quarta-feira, abril 30, 2025

A insólita Família Titã

 


Em 1992 eu o compadre Joe Bennett já éramos parceiros de longa data. Foi quando o editor Franco de Rosa nos pediu 30 páginas de uma história em quadrinhos para uma revista erótica.
 O problema era o prazo: uma semana para fazer tudo: roteiro, desenho, arte-final, balonamento, tudo. Verdadeiramente insano. O prazo era tão curto que o Bené mal desligou o telefone e já começamos a criar a história.
Contrariando o pedido, fizemos uma HQ de super-heróis (que tinha apenas duas cenas eróticas). E era algo bem diferente, bem na linha da dupla Gian-Bené: uma homenagem à Família Marvel (hoje conhecida como Shazan), mas era também uma história de vingança.
Íamos criando a HQ e o Bené já ia fazendo o rafe das páginas. Quando terminou, eu coloquei o texto. No final, foi tudo tão corrido que não tivemos tempo para conversar sobre a história. Assim, na minha cabeça, o protagonista Tribuno era um herói, e na cabeça do Bené, era um vilão.
O Franco, quando recebeu, deve ter pensando o que fazer com aquela HQ, mas acabou publicando assim mesmo numa revista erótica. O sucesso foi tão grande que a história acabou sendo publicada em outro gibi.
No final, a família Titã foi publicada em 5 revistas, cada uma com tiragem de 30 mil exemplares. 150 mil exemplares no total – mais do que a vendagem mensal do Homem-Aranha na época.
Pouco depois um caçador de talentos esteve no Brasil procurando desenhistas para o mercado americano e, quando viu a Família Titã, teve certeza de que Bené era o cara certo (hoje ele desenha uma premiada fase do Hulk).
E a história virou cult. Uma das razões se deve ao fato de que não tivemos tempo para conversar sobre o seu significado: então, para alguns leitores, o protagonista é vilão e para outros é um herói. Essa tridimensionalidade dos personagens se tornou o grande charme da história.  
Em 2014 a editora Opera Graphica republicou a Família Titã, agora no formato de álbum, com textos, biografia dos autores e desenhos do Bené. 

Livro ciência e quadrinhos ganha edição digital

 



Publicado em 2005, meu livro Ciência e Quadrinhos se tornou bibliografia básica sobre o assunto, inclusive por estudos sobre o uso de quadrinhos nas aulas de ciência. Agora, 18 anos depois, ganha uma edição digital revisada alterada. Para baixar, clique aqui: https://www.marcadefantasia.com/livros/quiosque/ciencia_e_quadrinhos/ciencia_e_quadrinhos.pdf

Contos do Loop

 


Contos do Loop, série da Amazon Vídeo que estreou este mês é toda baseada nas incríveis pinturas de Simon Stalenhag. Isso resume as maiores qualidades e os maiores problemas da nova atração da Amazon Video. Trata-se de uma atração com aparência incrível, em que alta tecnologia se associa a um visual retrô e a eventos estranhos. Mas é também uma série de diretor, em que o roteiro parece estar a serviço das imagens.
A história se passa num local no qual está instalada uma empresa misteriosa chamada Loop. Nunca sabemos exatamente o que o Loop faz, mas vislumbramos algumas possibilidades através de pequenos acontecimentos que impactam os moradores locais: uma menina cuja casa desapareceu com a mãe, dois amigos que trocam de corpos, o homem que compra um robô para proteger sua família, a moça que descobre uma forma de congelar o tempo, um rapaz que vai para outra dimensão na qual encontra consigo mesmo. Aliás, deveria haver uma regra básica, sempre ignorada pelos moradores do Loop: jamais mexer em qualquer coisa que encontre na floresta ou em qualquer outro lugar.
Os episódios contam histórias completas, mas que se conectam, são interligadas. O personagen secundário de uma história vira protagonista na história seguinte e assim em diante até que a história de todos seja contada.
Há episódios muito bons, como “Êxtase”, em que uma garota descobre uma maneira de congelar o tempo e usa esse recurso para ter um interlúdio amoroso com seu namorado. Os dois passam um mês vivendo como querem na cidade paralisada. Curioso é que esse episódio vai fazer os moradores acharem que há uma quadrilha de assaltantes agindo, o que vira o gancho para o episódio do homem que compra um robô para proteger sua família.
Uma das ilustrações de Simon Stalenhag que serviram de inspiração para os episódios.
Outro que merece destaque é “Inimigos”: um rapaz é abandonado pelos colegas em uma ilha aparentemente deserta e descobre que há um habitante misterioso. O episódio tem um bom equilíbrio entre terror e poesia e se liga diretamente ao episódio seguinte, “Casa”, com a história do filho do protagonista de “Inimigos”.
Por outro lado, há episóidos como “Ecoesfera” que são decepcionantes. Nele, algo fantástico está acontecendo, mas não existem pistas do que seja. Deixar que o expectador imagine tudo pode ser interessante num quadro de Simon Stalenhag, mas não funciona em um seriado.
Contos do Loop foi anunciado como um anti Black Mirror, o que é uma boa definição. Se em Black Mirror a visão sobre a tecnologia quase sempre é pessimista e o resultado desastroso é quase certo, no seriado da Amazon há um otimismo inerente, mesmo quando tudo parece levar ao desastre.

