Chris Natal desencarnou ontem, dia 26 de dezembro, na UTI de um hospital de Goiânia. Seu corpo será velado e enterrado no Cemitério Jardim da Colina, em São Bernardo do Campo.
Chris foi professor e coordenador de curso de jornalismo em uma faculdade em Macapá. Era também um pesquisador, com atuação importante nas áreas de quadrinhos e propaganda subliminar.
Nem sempre concordei com suas opiniões e ações, mas ele sempre se revelou um amigo inteligente, divertido e fiel. Era alguém com o qual se podia conversar sobre qualquer assunto.
Chris era um caso clássico de superdotado, com todas as qualidades e defeitos dos superdotados: a inteligência ferina, o raciocínio rápido, o vício em informação, mas também a arrogância intelectual que ele não fazia a menor questão de disfarçar. Chris escrevia com rádio e televisão ligados, pois dizia que seu cérebro não se contentava com um só nível de informação.
Chris é o primeiro amigo, de minha geração, que morre, e morreu de forma boba, sem sentido. Logo ele, que parecia um touro, que nunca ficou doente enquanto eu o conheci, que dizia ter estômago de avestruz... Chris parecia invencível e talvez ele acreditasse mesmo ser invencível, tal a forma despreocupada e intensa com que vivia cada momento.
Ou talvez fosse o contrário: lá no fundo, talvez ele soubesse que ia morrer jovem e fazia questão de viver intensamente cada minuto, como quem sabe que não vai chegar ao ponto de chegada e corre o mais que pode para aproveitar cada metro do caminho. Talvez por saber que ficaria entre nós pouco tempo, ele fazia questão de ser notado, para que as pessoas sentissem falta dele...
O conselho “É preferível viver mil anos a dez que dez anos a mil” parece ter sido o lema de Chris. Ele devorava filmes e livros como quem sabe que tem pouco tempo e quer aprender tudo que pode no tempo que resta... mas também vivia cada emoção, cada sensação com a mesma gula. Bastava ligar “Chris, vamos pegar estrada...” e lá estava ele, na porta de nossa casa, pronto para viagem. Fizemos juntos uma viagem inesquecível para Pontal das Pedras e aproveitamos cada momento para conversar. Por insistência do Crhis, pegamos um barco e fomos parar no cenário mais bonito que já vi na minha vida. Naquela viagem, eu na proa e ele na popa, tiramos fotos um do outro, cada um tentando tirar a melhor foto, numa divertida disputa em celulose.
A mesma fome que ele sentia por informação, ele sentia por comida (uma outra forma de chamar a informação gustativa) e Chris era o melhor público que um cozinheiro poderia querer. Ao comer minha feijoada, ele afirmava categoricamente que era a melhor feijoada que ele já tinha provado em toda a sua vida, o mesmo para a pizza ou a lazanha... nesses momentos de cortesia culinária ele não se parecia nem um pouco com o Chris polêmico, que gostava de discutir e ostentava com orgulho as acusações que os adversários lhe faziam (quando o Bonfin Salgado o chamou de Canguru Australiano, ele fez questão de fazer para si uma camisa com essa expressão abaixo da imagem de um canguru com luvas de boxe).
Chris era um céptico, então ele riria do que vou escrever, mas espero sinceramente que seu espírito encontre a paz e a harmonia e que sua curta estada entre nós tenha sido mais um passo em sua evolução intelectual e espiritual. E, Chris, esteja certo de alguém não morre enquanto viver nas lembranças dos amigos. Assim, você estará para sempre em nossas lembranças.
Chris deixa uma viúva, Lili, e dois filhos, Matheus e Sofia.
3 comentários:
Querido Ivan, sinto muito. Não conheci o profesor Cris Natal, mas acompanhei algumas das polêmicas com ele envolvido.
No caso do Chris, segundo vc, o lema seria "é preferível viver dez anos a mil que mil anos a dez". Né, não? Meus sentimentos. Creio mesmo que só morre quem nunca viveu. Luz para o Chris.
Elias Caf.
Chris e eu fomos bons amigos durante a faculdade de jornalismo, em São Bernardo do Campo, entre 1994 e 1997. Freqüentei bastante o apartamento de seus pais no Baeta Neves, conheci a Lili (que fez o meu primeiro mapa astral) e acompanhei a gravidez e os primeiros meses de vida do Matheus. Nos falamos pela última vez há cerca de seis anos (ele me escreveu quando soube que eu estava trabalhando para a Folha de S. Paulo). Só hoje, quase um ano depois, totalmente por acaso, fiquei sabendo de sua morte, por meio deste texto. Estou chocado e muito triste com esta tragédia inesperada. Irei me lembrar dele com carinho, foi um bom amigo. Agradeço seu relato e deixo um abraço.
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