sábado, julho 01, 2006

Bienal

Bienal
Zeca Baleiro
Desmaterializando a obra de arte do fim do milênio
Faço um quadro com moléculas de hidrogênio
Fios de pentelho de um velho armênio
Cuspe de mosca, pão dormido, asa de barata torta
Teu conceito parece, à primeira vista,
Um barrococó figurativo neo-expressionista
Com pitadas de arte nouveau pós-surrealista
Ao cabo da revalorização da natureza morta
Minha mãe certa vez disse-me um dia,
Vendo minha obra exposta na galeria,
"Meu filho, isso é mais estranho que o cu da gia
E muito mais feio que um hipopótamo insone"
Pra entender um trabalho tão moderno
É preciso ler o segundo caderno,
Calcular o produto bruto interno,
Multiplicar pelo valor das contas de água, luz e telefone,
Rodopiando na fúria do ciclone,
Reinvento o céu e o inferno
Minha mãe não entendeu o subtexto
Da arte desmaterializada no presente contexto
Reciclando o lixo lá do cesto
Chego a um resultado estético bacana
Com a graça de Deus e Basquiá
Nova York, me espere que eu vou já
Picharei com dendê de vatapá
Uma psicodélica baiana
Misturarei anáguas de viúva
Com tampinhas de pepsi e fanta uva
Um penico com água da última chuva,
Ampolas de injeção de penicilina
Desmaterializando a matéria
Com a arte pulsando na artéria
Boto fogo no gelo da Sibéria
Faço até cair neve em Teresina
Com o clarão do raio da siribrina
Desintegro o poder da bactéria
Com o clarão do raio da siribrina
Desintegro o poder da bactéria

Essa patifaria intelectual a que se refere Gabriel Periseé não ocorre apenas nas discussões, mas também na arte. Quando fui jornalista cultural em Curitiba conheci muita gente que usava a modalidade instalação para esconder sua própria falta de talento. Quando eu os entrevistava, as falas deles eram absolutamente incompreensíveis e não faziam sentido algum. Lembro de um artista que fez uma instalação colocando 100 copos descartáveis cheios de água no chão do Museu. Só de sarro, perguntei a ele o que, para ele, a água simbolizava. A resposta foi mais ou menos assim: "A água é um substrato autêntico dos arquétipos arstisticos no contexto pós-moderno". Sinceramente, depois de Duchamp, qualquer instalação é pura redundância.

1 comentário:

Anónimo disse...

Olá Ivan

Achei seu blog em uma busca por informações sobre essa relação que alguns artistas têm com o espetáculo, não porque isso seja relevante para a arte deles, mas só como forma de "aparecer". Talvez seja esse o tema da minha monografia de especialização. Como a idéia é limitar o estudo a Curitiba, seu post foi preciosíssimo. Você poderia me contar mais sobre a sua experiência como jornalista cultural aqui na cidade? Meu e-mail é adritulio@hotmail.com
Obrigada!