Eric, de Terry Pratchett

 


O escritor inglês Terry Pratchett revoluciou a literatura de fantasia ao introduzir o humor no gênero, algo parecido com o que Douglas Adams fez com a ficção científica em O guia do mochileiro das galáxias (não por acaso, os dois são inglese).

Pratchett criou um mundo fantático que consite num disco sustentado por elefantes equilibrados nas costas de uma tartaruga. Um local onde ser mago é uma profissão possível e qualquer coisa pode acontecer.

O autor aproveitou a série para satirizar tudo, da vida moderna aos clássicos. Nessa última categoria pode ser incluído o livro Eric, lançado no Brasil pela Conrad em 2005.

Como a capa indica, Eric é uma versão humorística de Fausto, o homem que vendeu sua alma ao diabo (no título Fausto aparecer riscado e Eric aparece escrito em cima com letras infantis).

Na trama, Rincewind, o desastrado mago que fora enviado para o calabouço das dimensões em um livro anterior, volta para Discworld ao ser convocado por um demonólogo. Na verdade, o demonólgo, o garoto Eric Thusley, estava tentando chamar um demônio, mas o que apareceu foi o mago.

Eric faz três exigências: ter o domínio de todos os reinos do mundo, a mulher mais bonita que já existiu e viver para sempre.

Mas, como alerta Terry Pratchett, qualquer mago esperto que sabe o bastante para sobreviver por cinco minutos também é esperto o bastante para perceber que, se há algum poder na demonologia, ele está nas mãos dos demônios: “Usá-los em benefício próprio seria como tentar matar ratos batendo neles com uma cascavel”.   

Ou seja, o lance todo do pacto com demônios consiste em dar tudo que a pessoa pediu e, ao mesmo tempo, tudo que ela não quer. E, embora Rincewind não seja um demônio, é exatamente isso que acontece.

Ao se tornar o senhor do mundo, por exemplo, Eric, juntamente com Rincewind são enviados para um país no meio da selva, Tezuman.

Eric imagina que estar em em misterioso reino amazônico onde lindas princesas submetem seus prisioneiros a ritos de procriação estranhos e exaustivos. E, de fato, há em Discworld alguns desses reinos, onde a maioria dos exploradores são submetidos a tarefas exclusivamente masculinas. A maioria, entretanto, não sobrevive depois de anos instalando tomadas, montando prateleiras, cortando a grama do quintal ou verificando barulhos estranhos no sótão.

Acontece que os tezumanos são o povo mais irratável, pessimista e sombrio desse local. Eles cultuam um deus jibóia enfeitado de plumas que exige sacrifícios.

Eric é recebido com toda a pompa e ganha diversos presentes, para logo depois ser preso, juntamente com o mago, pelos tezumanos que querem finalmente se vingar do dono do mundo por ter colocado eles num país tão ruim, cheio de pântanos, de mosquitos, o fato das rodas de pedra nunca ajudarem a movimentar as coisas por mais que fossem colocadas na horizontal e puxadas com cordas.

Claro, eles se livram dessa enrascada, mas só para cair numa arapuca ainda maior.

