domingo, setembro 14, 2025

Autismo

 



Eu nunca tinha pensado em mim como autista, até que meu neto começou a ter algumas crises inexplicáveis. Do nada, ele começava a fazer algo que parecia uma birra, mas não tinha uma razão de ser. Conversando com uma aluna que era voluntária em uma associação de autistas, ela comentou que ele poderia ser autista. Como resultado, comecei a ler e pesquisar sobre autismo – e quanto mais eu lia, mais eu via em mim características de autismo, aliás, muito mais do que no meu neto.

Algumas das minhas lembranças mais antigas já mostravam indícios de autismo.

Em uma delas, por exemplo, eu estou viajando com minha avó de trem e não consigo prestar atenção à paisagem porque estou muito incomodado com a roupa de frio. Eu tenho muita sensibilidade na pele, o tecido da roupa sempre me incomodou, mas quando a roupa é apertada é quase insuportável. Essa é a razão pela qual sempre usei roupas muito largas, o que inclusive gerou aquelas imagens engraçadas em que estou ao lado do Bené e pareço estar usando a camisa de uma pessoa duas vezes maior.

Também tenho muita sensibilidade a sons. Sons altos não são apenas irritantes. São insuportáveis. Dor de cabeça, irritação, dificuldade de pensar, tontura. Pessoas neurotípicas podem achar que é simplesmente uma frescura, mas para um autista estar em um local com som alto equivale a uma tortura, o que muitas vezes pode até gerar crises equivalentes à epilepsia.

Outra característica que já devia ter levantado um alerta, caso eu já conhecesse sobre autismo é o hiper-foco.  Eu sou do tipo que, quando começo a fazer algo, faço só aquilo. Eu ficava impressionado com a minha esposa, que era professora de Inglês e Filosofia e que conseguia preparar aulas das duas disciplinas na mesma manhã. Eu, quando começo a preparar aulas de uma disciplina, chego a passar uma semana ou até mesmo um mês e dificilmente consigo trocar para outra enquanto estou focado em uma.

(Trecho do livro A árvore das ideias. Para baixar, clique aqui)  

Homem-aranha e Tigresa

 


Uma das edições mais célebres da dupla Chris Claremont – John Byrne à frente do título Marvel Team-Up foi o encontro do aracnídeo com a Tigresa, no volume 67.

Na história, Kraven, o caçador, captura o Homem-aranha usando dardos paralisantes. Quando o heró acorda, dá de cara com o vilão, tendo ao seu lado Tigresa.

A imagem, uma splah page é impressionante e chamou a atenção de todos que leram a história: O aranha, acorrentado, em primeiro plano, de costas para o leitor. Em segundo plano, Kraven sentado em uma almofada, relaxando e a Tigresa ao seu lado, os cabelos soltos esvoaçantes. Na imagem, ela parece tanto uma gatinha ao lado do dono quanto uma perigosa felina pronta a pular sobre a presa.

Uma splash page de impacto. 


O que acontecera é que Kraven, ao ser perseguido pela heroína, instalara nela uma coleira que controlava seu comportamento, fazendo com que ela obedecesse ordens suas: “Ela anseia pela caçada. Você é a presa, Homem-aranha. Se ela o matar, minha vingança estará completa. Se for o contrário, você conquistará o direito à vida. Seu tem um deus, Homem-aranha, reze para ele!”.

A situação é uma sinuca de bico: o aracnídeo não pode matar Tigresa, mas sabe que se não o fizer será morto por ela. Esse dilema ético é o que torna essa história tão interessante do ponto de vista de roteiro.

A história é simples, mas cheia de ação. 


Quanto ao desenho, Byrne estava em plena forma e conseguia fazer imagens que refletiam a heroína como se ela fosse de fato uma felina.

A história, simples em sua essência, funciona muito bem.

