sexta-feira, outubro 31, 2025

Mister no - Piratas do rio

 


Os ratos d’água são um fenômeno comum na Amazônia. Bandidos que percorrem os rios para roubar navios, eles são o assunto da trama de Mister no que inicia no número 8 e vai até o 10 da série. 

Na história, o herói vai a Belém comprar uma peça sem a qual o seu avião não pode voar. No meio da viagem, o navio é assaltado por piratas em busca de uma carga de ouro. Para aproveitar a situação, eles resolvem roubar também os passageiros e isso incluí uma maleta na qual está a tal peça do avião. 

A peça do avião do herói é roubada. 


Depois de uma troca de tiros protagonizada por Mister No, dois deles morrem e com eles são encontrados pingentes com jacarés de prata, o que se torna uma pista a ser seguida. 

Depois de ser acusado de homicídio, o herói acaba se aliando a um capitão da polícia para invadir uma reunião dos piratas e descobrir quem é o mistério chefe que usa uma máscara vermelha. 

A única pista é um jacaré de prata. 


Sérgio Bonelli, o roteirista, une com perfeição aventura e humor em sequências memoráveis.

No humor, por exemplo, temos a sequência em que Mister No, para fugir dos perseguidores, dorme dentro de um barco, embrulhado por redes de pesca. “A ginástica de ontem à noite quase me deixou fora de combate. Ginástica? Foi uma olimpíada! Salto em altura... corrida de obstáculos... nado e mergulho... e sobretudo tiro ao alvo, onde eu fazia o papel de alvo!”.

Logo a seguir ele é capturado por um policial em ronda, mas o que para ser uma situação, torna-se humor puro quando os gatos, atraídos pelo cheiro dos peixe, começa a seguir os dois. “O sargento barroso sabe trabalhar”, diz alguém. “Conseguiu capturar um gringo e uma dúzia de gatos!”.  

 

A história une aventura e humor. 

A história tem também um trecho curioso, em que o soldado amazônida reproduz o discurso colonial sobre a Amazônia: “Sempre me perguntei o que o levou a abandonar o país mais evoluído da terra para se sepultar nesta espécie de purgatório dos vivos”, diz ele. Ao que Mister No retruca, apontando para a floresta: “O que me levou? Um bocado de motivos mais ou menos justificados, capitão! E aí está um: olhe ao redor e entenderá”.

A cena mostra uma curiosa inversão, em que o colonizado se apropria do discurso do colonizador de que a Amazônia é um local atrasado e, em uma nova inversão, é o estrangeiro que tenta lhe abrir os olhos para a riqueza cultural e ambiental da sua região.

O colonizado reproduz o discurso do colonizador sobre a Amazônia. 


Não bastasse todos os méritos, a história tem uma tremenda reviravolta no final do 9, que faz o leitor roer as unhas.

Apesar de todas as qualidades, a história tem um defeito: na sequência do navio as pessoas vão sentadas no chão do convés. Qualquer um que já tenha viajado de navio na Amazônia sabe que a tradição é os passageiros irem em redes. 

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