A mulher mais bonita do mundo é Helena de tróia, Eleonor na versão de Discoworld, e os dois vão parar em plena guerra de troia só para descobrir que a mulher mais linda de todos os tempos se tornou uma matrona rodeada de crianças. “Ela parece com minha mãe!”, reclama Eric.

E a saga segue pelo início do mundo (afinal, quem quer viver para sempre teria que voltar até a origem dos tempos) e até uma visita ao inferno, que virou uma colônia de férias em que o objetivo é tornar tudo o mais tedioso possível.

Tudo isso misturado com os comentários irônicos de Terry Pratchett que pontuam toda a obra.

Enfim, um livro rápido e divertido.  

Ernie Pike, de Oesterheld e Pratt

 


Quando foi lançada, em 1957, a série com o repórter Ernie Pike revolucionou as histórias em quadrinhos de guerra. Saiu o ufanismo e o maniqueísmo e entrou a profundidade psicológica. O repórter Ernie Pike não contava histórias de heroísmo, mas histórias com profundo teor humano.

A série, publicada na revista Hora Cero, tinha roteiro do argentino Héctor Oesterheld e desenhos do italiano Hugo Pratt, que à essa altura morava na capital portenha. Pratt fez o repórter com as feições do roteirista-editor, mas a base para a criação do personagem tinha sido o jornalista Ernest Taylor Pyle, também conhecido como Ernie Pyle. Pyle se destacara com textos realistas sobre a guerra, fascinando milhões de leitores norte-americanos com suas histórias.

O personagem era visualmente baseado no roteirista. 


Como seu equivalente da vida real, Ernie Pike narrava histórias pouco convencionais sobre a II Guerra Mundial, muitas vezes irônicas, a exemplo do soldado inglês que fugira dos comandos que tentavam salvá-lo achando que se tratavam de canibais. Outras eram pueris, como da tenente do corpo auxiliar feminino do exército norte-americano que sonhava com um rapaz alto, loiro, que tivesse uma pinta na bochecha direita e fumasse cachimbo. Mas quando o encontra, descobre que ele é um oficial alemão. Há aventuras impressionantes, em que a narrativa é estentida ao máximo do suspense e da tensão, como em Comboio para malta, sobre um navio levando suprimentos para o porto de Malta e que o faz sob pesado fogo inimigo.

Mas os grandes relatos, os que realmente valem o luxuoso álbum publicado pela editora Figura, são os dramas humanos. E desses, o melhor representante é Desencontro. O conto é protagonizado por dois amigos ingleses, Crazy Holden e Tenente Long, cada um deles comandando um tanque durante a guerra na África. Oesterheld e Pratt conseguem fazer um conflito formado essencialmente por máquinas de combate resplandecer de sentimentos humanos e muita ação até o final apoteótico e irônico, no qual o único sobrevivente enlouquece, acreditando que foi traído pelo amigo.

A história que provocou atrito entre os criadores: um soldado alemão abandonando sua posição para salvar a boneca de uma menina. 


Oeterheld humanizava não só os integrantes dos exércitos aliados. Alemães e japoneses são mostrados como pessoas normais, como defeitos e qualidades e muitas vezes gestos inesperados, como do alemão que sai do posto para salvar a boneca de uma menina francesa. Essa característica do roteiro foi inclusive motivo de discórdia entre Oesterheld e Pratt. O desenhista acreditava que o roteirista humanizava demais os alemães por ser descentes desse povo.

A enorme edição da Figura reúne todas as histórias do personagem criadas pela dupla. É um volume de fôlego, com 350 páginas que incluem não só as HQs, mas também as belíssimas capas criadas por Pratt. A edição permite perceber também, que à certa altura do italiano começou a perder interesse pela série, talvez pelas discordância sobre o roteiro, o que fez com que seu desenho se tornasse menos caprichado. Mesmo assim, o volume é obrigatório na estante de qualquer fã de quadrinhos.

Em tempo, a capa produzida pela editora Figura, além de linda, é a perfeita representação da série, ao mostrar soldados mortos e a foto de uma família em um capacete caído.

Kull – Lua dos doendes

 


Estamos acostumados a pensar no Conan de John Buscema arte-finalizado pelos artistas filipinos, que acrescentavam detalhes e davam um ar mais selvagem ao traço do veterano da Marvel.

