Ney Matogrosso é um dos mais importantes cantores brasileiros. Sua atuação no grupo Secos e Molhados revolucionou as apresentações musicais no Brasil ao introduzir a performance e adereços teatrais nos shows. Essa rica trajetória é muito bem explorada no filme Homem com H, de Esmir Filho.
Algo que me chamou atenção foi a construção do roteiro, a
partir da Jornada do herói, uma estrutura inusitada para esse tipo de filme,
mas que aqui funciona muito bem.
Nós acompanhamos a jornada do garoto Ney, maltratado pelo
pai desde criança e expulso de casa: a
descoberta de que sua voz é especial; sua entrada nos Secos e Molhados e as
desavenças que levariam ao final do grupo; o início de sua carreira solo, com um disco
desastroso (único momento em que um trecho musical do filme nitidamente não
funciona); a descoberta de um caminho que o tornaria popular, sua relação com Cazuza;
o flagelo da AIDS; a reconciliação com o pai...
Está tudo ali: o herói sendo obrigado a embarcar em uma
jornada, os perigos enfrentados, o encontro com o pai e finalmente a lição,
resumida na dedicatória ao final: “Para Ney Matogrosso, que soube ser livre”.
Essa jornada é entremeada por ótimos clipes musicais,
verdadeiramente empolgantes – até porque as músicas são ótimas. Como ponto
negativo apenas o excesso de metáforas visuais, como a da cobra na sequência
sobre a AIDS, que, pelo excesso, se tornam forçadas.
Uma curiosidade é que Ney Matogrosso relutou muito para
gravar a música Homem com H, de Gonzaguinha. O poetinha o convenceu a gravar
argumentando que só a sua interpretação daria uma camada diferenciada de significado
e tornaria a música transgressora. No final, foi um sucesso tão grande que se
tornou o título da cinebiografia do cantor.
Sem comentários:
Enviar um comentário