclusive, uma imagem que mostra o quanto o fato dessa revista ser direcionada ao mercado direto influenciava na história. O rei simplesmente transpassa sua espada na barriga de um dos agiotas, em uma cena de violência inimaginável para os quadrinhos com o selo Comics Code.

Galhad é um samurai que decide se matar quando percebe que não salvou as pessoas que o contrataram para protegê-los, mas é salvo por Lancelot.



Mas os mais interessantes, e também os mais revolucionários, são Percival e Tristão.

Percival, na lenda da távola redonda, era um cavaleiro galante e altamente espiritualizado (é ele que consegue chegar ao santo Graal depois de passar por diversas provas). Nessa versão, ele é transformado em um neo-humano antes que o resgate se efetue. Colocar um personagem como Percival como um monstro é uma das grandes sacadas da história.

A rainha não chega a tempo... 


Outra inversão é Tristão. Na história original, Tristão é um cavaleiro enviado para buscar a futura esposa do tio, Isolda. Mas durante a viagem os dois se apaixonam e, mesmo depois que a moça se casa, eles vivem um romance que escandaliza a sociedade da época.

Como manter o aspecto original de escândalo nessa versão futurista? O roteirista coloca Tristão como uma mulher! A sequência em que Tom interrompe um casamento achando que o homem é Tristão, aliás, é ótima.

... e Percival é transformado em um monstro. 


Mike W. Barr colocar o personagem Tristão em uma situação de desconforto com seu próprio corpo (já que ele se sente um homem, mas está no corpo de uma mulher) e providencia alguns dos melhores momentos de conflito da história. Ao mesmo tempo, lá na frente introduz cenas de lesbianismo, quando Tristão finalmente reencontra Isolda.

Tristão ter renascido como home gera algumas das melhores situações de conflito da história.


Relendo esse material, fico imaginando como essa história não causou um escândalo nacional ao ser publicada em Batman e Superamigos. Hoje em dia haveria até boicote contra a Abril. Aqueles eram outros tempos, em que se saía da ditadura militar e censura era um verdadeiro palavrão.

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