Os ratos d’água são um fenômeno comum na Amazônia. Bandidos que percorrem os rios para roubar navios, eles são o assunto da trama de Mister no que inicia no número 8 e vai até o 10 da série.
Na história, o herói vai a Belém comprar uma peça sem a
qual o seu avião não pode voar. No meio da viagem, o navio é assaltado por
piratas em busca de uma carga de ouro. Para aproveitar a situação, eles
resolvem roubar também os passageiros e isso incluí uma maleta na qual está a
tal peça do avião.
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| A peça do avião do herói é roubada. |
Depois de uma troca de tiros protagonizada por Mister No,
dois deles morrem e com eles são encontrados pingentes com jacarés de prata, o
que se torna uma pista a ser seguida.
Depois de ser acusado de homicídio, o herói acaba se
aliando a um capitão da polícia para invadir uma reunião dos piratas e
descobrir quem é o mistério chefe que usa uma máscara vermelha.
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| A única pista é um jacaré de prata. |
Sérgio Bonelli, o roteirista, une com perfeição aventura e
humor em sequências memoráveis.
No humor, por exemplo, temos a sequência em que Mister No,
para fugir dos perseguidores, dorme dentro de um barco, embrulhado por redes de
pesca. “A ginástica de ontem à noite quase me deixou fora de combate.
Ginástica? Foi uma olimpíada! Salto em altura... corrida de obstáculos... nado
e mergulho... e sobretudo tiro ao alvo, onde eu fazia o papel de alvo!”.
Logo a seguir ele é capturado por um policial em ronda, mas
o que para ser uma situação, torna-se humor puro quando os gatos, atraídos pelo
cheiro dos peixe, começa a seguir os dois. “O sargento barroso sabe trabalhar”,
diz alguém. “Conseguiu capturar um gringo e uma dúzia de gatos!”.

A história une aventura e humor.
A história tem também um trecho curioso, em que o soldado amazônida
reproduz o discurso colonial sobre a Amazônia: “Sempre me perguntei o que o
levou a abandonar o país mais evoluído da terra para se sepultar nesta espécie
de purgatório dos vivos”, diz ele. Ao que Mister No retruca, apontando para a
floresta: “O que me levou? Um bocado de motivos mais ou menos justificados,
capitão! E aí está um: olhe ao redor e entenderá”.
A cena mostra uma curiosa inversão, em que o colonizado se
apropria do discurso do colonizador de que a Amazônia é um local atrasado e, em
uma nova inversão, é o estrangeiro que tenta lhe abrir os olhos para a riqueza
cultural e ambiental da sua região.
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| O colonizado reproduz o discurso do colonizador sobre a Amazônia. |
Não bastasse todos os méritos, a história tem uma tremenda
reviravolta no final do 9, que faz o leitor roer as unhas.
Apesar de todas as qualidades, a história tem um defeito:
na sequência do navio as pessoas vão sentadas no chão do convés. Qualquer um
que já tenha viajado de navio na Amazônia sabe que a tradição é os passageiros
irem em redes.




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