sexta-feira, setembro 22, 2006
Auto-biografia musical
Até os 14 anos mais ou menos eu costumava dizer que não gostava de música. As referências que eu tinha a respeito eram os bregas que se ouvia em casa... e Erasmo Carlos, nos dias muito eruditos.
Acho que tinha também um disco do Roberto Carlos, do início da fase decandente.
Então eu não gostava de música. Até que um dia estava na casa de um amigo e ele me chamou no corredor para ouvir uma música que tocava no rádio de sua irmã: era Eduardo e Mônica, do Legião Urbana. A canção me arrebatou como se eu estivesse passando por um êxtase estético.
Eu nunca havia ouvido algo que falasse de maneira tão singela e inteligente de do que sentíamos. Nós éramos como o Eduardo, tão indeciso sobre a vida e sobre todas as outras coisas. Nós costumávamos cantar Eduardo e Mônica na frente do colégio, antes da campainha tocar.
Com o tempo fui conhecendo outras músicas do Legião Urbana e aprendendo que as músicas podiam expressar o que sentíamos, fosse alegria ou tristeza.
Um dia minha namorada (e atual esposa) gravou para mim uma fita com um mix de músicas que achava legais. No final da fita havia três músicas de Raul Seixas. O restante, daquele lado, era Milton Nascimento. Devolvi a fita e pedi para gravar o lado todo com o Raulzito. Eu o descobrira algum tempo antes, numa oficina de bicicletas. O pneu furou e, sem ter o que fazer, fiquei lá, ouvindo o que tocava no som da oficina. Era justamente Ouro de Tolo. Fiquei impressionado ao perceber que, apesar de muito popular, a múica tinha uma letra genial, uma bela reflexão filosófica sobre o sentido da vida. A letra era a personificação do que deveria ser a atitude de um artista:
Eu devia estar contente pelo senhor ter me concedido
Muito tempo depois, quando li O Mundo de Sofia, lembrei de Rauzito ao ler a descrição do maravilhamento e inquietude diante do mundo que deveriam caracterizar o filosófo. Estava tudo ali, em Ouro de Tolo.
Raul Seixas me mostrou que músicas podiam falar de qualquer assunto, de filosofia à política e ainda assim serem populares. Mostrou também que a popularidade não significa falta de qualidade.
Aos 19 anos eu já conhecia algo de música, mas ainda não havia sido apresentado aos Beatles. Um dia uma professora de redação jornalística (ela sempre reclamava que meus textos eram muito pessoais) me convidou para ir na casa dela. Chegando lá me deparei com uma enorme coleção de CDs e LPs. Eu nunca tinha visto um CD. "Escolhe um disco", ela encorajou. Escolhi Sgt Peppers, dos Beatles, até hoje o meu disco predileto do quarteto de Liverpoll.
Nunca poderia imaginar o êxatase que me arrebatou ao ouvir os acordes. Era como se, ao embalo de Lucy in The Sky With Diamonds, eu viajasse nos acordes. Legião Urbana e Raul Seixas eram bons, mas Beatles eram divindades que compunham músicas com poder sobrenatural.
Lembro que pouco tempo depois conversei com um amigo sobre o assunto e ele riu: "Agora que você descobriu os Beatles?!". Antes tarde do que nunca.
Juntei o pouco dinheirinho que tinha e comprei, em loja, os três grandes discos do quarteto: Sgt. Peppers, Revolver e Magical Mistery Tour em fita cassete (sim, naquela época vendia-se discos em fitas cassete).
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4 comentários:
nussaaaaaaa...ivannn...adorei esse post...me identifiquei muito com tua historia no mundo da musica...axu pq foi quase igual a minha...tbm ficava no corredor do colegium cantando nao soh legiao urbana mas tbm garotos podres e tals!!
egua!!
ahh..lembra q foi cuntigo e a tia beth q eu começei a escutar Ira!
Nossa!
A primeira coisa dos Beatles que você conheceu foi o Sgt. Peppers? Isso me pareceu que você simplesmente caiu de cabeça num mundo psicoélico logo de primeira.
Bem, sorte sua! hehehehehehehhehehe
Ah!
E só por sua causa ou procurar ouvir o Revolver e o MMT. Acho que o Abey Road deveria estar na sua lista, mas enfim... Gosto é gosto.
Pato Fu, Legião, Beatles... ótimo gosto musical! Sem falar no Raulzito. Bom final de semana.
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