quarta-feira, março 22, 2006

Preconceito

A palavra preconceito já diz tudo. Pré-conceito, ou seja, conceito estabelecido antes de ter contato com a coisa. Quem tem preconceito contra negros, por exemplo, não precisa conhecer os negros. Aliás, quando ele conhece um negro, é muito provável que sua idéia sobre o assunto mude.Um preconceito que vi muito foi contra os quadrinhos. Muita gente que nunca tinha lido quadrinhos, ou tinha lido só Turma da Mônica, fazia questão de mostrar suas ideais pré-concebidas: quadrinhos é subliteratura, coisa de criança, quadrinho nunca vai chegar a ser arte, etc...Muitas dessas pessoas eu desafiava a ler grandes obras como Watchmen (Alan Moore e Dave Gibbons), Companheiros do Crepúsculo (Bourgeon) ou Um contrato com Deus (Will Eisner). Algumas aceitavam e acabavam mudando de idéia, mas muitos simplesmente se recusavam a sequer dar uma olhada nessas revistas.Eu tinha grande preconceito contra novelas, achava que era o ópio do povo. Isso até assistir Pantanal. A primeira vez que ouvi falar de grilagem de terras não foi no Jornal Nacional, foi em Pantanal. Depois veio Renascer e aí eu mudei radicalmente a minha idéia de que era possível fazer uma boa novela.Eu tinha grande preconceito contra quadrinho italiano, o famoso fummetti. Achava que era leitura de vigia noturno. Um dia escrevi um texto falando sobre a importância do roteirista pesquisar antes de escrever uma história e o amigo Antonio Eder me trouxe uma edição de Ken Parker para mostrar como o roteirista tinha pesquisado bem sobre os esquimós para escrever a história. Com muita má vontade, eu concordei em ler um número. No dia seguinte, pedi para o Antonio para ler o número seguinte e logo eu já tinha emprestado toda a coleção (depois, quando o Antonio conseguiu uma outra coleção, completa e em melhor estado, eu comprei toda a coleção antiga).Mas ninguém é imune ao preconceito. Quando li O Código da Vinci, achei bem legal os enigmas lingüísticos e matemáticos do livro. Eles são certamente o ponto alto da obra. Como sei que o Antonio também gosta desse tipo de curiosidade, indiquei a ele, mas ele se recusou, pois já tinha tido informações negativas sobre o autor.Ou seja, ele estabeleceu um pré-conceito sobre o livro a partir do que lera sobre o autor. E, no caso do Antonio, tenho certeza de que pesou também o fato do Código ser um sucesso. Da mesma forma que muitos pensam "Se é um sucesso, deve ser bom", o Antonio pensou "Se é um sucesso, deve ser uma porcaria".Tanto um quanto outro são pré-conceitos.

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