Assim, é curioso ver Buscema numa história de espada e magia arte-finalizado por Klaus Janson, um cara que ficou conhecido por entintar as histórias do Demolidor desenhadas por Frank Miller.

O resultado dessa mistura insólita podemos observar no número 6 da revista Kull the conqueror, publicada em 1984.

A splah page inicial é um bom exemplo de como a dupla funcionou. 


Na história, intitulada Lua de Duendes, com roteiro de Alan Zelenetz, Brule acompanha uma garota nobre pelos campos, mas ela se demora formando um buquê de flores como presente para a irmã. E demora tanto que anoitece. Acontece que aquela é a noite do ano em que os duendes surgem para tentar as pessoas com seu maior desejo. Uma vez aceita a oferta, a pessoa se torna escrava dos duendes – uma bela metáfora de como podemos nos tornar escravos dos nossos próprios desejos.

Os duedes oferecem o maior desejo da pessoa. 


O roteiro de Zelenetz funciona bem, mantendo o suspense e o clima de maravilhamento necessário para uma história de magia – as sequências com os duendes gritando suas ofertas são as melhores da HQ.

Já quanto ao desenho, embora Janson simplifique o traço de Buscema, a história funciona, ganhando nas expressões faciais o que perde em outros aspectos. A primeira imagem, com a moça entretida com as flores enquanto Brule, ao fundo, a repreende, é um exemplo de como essa pareceria funcionou.

Uma bela splash page da história. 


No Brasil essa história foi publicada pela editora Abril em Conan, o bárbaro 6.

Por trás da inocência

 

Por trás da inocência, filme de Anna Elizabeth James, foi lançado pela Netflix como um triller erótico/policial.

Na história, uma escritora de romances policiais se vê obrigada a continuar a série que a tornou famosa após uma oferta milionária da editora e do fato do marido ter perdido muito dinheiro de alguma forma que não é explicada pelo filme. Para ter tempo para escrever, ela contrata uma babá para cuidar dos filhos.

A partir daqui, spoiller, então continue por conta e risco.

A babá inicia uma relação com a escritora e, ao mesmo tempo, com o marido. Várias sequencias parecem imaginação da escritora, ou simplesmente trechos de seus livros mostrados para o expectador. A melhor amiga da escritora é assassinada, assim como no livro que está sendo escrito.

A trama toda parece um tremendo roteirismo. Para funcionar como trama policial, era necessário um assassinato, então acontece um assassinato, sem que haja qualquer motivação específica além das necessidades do roteiro.

E, no final, o filme inova com uma tremenda reviravolta: a babá é a assassina.

Hã?

É tipo um filme policial que inova por colocar o mordomo como culpado!  No caso da tradução brasileira isso é ainda pior porque a “reviravolta” do final, está no título “Por trás da inocência”.

E todas as pistas de que algumas sequencias eram sonhos e imaginação? Sem falar em incoerências inclusive visuais. Por exemplo, em uma cena a garota está com trança, na cena seguinte está com o cabelo solto e cheio de cachos, nas cena seguinte, minutos depois, está de volta com tranças. A escritora faz um escândalo na mesa de jantar, dizendo que a babá está transando com o marido e as crianças parecem chocadas. Na cena seguinte em que aparecem as crianças, parece que nada aconteceu. São muitas incoerências que davama  entender que se tratava de sonhos ou imaginação. Como não era, ficam apenas como incoerências.

E mais um roteirismo: à certa altura as duas, escritora e babá vão fazer um piquenique e os pneus de suas bicicletas é rasgado. O evento não tem função nenhuma dentro da trama, não provoca nada além do fato delas voltarem para casa empurrando a bicicleta e parece ter sido criado apenas para que mostrar o quanto a babá é má.

Há coisas que são simplesmente jogadas e não explicadas, como a história do cheque da editora, que faz a escritora acreditar que a babá está de alguma forma armando contra ela (eu confesso que não consegui entender essa parte, alguém entendeu?).

Greer Grammer, que faz o papel da babá, tem uma boa atuação como a garota inocente e carinhosa. Mas quando vira uma dominatrix malvada, parece mais cômica do que realmente perigosa.

Enfim, por trás da inocência parece uma boa ideia (uma trama policial em que imaginação e realidade se misturam) mal aproveitada.