Quarteto Fantástico: Os amigos de Wendy

 



Em 1987 a revista do Capitão América completou 100 números e para comemorar a editora Abril fez uma edição especial, de 160 páginas, com histórias clássicas e modernas dos personagens da Marvel. Ironia das ironias, a revista só não tinha histórias do herói do título. Ainda assim, foi uma seleção única, digna de constar em qualquer coleção.
A história do Quarteto Fantástico incluída no volume é um conto que mistura terror, fantasia e ternura infantil chamado “Os amigos de Wendy”, escrita e desenhada por John Byrne.
Na HQ uma jovem desconhecida visita o prédio do Quarteto e, para espanto geral, descobre-se que a é Tia Petúnia, do qual o Coisa tanto fala. Ela leva o Quarteto para uma pequena cidade no Arizona onde estão acontecendo mortes misteriosas: os cadáveres são encontrados com expressões de terror no rosto. De alguma forma a trama toda parece estar relacionada a uma menina, Wendy, vítima de violência doméstica.

A história tem as qualidades e defeitos de uma história John Byrne: boas ideias com um ótimo desenho, mas pouco aprofundamento da trama e dos personagens.
A HQ falha em mostrar o que realmente acontece no clímax da história, tanto que o Senhor Fantástico é obrigado a explicar, num tremendo bife de roteiro. Além disso, a própria Wendy não é tão bem explorada.
Histórias como essa mostram porque a parceria John Byrne e Chris Claremont funcionava tão bem: um entrava com boas ideias, o outro entrava com o aprofundamento das mesmas.

A voz do fogo, de Alan Moore

 

 

Quem lia quadrinhos na década de 80 espantava-se com a capacidade narrativa do mestre inglês Alan Moore. E surgia sempre a dúvida: ele se sairia tão bem na literatura, sem o auxílio dos desenhos? A voz do fogo, seu livro recentemente lançado no Brasil pela Conrad Editora, prova que quem é bom, é bom em qualquer mídia.
A obra traça a trajetória de Northampton, a cidade natal de Moore, por meio de seus habitantes. A trama tem início quatro mil anos antes de cristo e prossegue até 1995. São vários contos interligados que nos dão um panorama geral da localidade e de sua evolução, mesclando magia, reencarnação e sacrifícios.
O primeiro conto, O porco do bruxo, é provavelmente o mais interessante e também o de leitura mais difícil. Gira em torno do drama de um garoto na Era Neolítica, abandonado pela tribo quando sua mãe morreu. Imagine, então, o desafio de redigir uma aventura em primeira pessoa cujo narrador ainda não domina a linguagem falada. Para tanto, Moore cria uma linguagem estranha, sem tempos verbais e com pouquíssimos pronomes. O resultado é fantástico, mas árduo.
Sinta só este exemplo: Agora olha eu para baixo, para a grama em fundo da colina, vê porcos. Porcos grandes, compridos, um atrás de outro, traçando a fêmea, pelo que parece. Ver faz um osso subir dentro de eu vontade. Eu e barriga de eu, junto, posso descer colina correndo até porcos, acertar pedra em um e fazer ele sem vida, para comer ele todo. Antes é eu juntando isso. Agora é fazendo isso.
O episódio que vem a seguir é igualmente interessante. Os campos de cremação é uma trama policial e de suspense ambientada no ano 2.500 antes de Cristo. Em viagem para conhecer seu pai, um bruxo de uma rica aldeia, uma jovem depara-se com uma esperta andarilha, que já havia feito de tudo, inclusive vender uma criança perdida da mãe como escrava. Ingenuamente, a menina conta-lhe detalhes da fortuna do seu genitor. A mau-caráter, então, mata a incauta e apresenta-se na aldeia, fazendo-se passar por ela. A grande questão é saber se a impostora será descoberta ou não. A todo instante, Alan Moore mantém-nos no fio da navalha, jogando com os nervos da personagem e os nossos.
Neste mesmo episódio, dá-se algo que define bem a atuação do autor. O velho bruxo tatua, no corpo, o mapa de Northampton e assim influencia a cidade, que, por sua vez, exerce influência sobre ele. O mesmo ocorre com Moore. Suas palavras são uma espécie de magia simbólica que molda e se deixa moldar pela cidade. Compreender como isso transcorre e descobrir as coincidências entre as diversas tramas é mais um dos atrativos do livro. Muitas vezes, a conclusão de uma narrativa dá-se apenas em outra. Além disso, há personagens fixas, como arquétipos, que surgem aqui e acolá, permeando os textos. Entalhando as palavras, Moore garante que, se o conteúdo mágico e holístico do livro não for suficiente para atrair o leitor, a poderosa narrativa cuidará de prender sua atenção até o último parágrafo. São, portanto, mais de trezentas páginas, mas que muito facilmente serão lidas num fôlego só.

sábado, setembro 13, 2025

A arte incrível de Kevin Maguire

 

Kevin Maguire é um desenhista norte-americano famoso por sua fase na Liga da Justiça na década de 1990 em parceria com Keith Giffen e J.M. DeMatteis. Em plena era Image, essas HQs se destacaram pelo bom humor, ótimos desenhos e heróis não atormentados e anatomicamente corretos. Em suma: histórias em quadrinhos divertidas. Maguire tem um talento especial para expressões faciais.. As capas que ele fez para a Liga com vários heróis, cada um com uma expressão facialse tornaram antológica e são até hoje copiadas. Confira mais do trabalho desse divertido artista.















Capas da Grafipar

 


Grafipar foi um das mais importantes editoras de quadrinhos brasileiras. Sob a liderança de Cláudio Seto, a editora montou um catálogo de dezenas de títulos, sempre com toques de erotismo.
Confira algumas capas dessa editora.





Jonah Hex – Promessa a uma princesa

 


Embora fosse uma série essencialmente pessimista, Jonah Hex tinha seus momentos de ternura, a exemplo da história “Promessa a uma princesa”, publicada em Weird Western Tales 12.

Essa história, uma das mais críticas de uma série repleta de críticas sociais, começa com Hex no saloon comendo quando chegam dois homens dispostos a matá-lo. Ambos são imediatamente mortos antes mesmo que possam pegar suas armas.

A sequência é irônica: os ditos homens civilizados agem como marginais. 


Na página seguinte vemos o povo da cidade revoltado: “Aquele louco do Jonah Hex não tá na cidade nem há uma hora e já despachou dois. Vamos deixar que ele continue?”. “Sr. Craig tem razão! Não temos xerife e nós vamos cuidar desse selvagem incivilizado!”. Toda a sequência é repleta de ironia. Os cidadãos de bem afirmam que Hex não está preparado para viver entre pessoas que obedecem a lei... enquanto se preparam para enforcá-lo sem julgamento!

Mas antes que os cidadãos de bem invadam o salão, Hex foge pelos fundos. Quando o vemos de novo, ele está tomando banho num rio quando é surpreendido por uma menina índia, a Pequena Corça, que pega seu revólver e o “Leva como prisioneiro” para a tribo. No meio do caminho, eles atravessam uma ponte que desaba é a vez do cowboy salvar a menina e levá-la para a aldeia. 

Um fato histórico aparece na história: cobertores contaminados com varíola foram usados como guerra biológica contra os índios. 


Nesse ponto, o roteirista John Albano traz um fato histórico real: Hex encontra a aldeia com vários guerreiros mortos, vítimas de varíola. Os homens brancos haviam dado cobertores contaminados como forma de exterminar os índios, como de fato aconteceu na história dos EUA. A Pequena Corça acaba também adoecendo e o anti-herói precisa encontrar um médico para ela.

Uma das sequências da história é exemplar ao mostrar o quanto essa série se diferenciava de outros gibis de faroeste: Jonah Hex avança atirando na direção dos homens brancos enquanto grita: “Vamo, bando de *%*! Heróis da civilização... vô dá um pouco de ação pra vocês!”.

Origens secretas - filme policial explora o universo dos quadrinhos

 


