terça-feira, maio 06, 2025

Homem com H

 


Ney Matogrosso é um dos mais importantes cantores brasileiros. Sua atuação no grupo Secos e Molhados revolucionou as apresentações musicais no Brasil ao introduzir a performance e adereços teatrais nos shows. Essa rica trajetória é muito bem explorada no filme Homem com H, de Esmir Filho.

Algo que me chamou atenção foi a construção do roteiro, a partir da Jornada do herói, uma estrutura inusitada para esse tipo de filme, mas que aqui funciona muito bem.

Nós acompanhamos a jornada do garoto Ney, maltratado pelo pai desde criança e expulso de casa:  a descoberta de que sua voz é especial; sua entrada nos Secos e Molhados e as desavenças que levariam ao final do grupo;  o início de sua carreira solo, com um disco desastroso (único momento em que um trecho musical do filme nitidamente não funciona); a descoberta de um caminho que o tornaria popular, sua relação com Cazuza; o flagelo da AIDS; a reconciliação com o pai...

Está tudo ali: o herói sendo obrigado a embarcar em uma jornada, os perigos enfrentados, o encontro com o pai e finalmente a lição, resumida na dedicatória ao final: “Para Ney Matogrosso, que soube ser livre”.

Essa jornada é entremeada por ótimos clipes musicais, verdadeiramente empolgantes – até porque as músicas são ótimas. Como ponto negativo apenas o excesso de metáforas visuais, como a da cobra na sequência sobre a AIDS, que, pelo excesso, se tornam forçadas.

Uma curiosidade é que Ney Matogrosso relutou muito para gravar a música Homem com H, de Gonzaguinha. O poetinha o convenceu a gravar argumentando que só a sua interpretação daria uma camada diferenciada de significado e tornaria a música transgressora. No final, foi um sucesso tão grande que se tornou o título da cinebiografia do cantor.

Sem comentários: