Uma coisa que espanta em Crise nas Infinitas Terras é como a série consegue explorar toda a mitologia DC. Literalmente todos os personagens da editora ganham protagonismo em um momento ou outro. É o que vemos, por exemplo, no segundo número, que começa com os desconhecidos Anthro e o povo urso, uma série que se passa na idade das pedras.
Na história, uma manada de mamutes está prestes a destruir
a vila, mas Anthro tem um plano: montar no líder da manada e fazê-lo desviar do
caminho. Ele consegue isso no último momento, mas quando está comemorando, bate
em um galho de árvore e cai. No quadro seguinte ele vê uma cidade futurista...
e os mamutes aparecem no futuro da Legião dos super-heróis! Esse é um exemplo
da genialidade do roteiro de Marv Wolfman: ao conectar a pré-história do
universo DC com o futuro da Legião, ele mostra que os efeitos da Crise estão se
fazendo sentir em todos os níveis e em todas as épocas.
Anthro e o povo urso são personagens pouco conhecidos da DC, mas fazem sua aparição em Crise.
A narrativa corta para Gothan City nos dias atuais. O
Coringa acabou de matar um homem para se apropriar de sua herança: os diretos
sobre vários filmes do cinema mudo. É quando surge Batman. No meio do
quebra-pau entre os dois, surge uma figura fantasmagórica: o Flash: “Socorro!
Alguém me ajude!”, sussurra ele. Enquanto conversa com Batman e avisa sobre um
perigo iminente, ele se desfaz até não sobrar nada. É o prenúncio da primeira
morte de um personagem titular da DC. E não era apenas um recurso dramático ou
um blefe. Ele permaneceria morto depois da série (tempos depois, outros
roteiristas o trariam de volta, mas isso é outra história).
A morte de Flash é antecipada ao leitor.
A história corta para o satélite do Monitor (sim, Marv
Wolfman trabalha com várias narrativas paralela), onde o personagem explica seu
plano para deter a grande ameaça que pode destruir todos os universos.
Mecanismos foram colocados por ele em vários pontos do tempo e do universo e
devem ser defendidos pelos heróis.
No final desse interlúdio, temos um foco nos pensamentos da
Precursora: “Repouse agora, Monitor... conserve suas forças... enquanto eu
alerto o outro. Sou incapaz de resistir e me vejo forçada a obedecer a seus
comandos. Perdoe-me. Embora você tenha
sido mais do que um pai para mim... eu devo traí-lo”.
A sequência é instigante. O leitor fica sabendo que a
precursora é uma traidora, mas não conhece os motivos de tal traição. Fica
sabendo também que existe um outro, um inimigo do Monitor, mas não sabe quem é.
Isaac Asimov definia suspense como negar informação, deixando o o leitor
curioso sobre os rumos da história. É exatamente o que vemos aqui.
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