Ao construir o roteiro da primeira parte de Camelot 3000, Mike W. Barr estabeleceu um McGufim bem claro: os Cavaleiros da Távola Redonda, reencarnados, precisam ser recrutados e ter sua memória dos feitos passados restaurada.
No capítulo 3, Merlim,
Lancelot, Arthur, Guinevere e Tom partem em busca desse objetivo. Para
facilitar essa tarefa, cada um deles leva consigo um amuleto no formato de
espada.
A edição trata da busca dos cavaleiros que não haviam sido despertados.
Assim, Kay, irmão
adotivo de Arthur, é um trapaceiro sendo perseguido por agiotas, mas é salvo
por Arthur. Temos aqui, inclusive, uma imagem que mostra o quanto o fato dessa
revista ser direcionada ao mercado direto influenciava na história. O rei
simplesmente transpassa sua espada na barriga de um dos agiotas, em uma cena de
violência inimaginável para os quadrinhos com o selo Comics Code.
Galhad é um samurai que
decide se matar quando percebe que não salvou as pessoas que o contrataram para
protegê-los, mas é salvo por Lancelot.
Mas os mais
interessantes, e também os mais revolucionários, são Percival e Tristão.
Percival, na lenda da
távola redonda, era um cavaleiro galante e altamente espiritualizado (é ele que
consegue chegar ao santo Graal depois de passar por diversas provas). Nessa
versão, ele é transformado em um neo-humano antes que o resgate se efetue.
Colocar um personagem como Percival como um monstro é uma das grandes sacadas
da história.
Outra inversão é
Tristão. Na história original, Tristão é um cavaleiro enviado para buscar a
futura esposa do tio, Isolda. Mas durante a viagem os dois se apaixonam e,
mesmo depois que a moça se casa, eles vivem um romance que escandaliza a
sociedade da época.
Como manter o aspecto
original de escândalo nessa versão futurista? O roteirista coloca Tristão como
uma mulher! A sequência em que Tom interrompe um casamento achando que o homem
é Tristão, aliás, é ótima.
... e Percival é transformado em um monstro.
Mike W. Barr colocar o
personagem Tristão em uma situação de desconforto com seu próprio corpo (já que
ele se sente um homem, mas está no corpo de uma mulher) e providencia alguns
dos melhores momentos de conflito da história. Ao mesmo tempo, lá na frente
introduz cenas de lesbianismo, quando Tristão finalmente reencontra Isolda.
Tristão ter renascido como home gera algumas das melhores situações de conflito da história.
Relendo esse material,
fico imaginando como essa história não causou um escândalo nacional ao ser
publicada em Batman e Superamigos. Hoje em dia haveria até boicote contra a
Abril. Aqueles eram outros tempos, em que se saía da ditadura militar e censura
era um verdadeiro palavrão.
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