A série Guerras Secretas surgiu como uma encomenda para
promover uma linha de bonecos da Marvel. Jim Shooter, o roteirista e editor,
chegou a comentar que o objetivo da história era mostrar para os garotos como
brincar como os bonecos, colocando-os em confronto. E é isso de fato o que percebemos na primeira
história.
Nas revistas anteriores da Marvel, os roteiristas tinham
jogado ganchos com os heróis sendo atraídos até uma estrutura no Central Park.
No primeiro número de Guerras Secretas vemos o que aconteceu com eles: estão
numa estação espacial, no meio do nada. Essa sequência funciona principalmente
graças ao talento de Mike Zeck, com seu traço simples, elegante e funcional:
começamos com o espaço, a estação espacial surgindo do nada, um plano detalhe
dos heróis espantados e uma página dupla com os mesmos no meio da estação
espacial.
O roteiro apresenta os personagens.
Shooter é bem direto. Alguém pergunta quem está ali e o
diálogo seguinte é só apresentando, em sequência, cada um dos heróis escolhidos
por Beyonder. A mesma coisa acontece entre os vilões. Diante da perplexidade
dos vilões, o Doutor Destino tenta explicar o que está acontecendo, ao mesmo
tempo em que também apresenta todos os jogadores do lado do mal: “Alguém ou
alguma coisa nos transportou através do universo! Pelo que puder notar, aqui
estão a asgardiana Encantor, Ultron, o Homem-absorvente, a Guangue da
Demolição, Kang, Galactus, Lagarto, Homem Molecular e Dr. Octopus”.
Era como se o roteirista estivesse apresentando os bonecos
para os meninos: “Olhe, são com esses personagens que vocês vão brincar”.
Beyonder cria um mundo a partir de pedaços de outros mundos. A física mandou um abraço.
Logo após isso, Beyonder destrói uma galáxia e forma um
planeta, transportando para lá as duas estações espaciais.
Enquanto isso, os vilões começam a brigar entre si, sem
razão nenhuma até que Ultron resolva simplesmente eliminar todos até ser
neutralizado por Galactus. Afinal, Galactus é o vilão mais fodão da Marvel,
certo? Não. Quando ele tenta confrontar Beyonder, é simplesmente repelido como
um inseto.
Funciona como medida para mostrar o tamanho do poder do ser
que está manipulando heróis e vilões. Mas a presença de Galactus no time dos
vilões desequilibra absolutamente o jogo, afinal, Galactus sozinho poderia
derrotar todo mundo ali.
Se os vilões estavam brigando entre si, os heróis também,
mais especificamente pela presença entre eles de Magneto, visto como um vilão
pela maioria ali (era Shooter explicando para os leitores como brincar com os
bonecos, colocando-os em conflito). Da mesma forma, há uma discussão sobre quem
seria o líder – o escolhido acaba sendo o Capitão América.
Beyonder avisa que quem destruir seus inimigos alcançará o
maior dos prêmios: todos os seus sonhos serão realizados, de forma que o número
um acaba com os vilões atacando os heróis.
Apesar de todos os problemas, como falta de profundidade e
até de verossimilhança, há de se admitir que a história é empolgante e deixa o
leitor com uma pulga na orelha perguntando-se o que vai acontecer. Na época em
que eu li, aos 15 anos, foi exatamente isso que aconteceu.
Mike Zeck ainda estava se esforçando nesse primeiro número.
Hoje, lendo a versão sem cortes, o que mais chama atenção é
o belo desenho de Mike Zeck, com destaque para o quadro de Galactus caído no
chão, depois de se enxotado por Beyndoer. A presença do Doutro Destino no
quadro só serve para destacar a grandiosidade do ser cósmico.
Nas edições seguintes, à medida em que Jim Shooter
implicava com destalhes e mais detalhes, Mike Zeck foi perdendo o interesse pela
história, de forma que seu traço foi se tornando cada vez menos detalhado e
mais genérico. Quando foi publicado o último número, Shooter mandou uma garrafa
de champanhe para o desenhista. Ele abriu e jogou tudo na pia.
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