Um homem é encontrado morto numa espécie de academia clandestina. Ao investigar, descobrem que ele era um cientista magro que em poucos meses se transformou num monstro musculoso. E mais: sua pele se tornou cinza. Esse assassinato remete diretamente ao primeiro número do incrível Hulk em que o magrelo cientista Bruce Banner se torna no monstro cinza Hulk. Sim, cinza, pois era essa a cor do personagem no início.
Esse é o primeiro de uma série de assassinatos que deverá ser desvendado pela polícia de Madrid. Para ajudar a solucioná-los, um detetive aposentado indica para o policial que irá substitui-lo seu filho, dono de uma loja de quadrinhos. E é formada uma dupla totalmente disfuncional: de um lado o detetive David, que odeia super-heróis e acha que quadrinhos são para crianças. Do outro, o nerd Jorge Elias, uma enciclopédia sobre quadrinhos, que consegue perceber todas as pistas quadrinísticas deixadas pelo assassino que levarão aos próximos casos. Completa o trio a chefe da polícia, que faz cosplay nas horas vagas e muitas vezes aparece na cena do crime vestida de personagem de anime ou de quadrinhos.
A temática poderia ser abordada em tom dramático, como um Seven quadrinístico, mas a opção do diretor David Galán Galindo preferiu levar o filme "Origens secretas", lançado pela Netflix, na direção da comédia – com uma quantidade enorme de piadas e referências à cultura pop em cada sequência. Como não podiam mostrar os quadrinhos originais, por uma questão de direitos autorais, os produtores criaram algumas peças interessantes. Logo que entra pela primeira vez na loja de quadrinhos, o detetive se deparada com um item raro, o gibi que mostrava a luta de Muhammad Ali contra o Superman. Mas, em decorrência do já citado problema com direitos autorais, aparece um boxeador lutando contra um herói genérico chamado Zinco. O nome do boxeador? Neal O´Neil, uma referência a Neal Adams e Denny O´Neil, respectivamente desenhista e roteirista do gibi original.
A ênfase no humor e a decisão de fazer um filme que começa como policial e termina como super-heroiesco faz com que o filme peque na profundidade dos personagens. Mas é um bom filme, divertido, que irá alegrar a maioria dos fãs e tem a atração de tentar não só adivinhar quais serão os próximos crimes, mas perceber todas as referências.

Perry Rhodan – Agentes contra o império

 


Na série Perry Rhodan há livros fracos, livros razoáveis e livros empolgantes. Nessa última categoria se encontra o número 224, Agentes contra o império.

Escrito por Clark Darlton (um dos melhores autores da série), o livro é focado nos agentes terranos enviados para espionar os maahks, mas que foram clonados pelos alienígenas – e os clones enviados no lugar destes. A história gira em torno da tentativa de Atlan de provar que os agentes são na verdade a quinta coluna do inimigo.

É uma ótima história de suspense, que deixa o leitor no fio da navalha: os agentes infiltrados serão descobertos? Eles conseguirão cumprir sua missão cujo resultado será a destruição da humanidade? E qual é essa missão e como eles conseguirão cumpri-la?

Capa alemã. 


O único aspecto enervante do livro é a estupidez de Perry Rhodan, que mesmo com todas as pistas de que se tratam de traidores, continua acreditando que são os agentes enviados pela Terra. Nem mesmo quando se descobre que eles estão curados de uma doença incurável, e que deveria matá-los há semanas (razão pela qual foram escolhidos para a missão), Rhodan se convence. Parece que toda a inteligência que Rhodan havia demonstrado nos outros ciclos se desvanecera neste.

Se não bastasse todo o suspense durante a história, o livro termina com outro suspense, deixando o leitor curioso pelo volume seguinte. Quem dera todos os outros da série fossem assim.

O mistério dos signos

 

 

Em dezembro de 1990 eu já era roteirista de quadrinhos com trabalhos publicados. Tinha praticamente abandonado os gibis e lia principalmente graphic novels e minisséries. Foi quando saiu uma série Disney que me fez comprar e relembrar a infância, quando eu devorava gibis do Tio Patinhas. 
O mistério dos signos, lançado pela Abril em três volumes era uma história Disney totalmente atípica. A começar pela ênfase, que não era o humor, mas a aventura. Além disso, era uma história longa, no total quase 400 páginas, com uma trama bem amarrada e desenhos do meu artista Disney preferido, Massimo De Vita, cujo nome eu não conhecia, mas cujo traço eu reconheci assim que coloquei os olhos na primeira edição. 
O professor Zodíacus divide a pedra dos signos em doze partes. 


Não eram quadrinhos comuns. Aquilo parecia mais uma graphic novel. Na história, Mickey e Pateta voltam ao passado em uma pesquisa para o museu de Patópolis sobre o modo de vida dos primeiros colonos. Enquanto descansam num celeiro, são surpreendidos pela reunião de um grupo de místicos e seu líder, o Professor Zodíacus, que dá a cada um uma pedra e promete que quando elas forem reunidas, será possível prever o futuro. 
Voltando para o futuro, Mickey e Pateta decidem reunir as pedras para o museu. Enquanto isso, Tio Patinhas fica sabendo da pedra zodiacal e os dois grupos (um formado pelo Pateta e pelo Mickey e outro formado pelos patos) une forças para reunir as peças. Mas sempre é necessário haver um vilão, e Bafo de Onça e Mancha Negra resolvem se apoderar da pedra.
Bafo de Onça é o vilão da história. 


