sexta-feira, abril 28, 2006

Google: utopia ou distopia?

Eu sempre tive uma relação de amor e ódio com a internet. Confesso que sou viciado em e-mails, um vício derivado do meu vício em informação. Embora eu já tenha blog há três anos e colabore com diversos sites há pelo menos seis anos, sou meio burro para mexer com algumas coisas e me atrapalho na internet com coisas básicas.
Para piorar, a internet banda larga ainda não chegou em Macapá, de modo que a minha conexão ainda funciona a vapor e tenho que alimentar com carvão para pegar no tranco. Xingamentos e tapas na CPU, se não ajudam a melhorar a conexão, pelo menos descarregam um pouco a tensão...
Assim, para alguém que tem uma conexão péssima, que adora internet, mas também não sabe mexer nela, o Google é uma mão na roda.
Lembro que antes os buscadores chegavam a cobrar para quem quisesse inscrever seus sites neles. Na época eu tinha um site chamado Idéias de Jeca-tatu e vivia recebendo generosas propostas de buscadores dos quais eu nunca tinha ouvido falar que se apressavam em me oferecer o céu se eu concordasse em pagar uma quantia para aparecer em seus cadastros.
Se do lado de quem tinha site a situação não era boa, da parte de quem procurava informações era pior ainda. A busca era lenta e terrivelmente desorganizada. Com a conexão lenta e pagando por cada pulso, eu me exasperava ao procurar por um assunto e me deparar com dezenas de páginas que não tinham absolutamente nada a ver com o que eu estava procurando. Se, por exemplo, eu digitava Edgar Alan Poe, vinham todos os Edgars, todos os Alans e todos os Poe. E geralmente o que primeiro aparecia era o site do senhor Alan Silveira ou algo assim. Claro que só vinham os resultados dos sites que estavam cadastrados no dito buscador...
Lembro que o Altavista já foi uma tremenda revolução, pois permitia decidir em que língua eu queria fazer a pesquisa. Mas ainda assim, os buscadores eram lentos e imprecisos, pouco práticos.
Nesse sentido, o Google foi uma revolução absoluta. Quem me indicou foi um professor universitário, Livre-docente em sua área, ele festejou o Google como melhor buscador já existente e me convidava a fazer uma comparação. Digitei uma palavra qualquer em vários buscadores, entre eles o Google. A diferença era gritante.
Além de ser rápido, de ter uma página que carregava imediatamente, o Google ainda oferecia várias opções, como por exemplo, buscar imagens, algo fenomenal quando estava preparando uma apresentação, por exemplo.
Certa vez me ofereceram uma disciplina tão nova que simplesmente não havia bibliografia publicada em português. O que me salvou foi o Google. Achei artigos e papers de profesores de diversos países sobre o assunto e ministrei a disciplina toda a partir desses textos. Só seis meses depois é que começaram a sair os primeiros livros sobre o tema, mas ele já estava lá no Google muito antes.
Nesse sentido, uma grande inovação foi o surgimento do Google acadêmico, que permite ter acesso diretamente a textos sérios, de congressos e revistas científicas sobre as mais diversas áreas.
O Google passou a ser, para mim, também um parâmetro. Na época em que eu era coordenador de pós-graduação em uma faculdade, antes de me decidir por um professor novo, eu sempre fazia uma busca por seu nome na internet, não só para saber quantas pessoas o citavam, mas também para ter uma idéia de suas publicações. Quando eu não encontrava nenhuma referência, ficava com a pulga atrás da orelha. Se a publicação é um requisito básico para um professor de graduação, é muito mais para um docente de pós-graduação. Não se admite que um docente de especialização seja um mero reprodutor de conhecimentos.
Uma crítica que tenho ouvido é quanto à facilidade de clonar textos, mas se por um lado o Google ajudou alunos a descobrirem textos a serem plagiados, ele, da mesma forma, ajudou os professores a identificarem os plágios. Com sua forma rápida e precisa de busca, ficou cada vez mais fácil identificar exemplos de clonagem.
Também usei muito o Google para rastrear meu nome, tanto como Ivan Carlo, como Gian Danton. Também dessa vez, não era apenas para saber quantas pessoas se referiam a mim, mas para pegar engraçadinhos que costumavam juntar meus textos e vende-los em CD no Mercado Livre sem a minha autorização.
Mas, se por um lado eu sempre me encantei e usei muito o Google, por outro lado, ele sempre foi um motivo de preocupação. Sua superioridade técnica sobre os outros buscadores é tão grande que ele simplesmente eliminou a concorrência. Quem não tem concorrência, faz o que quer.
Além disso, o Google vai alastrando sua influência sobre todos os aspectos da vida. O G-mail, o Orkut e o próprio buscador permitem à empresa descobrir quem é você, o que pretende, o que gosta e usa isso para oferecer a você produtos que podem ser comprados diretamente pela internet. Tirando-se o aspecto ético envolvido, há o grande risco de tal tecnologia estar a serviço de um estado totalitário. Isso seria a concretização dos medos de 1984, de George Orwell, em que o Estado domina completamente todos os aspectos da vida do indivíduo e pune até mesmo crimes de pensamento.
O Google sempre procurou afastar de si essa visão distópica, mas os recentes acordos da empresa – como o que foi realizado na China, em que a empresa concordou em impedir a busca por palavras como Direitos Humanos, deixam uma nuvem negra de dúvida sobre o futuro que o Google nos reserva.

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