A arte fantástica de Keith Parkinson

 

Keith Parkhinson começou a se interessar por fantasia ainda criança. Quando cresceu, virou um especialista em ilustrações de RPG. Ilustrou jogos como Forgotten RealmsDragonlanceGamma WorldGuardiansEverQuestMagic: The Gathering e Vanguard: Saga of Heroes. Também ilustrou livros e revistas.










terça-feira, abril 29, 2025

Elektra vive

 


Uma das grandes inovações da primeira fase de Frank Miller no Demolidor foi a criação de Elektra, a grande paixão do herói. O fato dela ser uma assassina criou uma dinâmica única na série e um dilema ética para o herói poucas vezes visto nos quadrinhos de super-heróis. No auge da fama, Miller matou a personagem (em uma sequências mais emocionantes das HQs de todos os tempos). Mas provavelmente se arrependeu.
Elektra reapareceu logo depois, em uma HQ curta em que Murdock delira imaginando que personagem está viva. Depois em uma HQ em que o tentáculo tenta trazê-la de volta, sob controle dos assassinos. E, finalmente, em Elektra vive, publicada no final de década de 1980.
Quando o álbum foi publicado, Miller estava no auge da fama, o que lhe permitiu impor um formato gráfico diferenciado para os quadrinhos americanos. E estava no auge de sua capacidade como narrador gráfico. A começar pela capa, apenas como os créditos, título e a personagem andando em meio à neve. Outro destaque é a sequência de página inteira em que Murdock desce as escadas de seu apartamento. Com forte influência de Will Eisner, Miller aproveita a tendência do leitor de visualizar a página de cima para baixo para construir sua narrativa.
Miller assimilou muito bem a influência de Will Eisner. 


As cores de Linn Varley, esposa de Miller, destacam ainda mais a arte exuberante (bons tempos em que Miller sabia desenhar!!!).
A sequência em que Murdock vai à igreja para se confessar é relevante e revela muito sobre o personagem e suas origens católicas (algo que foi muito bem aproveitado na primeira temporada da série da Netflix). Mas as várias sequências de sonhos e do personagem se lembrando da personagem parecem apenas uma repetição do que Miller já tinha feito na revista do Demolidor.
A arte é impressionante. Mas a história era necessária? 


Enfim, a pergunta: apesar da qualidade visível do álbum, era mesmo necessária uma história a mais com Elektra?
Elektra Vive foi publicada no início da década de 1990 pela editora Abril e volta agora em um álbum capa dura pela editora Panini.

X-men: os filhos do átomo

 