É o que chamo de roteiro redondo: há um MacGuffin (o objeto que que os personagens procuram) muito claro dividido em doze partes cada um delas ligada de alguma forma a algum símbolo do zodíaco. Assim, por exemplo, a pedra de escorpião é encontrada no vale dos escorpiões, a pedra de aquário dentro de um aquário etc.
Há episódios que puxam mais para o humor, outros mais para a aventura e outros para o policial. De todos, “Moda estelar”, correspondente ao signo de Virgem, é um dos melhores. 
O capítulo sobre o signo de virgem é o mais curioso. 


Tentando conseguir a pedra que se encontra com um estilista famoso, Donald é abduzido junto com ele por um planeta dominado por mulheres no qual os homens ficam em casa enquanto as mulheres trabalham. A ambientação permitiu que Massimo De Vita explorasse todo o seu pontecial. Na trama, todo ano é escolhida uma roupa para o marido da rainha, roupa que será usada por todos os homens do planeta. E como estão com faltas de ideia, sequestram o tal estilista.
O aviador cegueta é uma homenagem ao Mister No. 


Além de ter um roteiro redondo, Bruno Sarda incluiu diversas referências a astros de cinema, pintores, escultores, estilistas e até personagens de quadrinhos. 
À certa altura Mickey e Pateta preciam pegar um avião na Amazônia e o aviador é Mister Jô, uma bela homenagem ao personagem bonneliano Mister No. E, como sua contraparte, que vive se embedando, essse também tem um defeito para um aviador: é quase cego. 
Nem tudo é perfeito, claro. Como De Vita não conseguiria dar conta de uma história tão longa, à certa altura ele é substituído por Franco Valussi, que os editores consideravam o artista da Disney italiana mais próximo de De Vita. Não que ele a qualidade da arte caía muito, mas é difícil ficar à altura do mestre. O mistério dos signos é até hoje a mais longa história Disney já publicada no mundo e uma das melhores de todos os tempos. Na época foram três edições da Abril, em papel gouchê. Em 2013 a editora republicou a história, agora reunida em um único volume em capa dura. Coisa de colecionador.

sexta-feira, setembro 12, 2025

A vênus de Milo

 


A vênus de Milo é uma das esculturas gregas mais famosas de todos os tempos. É também uma das poucas que restaram. A maioria das estátuas gregas existentes em museus são cópias feitas por romanos para adornar casas dos ricos (naquela época parecer grego era a coisa mais chique que você poderia almejar).

A estátua foi descoberta por acaso por Olivier Voutier, um oficial da marinha francesa. De serviço na ilha de Milo, ele resolveu descer do navio e procurar restos arqueológicos. Deu de cara com um agricultor, Yorgos Kentrotas, que procurava pedras para reforçar o muro de sua fazenda. O agricultor tinha encontrado a estátua e estava enterrando-a de novo, já que não servia para a muro. O que ele descobrira era apenas a parte superior do conjunto. Olivier conseguiu convencer o agricultor a procurarem a parte inferior e encontraram pouco depois.

Voutier estava convencido de que estava diante de uma obra-prima e conseguiu convencer as autoridades francesas e comprar a obra do fazendeiro por 700 francos.

A estátua foi recebido com festa no Museu do Louvre. Afinal, o Museu Britânico tinha o Mármores de Elgin do Partenon e o Louvre não tinha nenhuma obra legitimanete grega. Eles chegaram a apresentar a estátua como sendo obra de Fídias ou Praxiteles, dois dos maiores escultores gregos da era clássica. Hoje tudo leva a crer que o verdadeiro autor seja o desconhecido Alexandro, filho de Menides e teria sido feita na era helenística, ou seja, muito mais recente.

Mas a propaganda deu certo e logo a Vênus se tornou uma das obras mais populares do Louvre a ponto de pessoas se aglomerarem ao redor dela da mesma forma que se aglomeram ao redor da Monalisa (Foi muito difícil conseguir um espaço  no meio da multidão para conseguir tirar essa foto).  

Não se sabe exatamente quem está representado na estátua, mas sua beleza e seu rosto impassível levam a crer que se trata de uma deusa, provavelmente Vênus, ou Afrodite.