No final dos anos 1970, uma série de quadrinhos mudou o mercado de super-heróis e, posteriormente, iria mudar a forma como Hollywood via os gibis. Trata-se de X-men.
Esse grupo de heróis foi criado por Stan Lee e Jack Kirby em 1963 como uma espécie de Quarteto Fantástico adolescente, mas nunca fez muito sucesso. O gibi sempre foi deixado de lado e vivia constantemente de republicações. No início dos anos 1970, o revolucionário desenhista Neal Adams foi contratato pela Marvel para revitalizar os personagens numa série escrita por Roy Thomas. O novo gibi era bom e chegou a fazer algum sucesso, mas os executivos da Marvel não tiveram paciência de esperar e acabaram remanejando os autores para outros personagens.
Assim, os X-men ficaram à deriva, vivendo de republicações ou participações especiais em outras séries até 1975. Nessa época, a empresa dona da Marvel tinha também uma organização que licensiava quadrinhos para diversos países e surgiu a idéia de criar uma série que reunisse heróis dos países em que gibis Marvel eram mais populares. Roy Thomas sugeriu remodelar os X-men, com membros de várias etnias. Para isso, ele chamou o roteirista Len Wein e o desenhista Dave Cockrum, famoso pela facilidade de criar uniformes de personagens.
A idéia original não foi seguida à risca e a nova equipe veio com um herói russo (Colossus), uma africana (Tempestade),  um índio apache (Pássaro Trovejante),  um alemão (Noturno), um japonês (Solaris), um, escocês (Banshee). Um personagem canadense, que havia sido criado como coadjuvante nas histórias do Hulk, chamado Wolverine, foi reaproveitado na nova série, assim como dois personagens da série clássica: Cíclope e a Garota Marvel.
No livro A era de bronze dos super-heróis, Roberto Guedes conta que a criação do grupo partiu de um caderno de Cockrun, no qual ele desenhara várias idéias para uniformes de personagens. Ele e o roteirista misturaram uniformes, poderes, e chegaram a um grupo coeso.
A nova equipe estreou numa história em que eles eram chamados pelo professor Xavier para salvar o mundo de Krakoa, a ilha viva. Essa história fez tanto sucesso que a Marvel resolveu ressuscitar a revista. Mas Len Wein estava ocupado demais com outras séries, e passou a bola para seu assistente, Chris Claremont. Claremont tinha uma facilidade muito grande de trabalhar histórias com grupos grandes e acabou se apaixonando pelos X-men. Tanto que escreveu a revista dos mutantes durante 17 anos, sendo chamado de ¨O senhor X¨.
Com a nova equipe criativa, a revista foi ganhando popularidade, mas estava longe de figurar na relação das mais vendidas. Além disso, havia um problema: embora a revista tivesse apenas 17 páginas (o menor número de páginas que um gibi de super-heróis já teve), Cockrun não conseguia dar conta do serviço. Assim, foi chamado um outro artista, fã da série original, que já havia trabalhado com Claremont na série Punhos de Ferro: John Byrne.
Curiosamente, logo no início o traço de Byrne não agradou, tanto que os editores ainda colocaram Cockrun para fazer as capas. Mas logo ele se tornaria o preferido entre os fãs. Byrne, além de ótimo desenhista, era muito rápido e ajudava nos roteiros, colocando mais ação nas tramas e evitando a tendência de Claremont de transformar a série numa novela de diálogos intermináveis. Para fazer a arte-final foi chamado Terry Austin, dono de um traço muito detalhista, que ressaltava as melhores qualidades do desenho de Byrne. Estava formada a tríade que transformaria  os X-men não só na revista mais vendida do mercado norte-americano, mas também  numa das franquias mais bem sucedidas da indústria do entretenimento, com vários gibis e filmes.
Uma das primeiras mudanças provocadas pela entrada de Byrne na equipe foi a valorização do personagem canadense Wolverine. Como o desenhista também é canadense, ele acabou dando mais ênfase a ele. Na época, o baixinho era tão inexpressivo que a maioria dos leitores nem reparava nele. Com o tempo ele se tornaria o personagem mais popular da equipe.
Byrne chegou no final de uma saga em que a personagem Fênix praticamente salvava o universo sozinha. Essa aventura mostrava a personagem com tantos poderes que parecia impossível continuar fazendo histórias com ela. A solução encontrada durante algum tempo foi simplesmente afastá-la da equipe.
Logo na aventura seguinte, Byrne fez questão de colocar seu conterrâneo em evidência. Nessa história, o governo do Canadá enviava um super-herói local para levar Wolverine de volta para casa. A história chamou a atenção dos leitores para o passado nebuloso do baixinho. Esse seria um dos fatores de sua popularidade: a cada edição os leitores descobriam mais um detalhe sobre o passado desse personagem.
Os X-men viveram uma série de aventuras ao redor do mundo, passando pela Terra Selvagem, Japão e Canadá, para então voltar aos EUA. Aos poucos, os leitores foram percebendo que havia um novo padrão de qualidade sendo estabelecido ali, mas a série só se tornaria um sucesso mesmo com a saga de Protheus.

As histórias do Lanterna Verde de Alan Moore

 

  

Quando acabou a sua consagrada fase no Monstro do Pântano, Alan Moore foi disputado pelos editores da DC, que o queriam escrevendo seus personagens. Um desses editores foi Len Wein, que havia sido responsável por levar o bardo para a DC e com o qual ele tinha uma dívida de honra. 

Wein era o editor da revista do Lanterna Verde e o convidou para escrever histórias curtas para complementar as edições. Moore fez duas histórias que, apesar do tamanho pequeno, tornaram-se fundamentais. 

A primeira delas, desenhada por Dave Gibbons tinha como título “Mogo não comparece às reuniões”.

Bolpunga passa anos procurando Mogo. Quando finalmente descobre quem é ele, foge desesperado.


Na trama uma jovem lanterna chamada Arisia lê o Livro dos Nomes Valorosos, que reúne o nome de todos os lanternas. Ela estranha que nunca tenha encontrado com alguns daqueles seres. Um veteranos explica que "Alguns lanternas não podem comparecer aos encontros. Leeze Pon, por exemplo, é um vírus da varíola super-inteligente. Dkrtzy RRR por outro lado, comparece, mas como é uma progressão matemática abstrata, apenas os guardiões percebem sua presença".

Para explicar quem é Mogo, o veterano centra sua narrativa num ser chamado Bolpunga que resolveu destruir Mogo como forma de desafio. Por anos eles percorreu o planeta onde lhe disseram que Mogo estava, sem no entanto encontrá-lo. Mas quando olha os mapas feitos nesses anos todos descobre a terrível verdade. 

É uma história divertida, que brinca com a mitologia dos lanternas ampliando-a.

Tigres resolve uma falha do roteiro da primeira história do Lanterna. 


Mas a cereja do bolo é “Tigres”. Desenhada por Kevin o Neil, a história é focada em Abin Sur, o lanterna Verde que repassou o anel para Hall Jordan. 

Moore pega uma falha na origem do personagem e a explica. Na primeira história do personagem, Jordan recebe o anel do alienígena Abin Sur cuja nave se acidentou ao adentrar na atmosfera terrestre e está prestes a morrer. Mas qualquer um que já tenha lido as aventuras posteriores dos lanternas deve ter se perguntado: por que diabos aquele personagem estava viajando numa nave espacial ao invés de usar os poderes do anel?

O traço de Kevin O Neil se encaixa bem na caracterização dos demônios.  


Isso, que é de fato uma tremenda falha do roteiro original, é explicado por Moore de maneira genial.

Na história, Abin Sur precisa resgatar uma criança num planeta proibido, onde foram aprisionados os demônios do Império das Lágrimas, seres malignos e insidiosos. De fato, quando desce, eles lhe oferecem a realização de seus desejos, mulheres, segredos a respeito de seu pai morto... mas só um consegue chamar a atenção do lanterna, um demônio que se dispõem a responder três perguntas sem receber nada em troca. A primeira pergunta é onde está a nave caída. Como a resposta para essa pergunta se revela verdadeira, Abin Sur faz duas outras. Uma delas é qual o perigo direto que o futuro reserva para ele. A resposta ladina a essa pergunta é que fará o laterna usar a nave, o que provocará sua morte.

Essa história de apenas 12 páginas é tão fundamental que depois a DC faria uma mega saga apenas baseada nela. Em 12 páginas Moore consegue ser mais fundamental que a maioria dos autores em 12 edições.

Alerta Vermelho

 

Existe uma tradição em Hollywood de filmes de golpistas concebendo um grande roubo. Alerta Vermelho, filme dirigido por Rawson Marshall Thurber com  Dwayne Johnson, Ryan Reynolds, Gal Gadot se encaixa nessa categoria.

 Na história, o agente do FBI John Hartley (Dwayne Johnson) tenta impedir que o ladrão Nolan Booth (Ryan Reynolds) roube um dos objetos antigos mais preciosos do mundo: o ovo de Cleópatra. No entanto, Hartley é vítima de uma armação e acaba incriminado e preso com Booth numa cadeia russa. A responsável por isso é a ladra O Bispo (Gal Gadot) e para limpar seu nome, Hartley precisa se aliar a Booth e impedir que o terceiro ovo seja encontrado.

 É uma trama repleta de reviravoltas, em que ninguém é o que parece ser. Tudo isso misturado com sequências inteiras de cenas de ação entremeadas com muito humor, algo que Ryan Reynolds faz bem. Nessas cenas, aliás, a canastrice Dwayne Johnson funciona bem, de forma que ele serve perfeitamente como escada para as piadas, como quando Booth diz, em plena prisão russa, no meio de uma centena de bandidos,que o colega é na verdade um policial.

 O filme é bem dirigido, tem diálogos afinados, mas parece não ir muito além da superfície, de modo que fica sempre a impressão de que falta alguma coisa. Alerta Vermelho nem se compara com clássicos como Golpe de Mestre ou Onze homens e um segredo. Ainda assim é divertido.