A Vênus de Milo se tornou também uma das obras mais homenageadas e reproduzidas de todos os tempos.

Batman e Sargento Rock

 


No número 84 da revista The Brave And The Bold, o cavaleiro das trevas se encontrou com o herói da II Guerra Mundial, Sargento Rock.

Encontro de personagens de eras diferentes podem parecer absurdas, mas nas mãos de roteiristas competentes, podem gerar histórias memoráveis, como o encontro do Homem-aranha com Sonja na revista Marvel Team-Up 79, com roteiro de Chris Claremont e desenhos de John Byrne. A dupla conseguiu explicar perfeitamente esse encontro inusitado.

Acontece que Bob Haney, o roteirista de The Brave and the bold, não era Chris Claremont e, apesar do desenho inspirado de Neal Adams, o resultado é sofrível.

A história começa com uma sequência confusa, em que o leitor não consegue distinguir passado de presente. 

A história começa em 1969, no Museu de Gotham. Um homem que parece ser o diretor do Museu mostra para Bruce Wayne uma estátua: “O arcanjo Gabriel, que na Segunda Guerra Mundial, foi contrabandeado da frança ocupada pelos nazistas para ficar seguro aqui. Finalmente alguém ligou reclamando a estátua”. Mas Bruce Wayne esclarece que o verdadeiro arcanjo nunca saiu da frança, o que significa que a estátua é falsa.

Tudo bem que Batman é o maior detetive do mundo, mas ele saber mais sobre os objetos de arte do que um diretor de museu, que teoricamente é alguém especializado no assunto? Parece que Bruce Wayne tirou essa conclusão da mesma forma que um mágico tira um coelho da cartola.

Uma sequência de ação totalmente desnecessária. 


Mas calma, leitor, isso é só o início. Bob Haney ainda vai aprontar muita confusão.

Logo depois os dois são atacados por um alemão, que atira no diretor do museu e ameaça Wayne. Logo depois, na mesma página, o alemão desaparece e alguém chamado Digby dá um soco em Bruce Wayne. Isso é um flash back, mas não há qualquer indicação disso e, como a sequência começa no meio da ação,a tendência do leitor é achar que se trata de uma continuação dos fatos mostrados anterioremente. Esse flash back mostra Bruce Wayne em Londres, na época da II Guerra Mundial, exatamente com a mesma cara da sequência do presente – ou seja, ele não envelheceu nada em quase 25 anos!

Bruce Wayne é incubido pelo governo inglês de ir à França ocupada descobrir um plano secreto dos alemães para parar a invasão da normandia. O playboy vai no mesmo avião que a companhia Moleza, do sargento rock, numa sequência de ação totalmente desnecessária, em que ele pula de uma moto diretamente na porta do avião e é agarrado pelo sargento.

Bruce Wayne descobre o plano dos nazistas: dedução ou super-poderes? 


Na França, Bruce Wayne entra num castelo ocupado pelos nazistas e descobre que o plano dos mesmos tem algo a ver com garrafas de vinho. Descendo à adega, ele percebe que as garrafas estão vazias. Mas olhando bem ele descobre que na verdade elas estão cheias de gás dos nervos!

Mais uma vez o maior detetive do mundo faz suas deduções da mesma forma que um mágico tirando um coelho de uma cartola. Como ele chegou à conclusão de que as garrafas estão cheias de gás dos nervos sem sequer analisar o conteúdo? Ele tem algum poder sobrenatural que faz com que seus olhos consigam analisar moléculas? Bob Haney diria: “não importa!”.

Para piorar, quando a história volta ao presente, Sargento Rock aparece do nada para salvar Bruce Wayne (o que já é um tremendo deus ex machina) e ele está envelhecido! O tempo passou para o Sargento Rock, mas não para Wayne?

Neal Adams imita o estilo de Joe Kubert. 


Bob Haney coloca o batman para narrar a história, mas isso se torna totalmente desnecessário, pois a narração sequer ajudar o leitor a compreender essa história extremamente confusa.

No final, a HQ vale mesmo pelo desenho de Neal Adams, que, além de dar o seu show habitual, ainda imita o estilo de Joe Kubert nas sequências em que aparece a companhia moleza (Kubert foi o desenhista oficial do Sargento Rock por anos).